CAPÍTULO 3

21 anos KATRINA

24 anos KETHELYN MORETTI.

30 anos BERNARDO CAPORELLOS

65 anos SENHOR CAPORELLOS.

60 anos MALDONADO MORETTI

50 anos JANAINA MORETTI.

Capítulo 3 – A Bastarda no Palácio do Diabo

O dinheiro ainda estava quente em sua mão quando Katrina cruzou os limites da vila de trabalhadores e seguiu pela estrada de pedras que serpenteava entre os cafezais da fazenda Pérola Negra. O sol dourado da Toscana caía devagar, tingindo o céu com tons de carmim e âmbar. No horizonte, como uma fera adormecida, a mansão dos Caporello se impunha entre ciprestes esguios e parreiras centenárias. Aquela seria sua arena.

O envelope pardo que o FBI deixara com ela continha cinco notas de cem euros e uma promessa não escrita de que, se tudo desse certo, ela teria mais. Mas para Katrina, aquilo não era sobre dinheiro. Era sobre guerra. Era sobre vingança.

Com passos firmes, desceu até a pequena cidade mais próxima. Precisava comprar roupas, maquiagem, um disfarce perfeito para aquela noite. Uma das condições do acordo com os federais era que ela entrasse como uma convidada rica, vestida de gala, com joias falsas e um sorriso de porcelana. Mas Katrina sabia que isso era suicídio. Gente rica é investigada. Dançarinas são invisíveis.

Na praça central, ao lado da igreja de pedra, encontrou o que procurava: Giuseppe, o velho cafetão local, que também trabalhava como intermediário de eventos privados da elite suja. Era ele quem providenciava mulheres para festas, casamentos, despedidas de solteiro... e orgias mascaradas.

— Estou procurando trabalho, senhor Giuseppe — disse ela, com o véu da humildade sobre os olhos.

O velho a olhou com desconfiança. Estava de boina, paletó de linho claro e camisa aberta no peito. Fumava um cigarro torto, pendurado no canto da boca.

— Você não parece uma dançarina. Parece uma camponesa.

— Posso ser o que for preciso. Ouvi dizer que os Caporello precisam de mulheres para esta noite.

Ele soltou uma risada seca, quase sem dentes.

— Uma das minhas meninas ficou doente. O filho do velho Caporello quer uma última noite de libertinagem. Vai ter dança do ventre, vinho e carne assada até o teto. Preciso de alguém pra servir bebida e sorrir. Cinquenta euros por isso.

Katrina fingiu pensar. Por dentro, gritava de vitória.

— Aceito.

— Se o Caporello te escolher... bom, você vai ganhar muito mais. — Ele piscou, e Katrina respondeu com um sorriso venenoso.

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Naquela tarde, Katrina correu de loja em loja. Comprou uma saia longa e fluida de seda vermelha, um top com bordados dourados, um cinto de moedas que tilintavam quando ela se movia. Escolheu brincos compridos, maquiagem marcante e um perfume doce, enjoativo, como os que as dançarinas costumavam usar. Queria ser desejável, mas não imponente. Queria ser uma tentação acessível.

Ao cair da noite, embarcou com outras cinco mulheres numa van que Giuseppe providenciara. No banco ao lado, uma cigana eslava ajeitava o véu no rosto. Outra jovem, claramente veneziana, mascava chiclete e revisava batons.

Katrina manteve-se calada, respirando fundo. Seu plano já estava em andamento. O FBI nem desconfiava da jogada que ela preparava: não seria apenas uma informante. Seria o veneno servindo vinho na copa do rei.

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A mansão dos Caporello estava iluminada como um templo pagão. Fachos de luz dourada cortavam o jardim, onde fontes antigas e estátuas de mármore contrastavam com o som abafado da música vinda de dentro. Homens engravatados riam alto nos corredores. Seguranças armados observavam tudo com olhos de águia.

Assim que desceram da van, foram levadas a uma sala lateral, onde receberam instruções. Nada de falar com convidados. Nada de levantar a voz. Nada de se aproximar dos donos da casa a menos que fossem chamadas. Katrina ouvia, mas já sabia: faria exatamente o contrário.

Logo após se trocarem, cada mulher recebeu uma bandeja com taças e uma garrafa de vinho. Katrina ajeitou o véu, que cobria parte de seu rosto, deixando os olhos e a boca à mostra. Seus olhos queimavam.

Entrou no salão principal com a postura de uma serva. Mas em seu peito, o coração batia como o de uma rainha.

Bernardo Caporello estava sentado ao fundo, em um trono de couro escuro ladeado por dois leões de bronze. Alto, forte, com os cabelos penteados para trás e um olhar de pedra. Usava um terno preto sob medida e uma rosa presa à lapela. À sua direita, seu pai — o velho Capo — sorria entre taças e charutos, satisfeito.

O velho sussurrava algo no ouvido do filho, e Bernardo mantinha-se imóvel. Observava as mulheres com tédio e frieza.

Mas quando Katrina entrou, ele moveu os olhos. Rápido. Quase imperceptível. Mas ela viu. E aquilo lhe deu força.

Circulou entre os convidados, servindo bebida, abaixando a cabeça, fingindo submissão. Mas cada passo seu era calculado. Cada curva da cintura, cada movimento de quadril, cada sorriso contido era um golpe.

Até que, em determinado momento, sentiu o toque no ombro.

— Você. — A voz era grave, profunda.

Virou-se devagar. Bernardo a olhava de pé, com a taça vazia.

— Sirva-me. — disse.

Katrina serviu. Sem tremer. Com calma.

— Qual é o seu nome? — perguntou ele.

— Leila, senhor. — respondeu com o nome que escolhera para a noite.

Ele a analisou. Olhou-a como quem decifra um enigma. Então, com um gesto para o pai, indicou:

— Quero esta para minha última noite de liberdade.

O velho Caporello riu alto, satisfeito. Estalou os dedos. Os seguranças assentiram.

Katrina foi levada pelos corredores com o coração acelerado, mas com o sorriso frio de quem sabia que estava vencendo. Não precisaria se deitar. Não naquela noite. Apenas precisava ser escolhida. E fora.

O que viria depois, seria seu próprio jogo.

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