Capítulo 5

 Sangue e Glória

O relógio ainda marcava 4h47 quando os dois jovens atravessaram os portões de ferro da ala de treinamento. Estavam de preto, suados da corrida matinal e com os olhos alertas, como se cada sombra pudesse esconder uma ameaça. E podia.

No centro do campo de concreto, quatro homens os esperavam. Veteranos de guerra, assassinos aposentados e monstros moldados pelos próprios pais deles. Um de cada canto do mundo — Rússia, Israel, Colômbia, Japão. Eles não estavam ali para ensinar. Estavam ali para quebrar.

Demitire surgiu no alto da arquibancada, os braços cruzados.

— Não pensem que seus sobrenomes vão proteger vocês hoje. Aqui, vocês são apenas peças cruas sendo forjadas. Se não aguentarem, estão livres pra recuar... — fez uma pausa, olhando para os dois com severidade. — …mas saibam que recuar agora significa nunca mais olhar os inimigos nos olhos.

Valentim soltou uma risada seca.

— Os inimigos é que não conseguirão olhar nos nossos.

Gregori apenas levantou o queixo. O orgulho no olhar dele dizia tudo. Estava pronto.

O primeiro golpe veio sem aviso. O colombiano atacou com uma barra de ferro, mirando a cabeça de Valentim. Gregori se moveu no mesmo segundo, bloqueando o ataque com o antebraço protegido por couro. O som do impacto ecoou no pátio.

Valentim respondeu com um chute no estômago do atacante, o suficiente para derrubá-lo — mas não para desmaiar. Não era para isso.

A cada passo, novos testes. Combate corpo a corpo. Armas brancas. Tiro de precisão. Tortura psicológica. Força física, mas principalmente: mente. Inteligência, estratégia, sangue-frio. Era isso que separava os filhos do caos dos demais. Eles não eram apenas fortes. Eram cruéis quando precisavam ser.

Horas se passaram. Cortes começaram a sangrar. Dores se espalharam pelo corpo. Gregori caiu duas vezes. Valentim levou um chute no queixo que rachou o lábio. Mas nenhum dos dois parou. Nem para respirar.

No fim do dia, deitados no chão frio, um ao lado do outro, suados e ensanguentados, sorriram. Um sorriso entre dor e vitória.

— Isso foi só o primeiro dia — murmurou Gregori, ofegante.

— Que venham os próximos — respondeu Valentim, olhando o céu escurecido.

Lá do alto, Alexei observava em silêncio, ao lado de Nikolai, Aline e Demitire.

— Estão aprendendo mais rápido do que qualquer um de nós, naquela idade. — comentou Aline.

— Eles não são como nós. — respondeu Nikolai, com um meio sorriso. — Eles são o que a guerra criou e o que o amor afia.

Alexei não respondeu. Apenas fechou os olhos por um segundo. Porque no fundo, todos sabiam: se Valentim e Gregori continuassem crescendo nesse ritmo... o mundo não teria onde se esconder.

O segundo dia de treinamento chegou sem piedade.

Nenhum dos dois teve tempo para se recuperar das dores musculares, dos hematomas ou do sangue seco ainda grudado nas roupas. Às cinco da manhã, a sirene soou. E novamente estavam de pé.

Dessa vez, o cenário era outro: floresta gelada, mata fechada, sem comida, sem água. A missão: rastrear, caçar, sobreviver. Sozinhos.

Gregori e Valentim foram deixados em pontos opostos, com rádios desconectados e uma única advertência:

— "Se não acharem um ao outro em 12 horas, não acharemos nenhum dos dois depois." — disse o japonês, com frieza. — “A selva russa não perdoa.”

Valentim partiu primeiro, o olhar fixo nas pegadas, atento aos cheiros no ar, aos estalos de galhos partidos. Cada passo era medido, cada respiração, controlada. Gregori, por outro lado, usava o instinto. Ouviu o vento. Sentiu os pássaros fugindo de um lado. Ali estava o caminho.

Horas se passaram.

Gregori estava com frio, mas mantinha o corpo em movimento. Caiu num riacho. Subiu uma pedra coberta de gelo. Quase escorregou.

Valentim sentiu cheiro de fumaça. Um alerta. Um acampamento? Correu.

Eles se encontraram perto do crepúsculo, quando a luz laranja se infiltrava entre os galhos nus.

Valentim estava sujo, ferido na costela. Gregori sangrava no joelho. Mas quando seus olhos se cruzaram, não havia dor. Havia alívio. E outra coisa… algo que ambos fingiam ignorar nos últimos tempos.

— Pensei que fosse morrer congelado. — Gregori tentou brincar, mas sua voz saiu trêmula.

Valentim se aproximou devagar, os olhos intensos.

— Você não vai morrer... — disse, parando diante dele. — Não enquanto eu estiver vivo.

O silêncio pairou, denso. E então Gregori o encarou, sério.

— Valentim… por que você me olha assim?

— Porque você é meu. — a resposta foi simples. Direta. Quente como fogo em meio à neve. — Sempre foi.

Gregori engoliu seco, o coração martelando. A distância entre eles desapareceu num segundo. Não houve beijo. Ainda não. Mas o olhar de um para o outro selou uma promessa que não precisava de palavras.

Os passos dos instrutores se aproximaram.

O tempo acabara.

Valentim olhou para o horizonte. Gregori ao seu lado.

Eles tinham vencido.

E aquela era apenas a primeira de muitas batalhas.

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