PARTE 2

ELLA

Olá.

Tenho 27 anos, sou solteira e moro com aquela que insiste em se chamar de minha mãe.

Minha história de vida não tem nada de romântica.

Minha mãe era casada com meu pai, mas assim que nasci… ele desapareceu.

Não sei exatamente o que aconteceu e ninguém nunca falou sobre isso.

O que sei é que, pouco depois, ela usou o próprio rosto para garantir outra aliança, pois ela é linda. E, sim, muito rápida.

Logo arranjou outro homem, e logo engravidou de novo.

Dessa vez, para segurá-lo.

Ele não queria ficar. Não por minha causa e eu? Sou o seu fardo.

Desde então, vivo em um inferno que chamam de “família”.

Fui criada com a obrigação de aceitar tudo em silêncio.

Minha mãe é loira. Minha irmã também, sou a diferente. Acredito que puxei ao meu pai, mesmo sem nunca o ter visto.

Às vezes, me pergunto se algum traço meu incomoda ela por lembrar de algo que ela preferia esquecer.

Infelizmente, vivemos sob a aparência impecável da sociedade sueca, mas conheço o que há por trás das cortinas.

Lutei e luto pelo meu espaço todos os dias e agora, adulta, não permito mais que me humilhem.

Sou modelo, não internacional, sinceramente não me importo.

A fama nunca foi o objetivo, o que eu quero mesmo... é liberdade.

Sair dessa casa... Respirar outra vida, nada é tão simples.

Por conta do trabalho do meu padrasto, não posso morar sozinha. Então fizemos um trato silencioso:

Eles param de me humilhar. Eu os suporto. Não é convivência. É sobrevivência.

Mas o que me dói de verdade… É saber que minha própria mãe me odeia e eu nem sei por quê.

Nunca houve amor, carinho e nunca houve explicação. Só distância, olhares cortantes e a sensação constante de ser um erro que ela nunca quis encarar.

Lógico que não me apego ao sentimento deles.

Não merecem.

Não me pertencem.

Mas, às vezes…

Só às vezes…

A ausência pesa mais do que qualquer ofensa.

Tenho uma grande amiga. Asha, temos a mesma idade, também modelo, mas com uma energia completamente diferente da minha.

Ela é indiana, vive aqui na Suécia, e é a única pessoa com quem posso ser eu mesma, sem máscaras, sem medo.

Sonho em dividir uma casa com ela. Morar juntas. Rir até tarde. Dormir ouvindo música no sofá. essa liberdade simples… Mas para mim, seria tudo.

Como eu, Asha carrega as tradições do país dela, ao contrário de mim, ela se recusa a segui-las.

Os pais vivem ligando, pressionando, cobrando um casamento arranjado, mas ela foge disso como quem corre de uma armadilha.

E aqui…Bem, aqui ela se diverte. Bastante, se é que vocês me entendem.

Asha vive como se o mundo não fosse feito para prender ninguém.

E eu admiro isso.

Mesmo que às vezes, esconda o quanto isso me dói, porque eu continuo presa, no teto da casa.

Estou jogada no sofá, da sala onde acabamos de fazer uma sessão de fotos. A maquiagem ainda borrada. Os olhos fixos no teto, sem pressa de levantar. Asha entra dançando, descalça, com um copo de chá quente na mão e um turbante de cetim na cabeça.

Asha: Amiga, olha o que encontrei! Me deu vontade de fazer uma dança sensual... como só eu sei fazer.

Mas aqui não tem ninguém que me interesse. Que desperdício de charme!

Ella (rindo, sem se mexer): Sua doidinha... vem, vamos nos preparar para próxima sessão.

Asha: Eu não vejo a hora de ser famosa. Sério. A gente linda, poderosa... ganhando o mundo com a nossa beleza. Imagina só: Paris, Milão, Dubai...

Ella: Sinceramente? Eu só queria ser livre. Como você. Mas para isso... acho que eu teria que sair desse país.

Vejo a Asha para de dançar. Senta ao lado da amiga no sofá. Olha para ela com carinho, mas sem drama.

Asha: Ei... a liberdade não tá num país, está na coragem de quebrar as regras.

E, pelo que eu vejo, você nunca irá quebrar.

Ella: Por que você me conhece tanto?

Asha: Porque sou sua alma gêmea, ué.

Você é tão forte… Mas também tão fraca.

Forte quando aguenta tudo calada. Fraca quando aceita demais por medo de perder o pouco que tem.

Abaixo os meus olhos. Silêncio entre as duas. Mas não é desconforto. É a nossa intimidade crua.

Asha: Mas sabe o que é pior? Você carrega uma força que o mundo ainda não viu.

E quando você decidir usar… Espero não ser tarde demais.

Mas, mudando de assunto...Você sabe que temos uma festa hoje à noite, né? Trouxe suas coisas?

Ella: Festa? Mas que festa?

Asha: A festa do império do grande Gustav!

Você sabe, aquela que todo mundo quer ir, a agência selecionou algumas modelos para fazer figuração de alto nível, exibir a beleza, causar impacto, virar tendência...

E adivinha quem foi selecionada? Nós!

Ella: Aff... Que ódio.

Com toda a certeza aquela infeliz da Lilly pegou meu convite. Ela vive fuçando nas minhas coisas!

Asha: Que merda... E o pior é que não dá para entrar sem convite. Pera aí, deixa eu ver se consigo mais um.

Pego o celular e começo a digitar freneticamente. Não é justo a Ella ficar de fora, ela precisa tanto relaxar.

Asha: Droga, amiga…Estão contados. Não tem como conseguir outro agora.

Ella: Tudo bem. Você vai se divertir, como só você sabe fazer.

Eu fico em casa, quero descansar, essa semana vai ser corrida para nós.

Asha: Não acho justo. Mesmo. Mas fazer o quê...

Então, vou aprontar com aquela vaga loira mirim... Enviada do capeta.

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Comments

Leitora compulsiva

Leitora compulsiva

caraca que barra que ela vive, aqui na torcida pra vê ela se livrando dessas cobras 🐍 🐍

2025-07-29

1

Dulce Gama

Dulce Gama

A história mal começou já está arrasando parabéns 👍👍👍👍👍❤️❤️❤️❤️❤️🎁🎁🎁🎁🎁🌹🌹🌹🌹🌹

2025-07-27

1

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