Capítulo 2 — A Designer Que Não Se Cala

Lorena não dormiu naquela noite.

Cada minuto foi uma batalha entre razão e desejo. Entre querer fugir e querer ficar. Entre odiar Leonardo Ferraz e desejar sentir novamente o calor da mão dele em sua pele.

Ela se revirou na cama, lembrando do olhar que a despia sem piedade. O rosto dele era uma lembrança viva, pulsante, latejando como um segredo proibido. O toque, o sussurro, a promessa velada… Tudo ecoava nela como um sopro quente, teimoso, impossível de silenciar.

Quando o dia nasceu, Lorena se levantou com os olhos marcados de cansaço, mas a postura ainda era firme. Prendeu os cabelos em um coque polido, vestiu um macacão branco de corte impecável, deixando os ombros à mostra — um detalhe sutil que lembrava ao mundo que ela não era mulher de se esconder.

Ao chegar ao prédio onde seria a apresentação oficial do projeto, Lorena sentiu cada célula do corpo vibrar. Ela não era apenas uma convidada. Não era apenas uma designer contratada. Ela era a mente por trás do novo conceito arquitetônico que mudaria o skyline de São Paulo.

Mas, acima de tudo, era a mulher que Leonardo Ferraz escolhera , ou melhor, caçara; para entrar no jogo.

O salão de vidro e aço estava repleto de executivos, investidores, jornalistas e curiosos. O ar cheirava a champanhe caro e ambição crua. Cada sorriso era uma faca, cada aperto de mão, uma dança silenciosa de egos.

Lorena cumprimentou algumas figuras conhecidas no meio artístico, mas evitava se deter. O estômago embrulhava ao pensar que a qualquer momento ele apareceria. E apareceu.

Leonardo surgiu como uma tempestade contida. O terno cinza escuro, perfeitamente alinhado ao corpo forte, combinava com a gravata preta e o sorriso lento que nunca era apenas um sorriso. Era uma ameaça silenciosa. Uma promessa não dita.

Os olhos dele encontraram os dela assim que entrou. Lorena sentiu os joelhos fraquejarem, mas manteve a coluna ereta, o queixo erguido. Havia algo felino na forma como ele se movia, como se possuísse cada metro do salão.

— Senhorita Duarte.

Ele se aproximou, estendendo a mão. O tom formal contrastava com o olhar que dizia tudo, menos formalidade.

Ela segurou a mão dele, apertando com firmeza.

— Senhor Ferraz.

O sorriso dela era afiado, quase provocador.

— Está preparada?

Ele perguntou, aproximando-se mais do que o protocolo pedia.

— Sempre.

Ela respondeu, prendendo o ar quando sentiu o polegar dele roçar a palma da sua mão, um gesto rápido, clandestino, mas que incendiou cada nervo do seu corpo.

Eles permaneceram se olhando por segundos que pareceram horas. Até que um assessor interrompeu, anunciando o início da apresentação. Leonardo a soltou, mas Lorena sentiu o calor persistir, como se ele ainda a segurasse.

No palco improvisado, a maquete iluminada do novo prédio ocupava o centro. As câmeras se posicionaram, os convidados se agruparam. Lorena subiu ao microfone, consciente de cada respiração, de cada gota de suor escorrendo na nuca.

Ela respirou fundo. Aquela era a chance de mostrar quem realmente era. Não apenas uma peça no tabuleiro de Leonardo, mas uma mulher capaz de incendiar o próprio caminho.

— Boa noite a todos.

A voz dela soou firme, reverberando no salão.

— Antes de mostrar cada linha desse projeto, quero falar sobre o que realmente importa: liberdade criativa.

Um burburinho percorreu a plateia. Ela viu o olhar de Leonardo se estreitar, curioso, atento.

— Quando aceitei esse desafio, pensei que seria apenas mais um prédio. Mais um arranha-céu brilhante para competir por atenção na cidade. Mas percebi que um espaço só é verdadeiramente vivo quando conta histórias.

Ela fez uma pausa, o olhar percorrendo o público.

— E esse prédio não é só aço e vidro. Ele é sobre pertencimento, sobre coragem de se mostrar sem medo.

O silêncio virou um tapete estendido aos pés dela. Lorena se sentiu maior, invencível.

— Eu não desenho para bajular egos. Não construo para esconder cicatrizes. Eu crio para revelar, para tocar. E se alguém não entende isso, não deveria estar no palco comigo.

Alguns executivos trocaram olhares tensos. O jornalista da primeira fileira digitava furiosamente. Lorena ouviu um leve murmúrio vindo do lado direito do salão.

Leonardo não piscava. Os braços cruzados, o semblante indecifrável. Mas os olhos... os olhos queimavam.

Ela continuou:

— Este projeto é uma ode à transparência. À força de quem ousa existir sem se dobrar.

O olhar dela foi direto para Leonardo.

— E ninguém, absolutamente ninguém, vai me dizer como devo criar ou quem devo ser.

O silêncio se partiu em um aplauso tímido que logo se transformou em uma onda de palmas. Lorena sorriu, agradeceu, e sentiu um calor subir pelas veias.

Quando desceu do palco, Leonardo a interceptou.

— Uma apresentação ousada.

Ele falou baixo, tão perto que ela podia sentir o perfume amadeirado invadir seus sentidos.

— Eu não nasci para sussurrar, senhor Ferraz.

Ela ergueu o queixo, a voz vibrando.

Ele aproximou-se ainda mais, roçando os lábios na curva da orelha dela.

— E quem disse que eu quero que você sussurre?

Ele murmurou, fazendo cada músculo dela contrair.

— Eu quero ouvir você gritar.

Lorena estremeceu. A respiração dela ficou curta, os olhos buscando um ponto de apoio que não existia.

— Você está ultrapassando limites.

Ela tentou se afastar, mas ele segurou delicadamente o pulso dela.

— E você adora quando eu ultrapasso.

O tom dele era uma carícia perigosa, um convite que queimava por dentro.

Ela puxou a mão, o rosto tingido de raiva e desejo. Ele sorriu, satisfeito, como se aquela reação fosse exatamente o que ele queria.

— Eu sou a profissional aqui.

Ela disse, as palavras saindo afiadas.

— E você não vai me usar como marionete para seu jogo pessoal.

Leonardo inclinou a cabeça, os olhos cravados nela como lâminas suaves.

— Você não é marionete. Você é fogo. E eu pretendo me queimar em você todas as vezes que puder.

Lorena sentiu o coração tropeçar no peito. Era impossível negar o magnetismo dele, o modo como cada palavra parecia uma promessa perigosa.

Ela se virou, decidida a se afastar, mas ele segurou o braço dela mais uma vez, dessa vez com força suficiente para fazê-la parar.

— Não termine essa conversa assim.

A voz dele era baixa, mas vibrava como trovão contido.

— Eu esperei muito tempo para ter você diante de mim de verdade.

Ela virou o rosto, os olhos marejados de raiva e de um desejo que se recusava a morrer.

— Então continue esperando. Porque eu não sou uma peça no seu tabuleiro, Leonardo. Eu sou o tabuleiro inteiro.

Ele sorriu, um sorriso que carregava segredos e saudade, lembranças de noites antigas, memórias que ela preferia esquecer.

— Você sempre foi a única capaz de me derrubar.

Ele falou, aproximando-se mais uma vez, o nariz roçando de leve a bochecha dela.

— Mas também sempre foi a única que eu quis reconstruir.

O toque sutil fez o corpo dela vibrar como uma corda tensa. Lorena queria empurrá-lo, mas ao invés disso, fechou os olhos por um segundo, permitindo-se sentir.

Então, abriu os olhos e se afastou de uma vez, rompendo o laço invisível que ele insistia em puxar.

— Eu não preciso de você para existir.

Ela murmurou, andando em direção à saída.

Ele a seguiu com o olhar, o sorriso nos lábios como se soubesse que aquilo era apenas o começo.

Lorena atravessou o salão sentindo cada passo pesar, cada olhar a seguir. Ela sabia que todos estavam comentando. Sabia que a imprensa transformaria aquela noite em manchetes inflamadas. Mas, no fundo, algo dentro dela ardia de orgulho.

Ela tinha enfrentado o monstro de terno. E não apenas sobrevivido — ela tinha incendiado o jogo dele.

Ao sair, o ar da noite abraçou a pele quente dela. O coração martelava, os pensamentos corriam como faíscas.

Lorena apoiou a mão na parede fria do prédio e respirou fundo. Não havia mais volta. Não depois daquele olhar, daqueles toques, daquelas palavras.

Ela sabia que, a partir daquele instante, tudo ficaria mais intenso. O contrato, o projeto, a convivência. O jogo perigoso que os unia agora tinha uma chama viva — e não havia como apagá-la.

Lorena se afastou, sem olhar para trás. Mas, no fundo, ela sabia: Leonardo Ferraz não era o tipo de homem que aceitava ser desafiado em público. E muito menos o tipo que desistia de quem desejava.

Ela só não imaginava até onde ele seria capaz de ir para tê-la.

E, enquanto caminhava pela calçada vazia, a respiração irregular, Lorena percebeu uma verdade brutal: não era apenas ele que estava obcecado. Uma parte dela também.

Uma parte que já começava a desejar ser dele.

Capítulos
1 Prólogo — Contrato Obsessivo
2 Capítulo 1 — O Monstro de Terno
3 Capítulo 2 — A Designer Que Não Se Cala
4 Capítulo 3 — O Projeto Que Nunca Foi Só um Projeto
5 Capítulo 4 — A Primeira Faísca
6 Capítulo 5 — Quando Os Olhos Gritam
7 Capítulo 6 — O Toque Que Não Se Pede
8 Capítulo 7 — O Sussurro Que Ela Recusa
9 Capítulo 8 — A Cláusula Proibida
10 Capítulo 9 — A Reunião de Olhares
11 Capítulo 10 — O Segredo Nas Entrelinhas
12 Capítulo 11 — O Jantar
13 Capítulo 12 — O Jogo de Provocações
14 Capítulo 13 — A Sensação Que Ele Deixou
15 Capítulo 14 — O Campo de Batalha Silencioso
16 Capítulo 15 — A Mentira Que Veste Silêncio
17 Capítulo 16 — O Silêncio Que Ecoa
18 Capítulo 17 — O Cheiro Que a Persegue
19 Capítulo 18 — A Descoberta na Madrugada
20 Capítulo 19 — Quando Ele Toca Sem Pedir
21 Capítulo 20 — O Contrato Que Queima
22 Capítulo 21 — O Sopro Que Desarma
23 Capítulo 22 — O Amor Que Ela Não Sabia Sentir
24 Capítulo 23 — O Sabor da Pele
25 Capítulo 24 — O Segredo Que Quase Os Separou
26 Capítulo 25 — O Calor Que Ele Exige
27 Capítulo 26 — O Jogo Que Ela Nunca Imaginou
28 Capítulo 26 — O Lado Sombrio do CEO
29 Capítulo 27 — Marina, a Boa Amiga
30 Capítulo 29 — Henrique, Quem é
31 Capítulo 30 — União de um casal
32 Capítulo 31 — O Golpe Que Não a Derrubou
33 Capítulo 32 — O Segredo Que Ele Nunca Contou
Capítulos

Atualizado até capítulo 33

1
Prólogo — Contrato Obsessivo
2
Capítulo 1 — O Monstro de Terno
3
Capítulo 2 — A Designer Que Não Se Cala
4
Capítulo 3 — O Projeto Que Nunca Foi Só um Projeto
5
Capítulo 4 — A Primeira Faísca
6
Capítulo 5 — Quando Os Olhos Gritam
7
Capítulo 6 — O Toque Que Não Se Pede
8
Capítulo 7 — O Sussurro Que Ela Recusa
9
Capítulo 8 — A Cláusula Proibida
10
Capítulo 9 — A Reunião de Olhares
11
Capítulo 10 — O Segredo Nas Entrelinhas
12
Capítulo 11 — O Jantar
13
Capítulo 12 — O Jogo de Provocações
14
Capítulo 13 — A Sensação Que Ele Deixou
15
Capítulo 14 — O Campo de Batalha Silencioso
16
Capítulo 15 — A Mentira Que Veste Silêncio
17
Capítulo 16 — O Silêncio Que Ecoa
18
Capítulo 17 — O Cheiro Que a Persegue
19
Capítulo 18 — A Descoberta na Madrugada
20
Capítulo 19 — Quando Ele Toca Sem Pedir
21
Capítulo 20 — O Contrato Que Queima
22
Capítulo 21 — O Sopro Que Desarma
23
Capítulo 22 — O Amor Que Ela Não Sabia Sentir
24
Capítulo 23 — O Sabor da Pele
25
Capítulo 24 — O Segredo Que Quase Os Separou
26
Capítulo 25 — O Calor Que Ele Exige
27
Capítulo 26 — O Jogo Que Ela Nunca Imaginou
28
Capítulo 26 — O Lado Sombrio do CEO
29
Capítulo 27 — Marina, a Boa Amiga
30
Capítulo 29 — Henrique, Quem é
31
Capítulo 30 — União de um casal
32
Capítulo 31 — O Golpe Que Não a Derrubou
33
Capítulo 32 — O Segredo Que Ele Nunca Contou

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