Ontem no parque já me senti estranho, inquieto, angustiado, as lembranças me invadindo sem controle.
Não quis ficar com o meu velho professor, preferi ficar anônimo na plateia, queria sentir a música, como um expectador comum.
Da onde estou não enxergo claramente as pessoas, mas a moça se levanta e senta-se ao piano, de costas para a plateia, só vejo o seu perfil, parece uma fada, com seus cabelos loiros, sobre os ombros num vestido branco leve.
Me lembro da minha Layla, mas a minha amada tocava violino com maestria, e essa toca divinamente o piano. O meu instrumento.
Quantas vezes tocamos nesse mesmo parque? Eu ao piano e ela ao violino, éramos o casal perfeito, com um amor que transpirava na nossa música. As pessoas ficavam encantadas quando fazíamos uma apresentação em dupla.
Claro que nem tudo era perfeito na nossa vida. Ela era de uma família abastada e eu um João ninguém, filho de imigrantes.
Para mim e para ela, não contava nada, mas a família dela, tentou de tudo para nos separar.
Nos amávamos desde os dezesseis anos, e estudávamos no conservatório. A família dela a mandou para um colégio interno na Suíça, quando completou a maioridade, veio para casa e não a casa dos seus pais, mas para a minha, lembro da minha alegria quando cheguei em casa e ela estava lá.
Ela mandava cartas para mim e eu para ela, através de uma das internas, pois os seus pais, controlavam a sua correspondência. Eu sabia que ela não havia me esquecido, só não sabia que ia voltar.
A nossa alegria foi imensa e foi a primeira vez que fizemos amor.
Ficamos na casa dos meus pais, até que conseguimos alugar um apartamento num bairro afastado e modesto. Que ela transformou num lar, com as suas plantas e quadros extravagantes, cheios de cores.
Ela voltou para o conservatório e terminou sua graduação e nós dois conseguimos vaga, na orquestra. Vivemos muito felizes, ela engravidou e nos casamos. Os pais dela tentaram impedir que nos casassemos, disseram a ela que iam deserdá-la, ela não se abalou em nem cedeu a chantagem.
Ela estava com sete meses de gravidez e eu fui chamado para fazer uma audição em um conservatório da Alemanha, era uma oportunidade boa demais para deixar passar. Eram só dois dias que eu ficaria fora. Então eu fui, e arrependo-me dessa decisão até hoje.
Nunca mais a vi, nem ela, nem a nossa filha. A moça no piano toca com a alma e já sei que é ela que eu quero.
Enxugo as minhas lágrimas e saio caminhando da multidão.
No outro dia, vou ao conservatório conversar com o maestro e o reitor, falo da minha intenção de levar a pianista. O meu velho professor entra e nos cumprimenta.
Professor _ Tinha certeza que você iria escolhê-la, ela lembra muito o seu jeito de tocar.
Jovem entra na sala e o meu coração dispara. Não é possível que seja ela.
Tento agir normalmente, mas sinto que estou diante da minha filha morta. O professor diz que ela toca violino e eu peço que ela toque para mim. Ela começa a tocar a peça da mãe dela, fecho os meus olhos e consigo vê-la tocando com o seu sorriso maravilhoso e o seu jeito alegre, não contenho a minha emoção e choro de soluçar, coloco a cabeça nos joelhos, pois parece que vou desmaiar.
Carl_ Es ist wirklich meine Tochter, sie ist am Leben!
O professor tenta me acalmar, o reitor diz que não é ela. Ela tenta parar de tocar assustada, mas eu peço que continue. O acorde final é igualzinho o da Layla, impossível ela ter morrido, as duas estão bem, e eu preciso vê-la.
Ela diz que a mãe só toca piano, mas a Layla que conheci tocava piano muito bem, mas o seu maior talento era o violino. Porquê parou? Porquê fugiu?
Com certeza os pais dela, tem algo a ver com isso. Mas a jovem me leva para um bairro modesto, elas moram numa casa modesta, coberta de plantas e flores. O seu gosto não mudou.
A mulher está de costas, mas eu nem preciso que se vire para saber que é ela, o meu coração parece que vai explodir, algumas pessoas da orquestra na época disseram que ela fugiu e contrariando tudo o que imaginei, parece que estavam certos, ela fala com a filha e ouço aquela voz que nunca saiu da minha cabeça, quantas vezes fui dormir e acordei a ouvindo dizer que me amava?
Ela também me reconheceu, pois a mão no coração e desmaiou. Também não estou muito diferente, a nossa filha, precisa gritar para que eu volte para a terra. A nossa filha! Quem diria? As duas estão vivas, sento no sofá com ela nos meus braços, depois de 25 anos.
O mesmo perfume, a mesma quentura da pele, eu fico abraçado ao seu corpo, por muito tempo, sem ter coragem de soltá-la. Sei que vou ficar com raiva, quero saber porque fugiu? Porquê tirou a minha filha de mim? É até bom que ela não esteja consciente, só quero abraçá-la e aplacar o meu coração.
Conto a Amelie um pouco da nossa história e ela diz ser adotada, coloco a Layla no sofá e seguro em seu rosto. Nunca, tenho certeza que ela é minha, posso sentir nos meus ossos.
A mãe dela acorda e reclama de dor de cabeça, olha para mim e realmente parece não me ver, a Amelie fala das suas dores de cabeça crônicas e eu já me preocupo, as duas sobem. A mulher fugiu de mim sem deixar rastros, criou a minha filha longe de mim a adotou sei lá por qual motivo, e mesmo assim fico preocupado com ela?
A campainha toca, o menino levanta e pega as suas coisas.
Menino_ É a minha mãe! Lembrou que eu existo.
Carl_ Não fale assim da sua mãe, ela te deixa aqui para aprender.
Menino _ Ela me deixa aqui para sair com o amante, eu não sou idiota, as vezes só finjo ser.
Abro a porta para a mulher que nem me cumprimenta, pega o menino pela mão e sai puxando. Parece que o garoto tem razão, ela estava com uma cara de quem acabou de sair da cama.
De repente uma luz me invade, será que ela tinha um amante? Só isso explica o sumiço.
(Foto tirada da Internet)
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Atualizado até capítulo 28
Comments
Fátima Ribeiro
A professora deve estar sem memória.
Tenho certeza que a família dela que causou tudo isso, aproveitando a ausência do marido. Agora ele fica criando fantasias a desmerecendo...
2025-07-15
3
Solaní Rosa
que capitulo emocionante e maravilhoso Marli
2025-07-15
3
Fátima Ribeiro
lindão o papai, hein?!/Facepalm//Facepalm//Facepalm/
2025-07-15
2