Capítulo 1 — O Monstro de Terno

Lorena nunca foi do tipo que se intimidava com portas de vidro espelhado, seguranças com auriculares ou recepcionistas de sorriso mecânico. Ela carregava no olhar a firmeza de quem aprendeu cedo a não abaixar a cabeça. Mesmo assim, naquele dia, ao entrar no edifício Ferraz Tower, sentiu a pele eriçar como se antecipasse um toque que ainda não existia.

O saguão principal era uma obra de arte em mármore negro, linhas minimalistas e lustres que refletiam no chão polido como estrelas presas ao teto. As paredes altas guardavam segredos em silêncio. E, em cada canto, o ar pesado de exclusividade lembrava a qualquer visitante que ali só entrava quem era convidado — ou quem fosse suficientemente corajoso para se convidar.

Ela caminhou com passos firmes, os saltos ecoando como batimentos cardíacos em ritmo acelerado. Cada olhar que a seguia parecia julgar cada movimento, cada fio de cabelo ruivo preso em um coque elegante. Mas Lorena sabia, desde pequena, que as pessoas só respeitam quem se impõe.

A assistente a guiou por corredores silenciosos, tão silenciosos que ela podia ouvir a respiração da mulher à sua frente. O cheiro do perfume caro, a tensão nos ombros... Tudo denunciava o que vinha a seguir.

Quando parou diante da porta dupla, Lorena inspirou fundo. Ali dentro, encontraria Leonardo Ferraz — o homem que assinava contratos com o mesmo descaso com que esmagava corações. O homem que transformava rivais em poeira, que comandava empresas como um regente conduzindo uma sinfonia sombria. O homem que ela acreditava conhecer apenas pelos jornais, mas que já a observava muito antes de ela imaginar.

— Senhorita Duarte, ele a espera.

A assistente abriu a porta e saiu como quem foge de uma tempestade.

Lorena entrou.

O escritório era uma cápsula suspensa sobre a cidade. Vidros do chão ao teto deixavam São Paulo parecer um tabuleiro iluminado. A mesa, minimalista e escura, parecia uma extensão do homem que a ocupava. E ali estava ele, de costas, observando a paisagem, como se a presença dela fosse apenas mais um detalhe irrelevante na agenda.

— Feche a porta.

A voz dele era um comando suave, quase um sussurro, mas carregado de aço.

Ela obedeceu. Não porque fosse submissa, mas porque aquela ordem soou como um convite irresistível a um jogo que ela não sabia se estava pronta para jogar.

Leonardo se virou devagar.

O terno perfeitamente alinhado, o corte preciso, o relógio suíço reluzindo no pulso , cada detalhe nele gritava. Mas não era isso que paralisava Lorena. Era o olhar. Dois lagos escuros e profundos, onde qualquer um podia se afogar se ousasse mergulhar.

Ela sentiu o ar rarefazer entre eles. Por um segundo, esqueceu como respirar.

— Senhor Ferraz.

A voz dela saiu firme, mas dentro do peito o coração martelava como um tambor em dia de desfile.

Os lábios dele se curvaram em um sorriso lento, quase cruel.

— Lorena Duarte. Finalmente cara a cara.

Ele caminhou ao redor da mesa, aproximando-se sem pressa. Cada passo era um capítulo não escrito.

— Você não parece surpresa.

— Eu esperava alguém intimidador. Você confirma a expectativa.

Ela ergueu o queixo, firme, mas a pele arrepiada denunciava o turbilhão por dentro.

Leonardo soltou uma risada curta, um som que parecia escavar a espinha dela.

— Ainda acha que é apenas um contrato?

Ele se aproximou mais, parando tão perto que ela podia sentir o calor do corpo dele.

— Um contrato é um contrato. Negócios, apenas isso.

Lorena manteve os ombros firmes, mas os joelhos tremiam sob a saia lápis impecável.

Ele inclinou o rosto, o olhar percorrendo cada detalhe dela como se a despisse sem pressa.

— Negócios, Lorena?

O nome dela soou como uma carícia proibida nos lábios dele.

— Você sempre foi boa em negar o que sente.

Lorena congelou. A frase caiu como um raio silencioso.

— Como...

Ela tentou recuar, mas ele segurou seu braço com firmeza, sem violência, mas com uma autoridade que eletrizava.

— Eu te observo há anos. Muito antes de você saber quem eu era.

Ele sussurrou, aproximando o rosto do dela.

— Acha mesmo que você foi escolhida por acaso?

Ela sentiu o mundo estreitar ao redor. Ele sabia. Sabia dos concursos que ela venceu, dos projetos que a destacaram, da exposição que a tornara uma promessa no design. E, agora, tudo parecia uma trilha silenciosa desenhada por ele.

Lorena tentou puxar o braço, mas ele a segurou.

— Você me odeia por isso?

Ele perguntou, os olhos incendiados de desejo contido.

— Eu não sinto nada.

Ela mentiu, as palavras saindo rasgadas.

Ele sorriu, um sorriso que era ao mesmo tempo ternura e ameaça.

— Lorena, você mente mal. Sempre mentiu.

O polegar dele roçou o pulso dela, um toque que parecia acender pequenas explosões sob a pele.

— Desde aquela noite, quando tinha quinze anos, lembra?

O estômago dela despencou. Uma memória que ela guardava como uma fotografia rasgada voltou com violência. Ela, adolescente, cheia de sonhos e arrogância, rejeitando o garoto que a olhava como se ela fosse o sol.

— Você…

O sussurro dela veio quase mudo.

— Eu fui embora por sua causa.

Ele aproximou-se mais, tão perto que ela podia sentir a respiração dele roçar seus lábios.

— E mesmo longe, eu nunca parei de cuidar de você.

Lorena tentou falar, mas o peito dela subia e descia em ondas incontroláveis.

— Eu te vi se formar, vi você abrir o primeiro escritório, vi cada linha que você traçou em cada projeto. E aqui estamos.

Ele soltou o braço dela devagar, como se marcasse um limite imaginário.

— Agora, você vai trabalhar comigo. Ou melhor, para mim.

Ela respirou fundo, o ar arranhando a garganta.

— Você acha que pode me manipular?

Ela ergueu o queixo novamente, tentando reconstruir o escudo que ele desmontava com palavras.

Leonardo deu um passo para trás, observando-a como quem aprecia uma obra rara.

— Manipular? Não. Eu apenas te dou a chance de descobrir quem você realmente é.

Ele se virou, voltando para trás da mesa, mas o silêncio parecia manter a conexão entre eles viva, como um fio invisível.

Lorena fechou os olhos por um instante. Uma gota de suor escorreu pela nuca. A mente gritava para correr, mas o corpo parecia fincado ao chão, magnetizado.

— O que você quer de mim?

A voz dela soou mais suave, quase uma confissão.

Leonardo apoiou as mãos na mesa, inclinando-se levemente.

— Quero tudo. O seu talento. O seu orgulho. E, principalmente, a sua rendição.

Os olhos dele ardiam, negros como uma noite sem lua.

Lorena sentiu as pernas fraquejarem. O coração, antes um tambor, agora era um trovão silencioso.

— Isso não vai acontecer.

A frase saiu em um sussurro, mas cheia de uma força frágil.

Ele sorriu. Um sorriso calmo, como quem já conhecia o final de uma história que o outro nem sonhava.

— Não hoje. Mas vai acontecer.

Ele se endireitou, ajeitando a manga do terno como se encerrasse uma reunião qualquer.

— Você pode sair.

Lorena demorou um segundo para entender. Então se virou, cada passo parecendo um esforço sobre-humano. Quando a mão tocou a maçaneta, ela sentiu o calor dele atrás.

— Lorena.

A voz dele foi baixa, quase gentil. Ela virou o rosto

— Não minta para si mesma. Nem para mim.

O olhar dela encontrou o dele. Um segundo que durou uma eternidade. Ali, naquele silêncio, ela percebeu que ele conhecia cada pedaço dela melhor do que ela mesma.

Sem responder, saiu do escritório, os joelhos ainda trêmulos. O corredor parecia mais longo do que antes. Ao atravessar o saguão, a respiração ainda curta, Lorena segurou a bolsa com força.

Do lado de fora, o vento frio a despertou como um tapa suave. Ela olhou para o alto da torre, onde, atrás daqueles vidros, um homem a vigiava.

Um homem que ela conheceu criança. Um garoto que ela humilhou sem entender.

Agora, ele era um CEO impiedoso, um monstro de terno.

Mas o que realmente a fazia estremecer não era o poder dele. Era a lembrança do garoto de olhos escuros, parado na chuva, esperando que ela mudasse de ideia.

O garoto que virou lenda. O garoto que voltou para reivindicar tudo.

Lorena apertou os lábios, o coração martelando contra o peito.

Ela sabia, mesmo que não admitisse: nada na vida dela seria igual depois daquele encontro.

A partir dali, cada projeto, cada linha traçada, cada respiração seria um convite silencioso para um jogo perigoso.

Ela não queria participar. Mas também não conseguia fugir.

A mente dizia "não".

O corpo, em silêncio, já dizia "sim".

Lorena não sabia ainda, mas a semente havia sido plantada.

E, dentro dela, germinava um desejo tão avassalador quanto o medo.

Naquele dia, Lorena não saiu apenas de um escritório.

Ela saiu carregando um segredo que mudaria tudo: o de que, no fundo, uma parte dela sempre quis ser dele.

E Leonardo, com seus olhos de noite profunda, sabia disso desde sempre.

Ele só estava esperando o momento certo para fazer a última jogada.

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Achewalt

Achewalt

Não aguento mais esperar, escreva logo! 😤

2025-07-17

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Capítulos
1 Prólogo — Contrato Obsessivo
2 Capítulo 1 — O Monstro de Terno
3 Capítulo 2 — A Designer Que Não Se Cala
4 Capítulo 3 — O Projeto Que Nunca Foi Só um Projeto
5 Capítulo 4 — A Primeira Faísca
6 Capítulo 5 — Quando Os Olhos Gritam
7 Capítulo 6 — O Toque Que Não Se Pede
8 Capítulo 7 — O Sussurro Que Ela Recusa
9 Capítulo 8 — A Cláusula Proibida
10 Capítulo 9 — A Reunião de Olhares
11 Capítulo 10 — O Segredo Nas Entrelinhas
12 Capítulo 11 — O Jantar
13 Capítulo 12 — O Jogo de Provocações
14 Capítulo 13 — A Sensação Que Ele Deixou
15 Capítulo 14 — O Campo de Batalha Silencioso
16 Capítulo 15 — A Mentira Que Veste Silêncio
17 Capítulo 16 — O Silêncio Que Ecoa
18 Capítulo 17 — O Cheiro Que a Persegue
19 Capítulo 18 — A Descoberta na Madrugada
20 Capítulo 19 — Quando Ele Toca Sem Pedir
21 Capítulo 20 — O Contrato Que Queima
22 Capítulo 21 — O Sopro Que Desarma
23 Capítulo 22 — O Amor Que Ela Não Sabia Sentir
24 Capítulo 23 — O Sabor da Pele
25 Capítulo 24 — O Segredo Que Quase Os Separou
26 Capítulo 25 — O Calor Que Ele Exige
27 Capítulo 26 — O Jogo Que Ela Nunca Imaginou
28 Capítulo 26 — O Lado Sombrio do CEO
29 Capítulo 27 — Marina, a Boa Amiga
30 Capítulo 29 — Henrique, Quem é
31 Capítulo 30 — União de um casal
32 Capítulo 31 — O Golpe Que Não a Derrubou
33 Capítulo 32 — O Segredo Que Ele Nunca Contou
Capítulos

Atualizado até capítulo 33

1
Prólogo — Contrato Obsessivo
2
Capítulo 1 — O Monstro de Terno
3
Capítulo 2 — A Designer Que Não Se Cala
4
Capítulo 3 — O Projeto Que Nunca Foi Só um Projeto
5
Capítulo 4 — A Primeira Faísca
6
Capítulo 5 — Quando Os Olhos Gritam
7
Capítulo 6 — O Toque Que Não Se Pede
8
Capítulo 7 — O Sussurro Que Ela Recusa
9
Capítulo 8 — A Cláusula Proibida
10
Capítulo 9 — A Reunião de Olhares
11
Capítulo 10 — O Segredo Nas Entrelinhas
12
Capítulo 11 — O Jantar
13
Capítulo 12 — O Jogo de Provocações
14
Capítulo 13 — A Sensação Que Ele Deixou
15
Capítulo 14 — O Campo de Batalha Silencioso
16
Capítulo 15 — A Mentira Que Veste Silêncio
17
Capítulo 16 — O Silêncio Que Ecoa
18
Capítulo 17 — O Cheiro Que a Persegue
19
Capítulo 18 — A Descoberta na Madrugada
20
Capítulo 19 — Quando Ele Toca Sem Pedir
21
Capítulo 20 — O Contrato Que Queima
22
Capítulo 21 — O Sopro Que Desarma
23
Capítulo 22 — O Amor Que Ela Não Sabia Sentir
24
Capítulo 23 — O Sabor da Pele
25
Capítulo 24 — O Segredo Que Quase Os Separou
26
Capítulo 25 — O Calor Que Ele Exige
27
Capítulo 26 — O Jogo Que Ela Nunca Imaginou
28
Capítulo 26 — O Lado Sombrio do CEO
29
Capítulo 27 — Marina, a Boa Amiga
30
Capítulo 29 — Henrique, Quem é
31
Capítulo 30 — União de um casal
32
Capítulo 31 — O Golpe Que Não a Derrubou
33
Capítulo 32 — O Segredo Que Ele Nunca Contou

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