*“Ela não precisava gritar para ser ouvida.
Seu silêncio era feito de fogo.
E quando amava…
Amava com a mesma fúria de quem já foi queimada antes.”*
— autor desconhecido
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Narrado por Zafira Luján
O vestido era vermelho.
De todos os que tinham deixado no meu quarto, aquele era o mais justo, mais revelador. Era impossível usá-lo e não se sentir exposta. Mas, de algum modo, também me dava poder. Como se eu estivesse usando uma armadura feita de seda e provocação.
Eu não fazia ideia de quem havia escolhido a peça, mas algo me dizia que aquele vestido tinha um único destinatário: Dante.
Quando desci as escadas, todos os olhos se voltaram para mim.
Leonardo me sorriu com gentileza.
Santiago bufou, murmurando algo que não captei.
Matías apenas observou, como sempre, com aquele olhar de quem enxerga além da superfície.
E então havia ela.
Dona Mariana, com seu copo de vinho na mão e seu desprezo no olhar.
E Isabel, sentada estrategicamente à esquerda da matriarca. Sim, ela estava ali. Mesmo depois de ter sido expulsa. Mesmo depois de Dante tê-la desprezado na frente de todos.
Claro. Porque cobras sempre encontram uma brecha.
Dante ainda não havia aparecido.
— Está linda, Zafira — disse Leonardo, puxando a cadeira ao meu lado.
— Obrigada — murmurei, tentando controlar a tensão nas mãos.
— Quem diria... — comentou Santiago, alto o suficiente para todos ouvirem — que o Don se interessaria por uma garotinha criada por uma costureira pobre.
O silêncio caiu sobre a mesa como uma lâmina.
Leonardo o olhou, reprovando.
Matías revirou os olhos.
Mas antes que eu pudesse responder, uma sombra se projetou sobre Santiago.
Dante.
Ele entrou no salão como uma tempestade — terno escuro, rosto indecifrável, olhos cinzentos cravados no irmão.
— Repita o que disse. — Sua voz foi baixa. Letal.
Santiago levantou as mãos, meio em provocação, meio em defesa.
— Calma, irmão. Foi só uma brincadeira.
Dante não sorriu.
Ele se aproximou, agarrou Santiago pela gola da camisa e o puxou para fora da cadeira com brutalidade. A mesa estremeceu. O som do vidro tilintando foi o único som além da minha respiração entrecortada.
— Não volto a tolerar nenhuma falta de respeito com a minha mulher — ele rosnou. — Nem sua. Nem de ninguém.
Santiago o empurrou de volta, furioso, mas Dante sequer recuou. A tensão entre os dois era densa, espessa como fumaça.
Leonardo se levantou, tentando intervir.
— Já chega. A família inteira está assistindo.
Dante soltou o irmão, ajeitou o paletó como se nada tivesse acontecido, e então seus olhos caíram sobre mim.
— Venha — disse, estendendo a mão.
Engoli em seco, me levantando. Minhas pernas tremiam, mas meu queixo se manteve firme. Coloquei minha mão na dele.
E ali, no toque quente e firme de Dante Valverde, senti que o mundo mudava.
Ele me conduziu até o centro do salão, em frente à mesa de jantar.
— Esta é Zafira Luján. — Sua voz preencheu todo o espaço. — E a partir de hoje, ela é a única mulher com o direito de se sentar à minha direita. A única mulher sob a minha proteção. A única que carrega meu nome.
O silêncio foi absoluto.
Isabel estava pálida.
Dona Mariana apertava o copo com força.
Santiago se mantinha afastado, respirando pesado.
— Qualquer um que se levantar contra ela... — continuou Dante, apertando minha cintura, puxando-me mais para perto — estará se levantando contra mim.
Ele se inclinou em meu ouvido, a voz baixando num tom que era só nosso:
— E eu protejo o que é meu com sangue, Zafira.
Eu tremia.
Mas não era de medo.
Era dele.
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Depois disso, o jantar começou. Mas ninguém falou muito. Apenas olhares trocados, garfos contra porcelana e a constante presença da mão de Dante na minha coxa, sob a mesa.
Seu toque era firme, lento.
Não era inocente.
Era posse.
E eu sentia cada célula do meu corpo vibrar por aquilo.
— Está bem? — ele murmurou, sem tirar os olhos do vinho.
Assenti com a cabeça, mesmo sem conseguir respirar direito.
— Você parece mais calma — disse, sem sorrir. — Mas ainda está tentando fugir por dentro.
Ele se inclinou, roçando os lábios no meu pescoço, onde o colar de diamantes brilhava sob a luz.
— Não vai mais fugir, Zafira.
Nem de mim.
Nem do que sente.
Quis responder. Dizer que ele estava errado. Que aquilo era apenas um contrato, uma dívida.
Mas a verdade é que meu corpo já não sabia diferenciar medo de desejo.
E Dante Valverde sabia exatamente como usar isso contra mim.
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Ao fim do jantar, quando me levantei para sair, uma voz cortou o ar:
— Você não combina com ele.
Era Isabel.
Ela se aproximou com elegância forçada, olhos frios e sorriso de víbora.
— Ele vai enjoar de você, florzinha. Don Valverde precisa de uma mulher de verdade. E você… — ela olhou meu corpo de cima a baixo — ainda parece uma criança brincando de esposa.
Quis responder. Quis gritar.
Mas antes que eu abrisse a boca, Dante estava ao meu lado.
— Isabel — sua voz era gelo — a próxima vez que se dirigir a ela, não será com palavras.
Será com o som dos seus próprios saltos sendo expulsos desta casa.
Ela empalideceu.
E saiu. Humilhada.
Dante olhou para mim.
— Nunca mais abaixe a cabeça para ninguém aqui.
Você é minha mulher.
E minha mulher não se curva a serpentes.
Meu coração explodiu no peito.
E naquele momento, mesmo sabendo de todos os perigos, mesmo temendo o que estava por vir…
Uma parte de mim soube que já era dele.
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Atualizado até capítulo 45
Comments
Carolina Luz
adorei as atitudes de Dante e não dando espaço pra cobra 🐍
2025-07-16
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Antonia Teófilo
bem feito para a piranha rsss
2025-07-16
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