O Lado Ruim de Ser Amada-Selena (Volume 1)
Eu não sou a mocinha da sua história. Nunca fui.
Mas aprendi a sorrir como uma. A vestir branco em domingos de sol. A parecer leve quando tudo em mim grita. As pessoas gostam disso, de leveza. Elas se sentem menos ameaçadas por uma mulher que finge serenidade enquanto sangra por dentro.
Hoje, por exemplo, eu acordei cedo. Não porque eu queria, mas porque sonhei com ele de novo. Sonhei que ele me olhava com aquele olhar que ele reservava para quando queria algo. Aquele olhar que dizia "me ame agora" sem abrir a boca. Acordei com a respiração descompassada e o coração feito um tambor no peito. Ele ainda tem isso sobre mim. Mesmo longe. Mesmo depois de tudo.
Fui até a cozinha. Fiz café. Sentei na bancada e fiquei encarando a xícara. Sabe o que é estranho? Eu gosto do gosto amargo do café preto. Me lembra dele. Me lembra da forma como ele não adoçava nada. Nem palavras, nem promessas.
Sebastian. O nome que ainda vive entre os meus dentes.
Não foi fácil amá-lo. Mas foi impossível não amar. Ele era o tipo de homem que entra na sua vida como um furacão e te convence de que você pediu por isso. Me fazia rir e depois me fazia chorar com a mesma facilidade com que acendia um cigarro. Me dizia que me amava enquanto destruíamos um ao outro com as próprias inseguranças.
A primeira vez que ele me disse "eu te amo" foi depois de um silêncio desconfortável. Daqueles em que você já sabe que algo está errado. Eu olhei pra ele e perguntei:
— Você me ama?
Ele riu, balbuciou algo como "você precisa ouvir isso?" e depois me beijou. Mas naquela noite, quando achou que eu dormia, ele disse. Sussurrou bem perto do meu ouvido como se fosse segredo: "eu te amo, porra. E isso me fode todinho."
Foi assim que eu soube. Que ele me amava do jeito dele. Torto, possessivo, destrutivo. Mas amava.
Às vezes, eu me pergunto se ele ainda pensa em mim. Não porque quero saber, mas porque é inevitável. Uma vez, ele me disse que se algum dia a gente se separasse, ele não conseguiria amar outra pessoa. Eu queria acreditar. Parte de mim ainda acredita.
Eu ando colecionando silêncios desde que ele foi embora. Sabe quando o som do próprio pensamento te incomoda? Então. Eu tenho evitado me ouvir. Tenho evitado lembrar do som da voz dele dizendo meu nome com raiva, com tesão, com cansaço. Com amor.
Mas hoje... hoje foi diferente. Eu abri a gaveta onde guardo coisas que fingem não existir. Uma caixa com cartas não enviadas, uma foto nossa sorrindo como se o mundo não estivesse pegando fogo, e o isqueiro dele. Sim, eu fiquei com o isqueiro. Ele me deu num dia qualquer e eu disse que não queria, mas guardei assim mesmo. Era vermelho. Meio gasto. Como ele.
Respirei fundo. Peguei a caneta. Rabisquei no caderno uma frase que veio do nada: "ninguém nos ensinou a amar sem destruir."
Talvez esse seja o nosso maior defeito: a intensidade. Nós não sabemos amar de forma leve. Precisamos do drama, da urgência, da dor. Somos viciados em nos machucar e chamar isso de paixão. Sebastian era assim. E eu também. Eu o segui nesse abismo porque achei que a queda juntos seria menos dolorida. Não foi.
Você quer saber o que restou de tudo isso? Eu. Sentada aqui, escrevendo pra ele sem saber se algum dia ele vai ler. Com as unhas pintadas de vermelho e o coração ainda machucado. Com a mente lotada de memórias que ninguém mais entende. Com um sorriso treinado para esconder o caos.
Eu não quero piedade. Quero vingança emocional. Quero que ele acorde no meio da noite e pense em mim. Quero que veja outras mulheres e se pergunte se elas saberiam segurar as loucuras dele como eu segurava. Quero que ele entenda que amar a mim é carregar um universo de caos e ainda assim sorrir. E se ele não conseguiu, tudo bem. Nem eu consigo, às vezes.
Mas a verdade é que ainda é ele. Mesmo com todos os danos, ainda é ele. E eu? Ainda sou essa mulher tentando fingir que não sente falta.
E não, eu não sou a mocinha da sua história. Mas não se engane. Até vilãs sabem amar. A diferença é que a gente ama com faca na mão.
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Atualizado até capítulo 54
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