Capítulo 5: O Rato e o Gato na Cidade Serrana

Naquela noite, Daniel Albuquerque não conseguiu dormir. A revelação de Isabela sobre Elias e a disputa de terras ecoava em sua mente. Ele sabia que Otávio, seu pai, era um homem reservado, mas a intensidade de seu silêncio sobre o passado da Floricultura Fontes sempre o intrigou. Daniel se levantou, foi até a estante de mogno escuro em seu escritório e pegou um álbum de fotos antigo, de capa de couro desbotada. Era o álbum da família, cheio de registros da infância de Daniel, de eventos sociais e viagens. Ele folheou as páginas, buscando algo, qualquer pista que pudesse ligar os nomes Fontes e Albuquerque a um Elias misterioso. Nada.

Ele então decidiu tentar uma abordagem diferente. Ligou para um dos advogados mais antigos da incorporadora, Dr. Ribeiro, um homem que trabalhou com seu pai por décadas e conhecia os segredos mais profundos da empresa.

"Doutor", Daniel começou, com a voz baixa para não levantar suspeitas, "preciso de uma informação confidencial. Há registros de alguma disputa de terras envolvendo a família Fontes, de Nova Friburgo, e a Incorporadora Albuquerque, há algumas décadas?"

Houve um longo silêncio do outro lado da linha. Daniel podia quase ouvir a respiração hesitante de Dr. Ribeiro. "Senhor Daniel... por que o interesse nesse assunto tão antigo?" A voz do advogado era cautelosa, quase temerosa.

"Apenas um levantamento histórico para um novo projeto", Daniel mentiu, forçando um tom casual. "É crucial para o planejamento."

"Certo... entendo. Bem, houve um caso. Há muito tempo. Envolvia a antiga proprietária da floricultura, Lúcia Fontes, e... e seu pai, Senhor Otávio", Dr. Ribeiro finalmente cedeu, a voz ainda hesitante. "Foi um processo complicado, mas abafado na época. Não há muitos registros públicos."

"E qual era a natureza da disputa?", Daniel pressionou, seu coração batendo mais forte.

"Basicamente, uma contestação de posse. A família Fontes alegava que parte do terreno da floricultura, que seu pai adquiriu para expandir os primeiros negócios da incorporadora, lhes pertencia por direito ancestral. Mas não prosperou. Seu pai, Senhor Otávio, conseguiu provar a legitimidade da compra", Dr. Ribeiro explicou, a voz agora um pouco mais firme, como se estivesse recitando uma história decorada. "Foi um alívio quando tudo se resolveu. E, se me permite o conselho, é melhor deixar certas coisas no passado, Senhor Daniel. O presente já tem seus desafios."

Daniel agradeceu e desligou. A conversa confirmava parte do que Isabela dissera. Seu pai estava envolvido. Mas por que ele teria mentido sobre a natureza do interesse na floricultura? E quem era Elias?

No dia seguinte, em seu escritório, Daniel estava imerso em relatórios quando a porta se abriu abruptamente. Era Verônica. Seus olhos verdes frios estavam mais afiados que o normal, e seu sorriso, um fio de lábio, não escondia sua satisfação. Ela vestia um vestido justo de um tom de verde esmeralda, que realçava seu físico esbelto.

"Soube que a pequena Isabela Fontes teve uma surpresinha esta manhã", ela anunciou, cruzando os braços.

Daniel ergueu uma sobrancelha. "Que tipo de surpresa, Verônica?"

"Digamos que a prefeitura de Nova Friburgo decidiu fazer uma fiscalização 'inesperada' na floricultura dela. Pareceu que havia algumas irregularidades com licenças e alvarás, sabe? Coisas que uma empresa 'antiga' como a dela pode esquecer", ela disse, com um brilho malicioso nos olhos. "Aparentemente, a multa será salgada. Tão salgada que ela não terá escolha a não ser vender."

Daniel sentiu uma onda de raiva. "Você fez isso, Verônica? Eu disse para não intervir!"

"Eu estou protegendo os interesses da empresa, Daniel. E os nossos. Aquele terreno é valioso. E você estava demorando demais para agir", ela respondeu, com a voz gélida. "Além do mais, o tio Otávio me deu carta branca para acelerar o processo, se necessário."

Daniel se levantou, batendo as mãos na mesa. "Você não tem ideia do que está fazendo! Há mais nessa história do que você pensa. Não é apenas sobre dinheiro."

Verônica deu de ombros. "Tudo é sobre dinheiro, primo. E poder. E eu garanto que conseguiremos o que queremos." Ela deu um sorriso vitorioso e saiu, deixando Daniel com a frustração borbulhando dentro dele. Ele precisava agir rápido.

Enquanto isso, na Floricultura Fontes, o dia de Isabela começou com um pesadelo burocrático. Dois fiscais da prefeitura, com semblantes sérios e pranchetas em mãos, apareceram logo cedo. Eles apontaram uma série de "irregularidades": licenças vencidas, alvarás desatualizados, até mesmo uma pequena rachadura na parede que, segundo eles, comprometia a estrutura. A lista de exigências era absurda para um lugar tão antigo, e a multa, exorbitante.

Isabela, vestindo uma camiseta de algodão e calças jeans surradas, com os cabelos presos em um rança frouxa e o rosto sujo de terra, tentou argumentar, explicar que mal havia chegado e estava tentando regularizar tudo. Mas os fiscais eram irredutíveis. "Senhorita Fontes, a lei é clara. Ou a senhora se adequa e paga a multa, ou a floricultura será interditada", disse um deles, com uma voz monótona.

Ela sabia que isso era obra de Verônica. A ameaça velada da noite anterior agora se concretizava. A raiva acendeu uma faísca em seus olhos castanhos mel. Eles queriam que ela desistisse? Isso só a faria lutar com mais força.

Isabela pegou o telefone e discou para Daniel. Ela precisava falar com ele, não apenas para acusá-lo das ações de sua prima, mas para entender a dimensão daquele jogo.

"Daniel", ela disse, assim que ele atendeu, sua voz tensa, "a sua prima agiu. A prefeitura esteve aqui. Multas e ameaças de interdição. Você tem alguma ideia do que está acontecendo?"

Daniel, do outro lado da linha, suspirou. "Eu sinto muito, Isabela. Eu soube. Verônica agiu por conta própria, ou melhor, sob a 'permissão' do meu pai. Eu juro que não compactuo com essas táticas. Mas agora eu sei que Elias é um nome ligado ao passado da sua avó e à uma disputa de terras com a minha família. Eu conversei com um advogado antigo da incorporadora. Meu pai esteve envolvido."

Isabela ficou em silêncio por um momento. As peças começavam a se encaixar de uma forma dolorosa. "E a Orquídea Escarlate?", ela perguntou, a voz quase um sussurro. "Minha avó a mencionava nos diários, junto com Elias, como se fosse a chave de algo."

"Meu pai também tinha uma estranha obsessão por essa orquídea. É como se ela fosse o elo perdido em toda essa história", Daniel respondeu. "Olha, Isabela, não podemos deixar Verônica e meu pai vencerem dessa forma. Eu sei que pareço o inimigo, mas não sou. Eu não quero que a floricultura seja destruída por táticas sujas."

"O que você sugere, então?", Isabela perguntou, sentindo um pingo de esperança misturado com a desconfiança.

"Precisamos encontrar a verdade sobre Elias e a disputa de terras. Se houver alguma ilegalidade no que meu pai fez no passado, a floricultura pode ser sua por direito, e eles não terão argumentos para te tirar de lá. E quanto à multa... eu posso te ajudar."

Isabela hesitou. Aceitar ajuda de um Albuquerque? Era quase um sacrilégio para sua família. Mas ela estava encurralada. "Ajudar como?"

"Consigo um bom advogado, e podemos tentar um recurso. E, se for preciso, um empréstimo para pagar essa multa, sem juros, até que você consiga reabrir a floricultura. Considere um investimento em uma parceria futura, na busca da verdade. O que acha?", Daniel ofereceu, sua voz mostrando uma sinceridade que surpreendeu Isabela.

Isabela sentiu o peso da decisão. Ela não confiava totalmente em Daniel, mas a proposta era a única saída imediata. E se o que ele dizia sobre Elias e a disputa de terras fosse verdade, eles estavam em lados opostos de uma mesma moeda.

"Tudo bem, Daniel. Eu aceito sua ajuda. Mas quero tudo documentado. E nada de segredos entre nós sobre essa investigação. Estamos nisso juntos", Isabela disse, sua voz firme, embora ela soubesse que estava pisando em um terreno perigoso.

"Combinado, Isabela", Daniel respondeu, e Isabela podia sentir um certo alívio em sua voz. "Você não vai se arrepender."

O sol de Nova Friburgo começava a se inclinar no céu, tingindo a floricultura com tons alaranjados. Isabela olhou ao redor, para as paredes empoeiradas e as plantas sedentas. A luta estava apenas começando, e ela tinha um aliado inesperado. Um aliado com olhos azuis profundos e segredos familiares que se entrelaçavam com os seus. O jogo de gato e rato em Nova Friburgo havia apenas começado, e a cada passo, as sombras do passado pareciam se tornar mais nítidas.

Capítulos
1 Capítulo 1: O Regresso e a Resistência
2 Capítulo 2: O Silêncio da Lembrança
3 Capítulo 3: A Poeira do Passado e as Sombras do Presente
4 Capítulo 4: O Pacto Secreto e a Sombra de um Nome
5 Capítulo 5: O Rato e o Gato na Cidade Serrana
6 Capítulo 6: O Enigma de Elias e a Conexão Inesperada
7 Capítulo 7: A Trilha Escondida e os Primeiros Suspeitos
8 Capítulo 8: A Caixa Secreta e o Eco de uma Traição
9 Capítulo 9: A Fuga Pela Serra e o Segredo de Armando
10 Capítulo 10: O Refúgio Secreto e o Plano de Batalha
11 Capítulo 11: A Teia de Contatos e a Primeiras Pistas Financeiras
12 Capítulo 12: A Jornalista e a Teia Exposta
13 Capítulo 13: O Furacão da Verdade e a Retaliação Implacável
14 Capítulo 14: Sob Cerco e a Busca por Testemunhas
15 Capítulo 15: Uma Visita Inesperada e um Aliado Secreto
16 Capítulo 16: O Último Trunfo e a Falsa Bandeira – Uma Teia de Enganos Mais Profunda
17 Capítulo 17: O Julgamento da Opinião Pública e a Caçada Implacável
18 Capítulo 18: Reconstrução e Resiliência em Nova Friburgo
19 Capítulo 19: O Testemunho do Tempo e Novas Sementes
20 Capítulo 20: A Sombra de um Antigo Colega
21 Capítulo 21: Pistas Subterrâneas e a Obsessão Recrudescida
22 Capítulo 22: Infiltração e A Descoberta da Rede Sombria
23 Capítulo 23: O Cerco se Fecha e a Revelação da Organização "Gênesis Verde"
24 Capítulo 24: O Enigma do "Jardineiro" e a Rede Invisível
25 Capítulo 25: O Projeto Pandora e a Teoria da "Recomposição"
26 Capítulo 26: A Contraofensiva e a Arte da Camuflagem Botânica
27 Capítulo 27: A "Conexão" da Orquídea e o Cérebro da Operação
28 Capítulo 28: A Caça à Batuta e a Vulnerabilidade do Cérebro
29 Capítulo 29: O Eco Digital da Orquídea e a Contra-Vigilância
30 Capítulo 30: A Sinfonia de Luzes e a Resposta Silenciosa
31 Capítulo 31: A Reunião Estratégica e o Plano Audacioso para Kastellorizo
32 Capítulo 32: A Melodia do Engano e a Incursão no Santuário Subterrâneo
33 Capítulo 33: O Confronto no Santuário e a Verdade da Batuta
34 Capítulo 34: A Batalha Legal e a Rede de Resgate Global
35 Capítulo 35: As Cicatrizes da Sinfonia e a Reorganização da Esperança
36 Capítulo 36: A Expansão do Legado e o Preço da Fama
Capítulos

Atualizado até capítulo 36

1
Capítulo 1: O Regresso e a Resistência
2
Capítulo 2: O Silêncio da Lembrança
3
Capítulo 3: A Poeira do Passado e as Sombras do Presente
4
Capítulo 4: O Pacto Secreto e a Sombra de um Nome
5
Capítulo 5: O Rato e o Gato na Cidade Serrana
6
Capítulo 6: O Enigma de Elias e a Conexão Inesperada
7
Capítulo 7: A Trilha Escondida e os Primeiros Suspeitos
8
Capítulo 8: A Caixa Secreta e o Eco de uma Traição
9
Capítulo 9: A Fuga Pela Serra e o Segredo de Armando
10
Capítulo 10: O Refúgio Secreto e o Plano de Batalha
11
Capítulo 11: A Teia de Contatos e a Primeiras Pistas Financeiras
12
Capítulo 12: A Jornalista e a Teia Exposta
13
Capítulo 13: O Furacão da Verdade e a Retaliação Implacável
14
Capítulo 14: Sob Cerco e a Busca por Testemunhas
15
Capítulo 15: Uma Visita Inesperada e um Aliado Secreto
16
Capítulo 16: O Último Trunfo e a Falsa Bandeira – Uma Teia de Enganos Mais Profunda
17
Capítulo 17: O Julgamento da Opinião Pública e a Caçada Implacável
18
Capítulo 18: Reconstrução e Resiliência em Nova Friburgo
19
Capítulo 19: O Testemunho do Tempo e Novas Sementes
20
Capítulo 20: A Sombra de um Antigo Colega
21
Capítulo 21: Pistas Subterrâneas e a Obsessão Recrudescida
22
Capítulo 22: Infiltração e A Descoberta da Rede Sombria
23
Capítulo 23: O Cerco se Fecha e a Revelação da Organização "Gênesis Verde"
24
Capítulo 24: O Enigma do "Jardineiro" e a Rede Invisível
25
Capítulo 25: O Projeto Pandora e a Teoria da "Recomposição"
26
Capítulo 26: A Contraofensiva e a Arte da Camuflagem Botânica
27
Capítulo 27: A "Conexão" da Orquídea e o Cérebro da Operação
28
Capítulo 28: A Caça à Batuta e a Vulnerabilidade do Cérebro
29
Capítulo 29: O Eco Digital da Orquídea e a Contra-Vigilância
30
Capítulo 30: A Sinfonia de Luzes e a Resposta Silenciosa
31
Capítulo 31: A Reunião Estratégica e o Plano Audacioso para Kastellorizo
32
Capítulo 32: A Melodia do Engano e a Incursão no Santuário Subterrâneo
33
Capítulo 33: O Confronto no Santuário e a Verdade da Batuta
34
Capítulo 34: A Batalha Legal e a Rede de Resgate Global
35
Capítulo 35: As Cicatrizes da Sinfonia e a Reorganização da Esperança
36
Capítulo 36: A Expansão do Legado e o Preço da Fama

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