Eu já entendi que amor, pra ele, não é sobre flores ou promessas. É sobre presença. Corpo presente. E só. O tipo de toque que não pede licença, mas também não se desculpa depois.
Às vezes, quando ele me olha, parece que está me estudando. Como se eu fosse uma fórmula que ele quase decifrou, mas ainda falta uma variável.
E ainda assim, hoje ele me tocou como quem não quer decifrar nada.
Estávamos em silêncio. O quarto abafado, o lençol bagunçado de uma noite mal dormida. Ele estava de pé, encostado na porta, como se não tivesse certeza se queria entrar ou sair. Eu estava sentada na cama, com o celular desligado nas mãos, como quem espera uma mensagem que sabe que nunca vai chegar.
Quando ele veio até mim, não disse nada. Só puxou minha mão e me fez levantar.
Foi tudo tão automático. Um script repetido, sem improviso.
Ele me virou de costas. Me despiu em silêncio. Cada movimento dele era preciso, exato, como se já soubesse onde tudo estava. E sabia. Ele conhece o caminho do meu corpo como quem conhece o trajeto de casa. Sem emoção. Só hábito.
Eu não disse que queria. Mas também não disse que não. Meu corpo falou por mim — como sempre. É sempre o corpo que aceita antes da cabeça. A cabeça só observa, narra em silêncio, analisa. E julga depois.
As mãos dele eram quentes, mas não acolhedoras. Quando tocaram minha pele, não senti afeto. Senti controle. Uma afirmação muda de que ele podia. De que ele sabia. De que eu era dele — mesmo quando eu não era nem minha.
Me deitou com força, mas sem violência. Há uma diferença tênue entre desejo e domínio. E ele flutua nessa linha como quem se diverte em provocar desequilíbrio.
Os beijos não eram carinhosos. Eram pontuais. Nos lugares certos, com a força exata. Como um teste. Como se dissesse: "Se eu fizer assim, ela reage assim."
E eu reagi. Claro que reagi. Meu corpo é fraco pra ele. Não sei se é por necessidade, ou por carência. Talvez eu só queira ser sentida — mesmo quando sei que ele não sente nada.
Os olhos dele estavam abertos. Os meus também. Nenhum dos dois fechou pra fingir que era amor.
Quando ele me penetrou, foi rápido. Sem aviso. Sem poesia.
A dor veio antes do prazer, como quase tudo entre a gente. Mas eu engoli. Como engulo tudo. Silenciosamente.
O ritmo era constante. Sem pressa, mas também sem paixão. Era sexo, não amor. Era suor, não sentimento.
E, ainda assim, eu me entreguei. Porque ele estava ali. E eu preciso tanto de alguém que esteja ali.
Eu segurei nos ombros dele como se pudesse fixar alguma coisa. Mas ele não era âncora. Ele era tempestade. E no meio daquilo tudo, só me restava boiar.
"Olha pra mim", ele disse, pela primeira vez.
Eu olhei.
"Você ainda me quer?", ele perguntou, sem parar o movimento.
"Eu não sei mais o que eu quero", respondi, sem hesitar.
Ele riu. Mas não foi um riso leve. Foi aquele riso frio, carregado de ironia.
"É sempre assim com você. Quer demais, sente demais. E depois joga tudo no meu colo como se fosse culpa minha."
"Talvez seja", eu sussurrei. Ele não ouviu. Ou fingiu que não.
Quando ele terminou, se afastou como se nada tivesse acontecido. Nenhum beijo depois. Nenhum carinho. Só o silêncio.
Eu fiquei ali, com as pernas entreabertas, o corpo dolorido e a mente em colapso. Tentei juntar o lençol. Não por pudor, mas por vergonha de mim.
Levantei e fui ao banheiro. Me olhei no espelho.
Eu estava bonita. Mesmo assim. Bagunçada, mas bonita. E ainda assim, parecia que faltava algo. Como se a parte mais íntima de mim tivesse sido tocada... sem ser sentida.
Voltei pro quarto. Ele já estava deitado, de costas. Dormindo, talvez.
Eu deitei também. Mas o sono não veio.
Fiquei pensando: é isso que chamam de amor?
Porque se for, acho que estou viciada na dose errada.
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Atualizado até capítulo 54
Comments
Danielle Pereira
mulher que não tem amor próprio e dignidade 0 só ela amar sozinha 🙄🙄🙄🙄
2025-07-19
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