Cap. 5- Família Cooper

Ethan...

Nasci nos Estados Unidos, mas me mudei para o Brasil quando tinha apenas cinco anos. Foi aqui que cresci, que vivi minhas primeiras amizades, meus primeiros sonhos… até que, aos quinze, fui praticamente arrastado de volta para os Estados Unidos. E desde então, minha vida se desenrolou por lá. Faz exatamente 17 anos que não ponho os pés no Brasil.

Minha família sempre teve grande influência por aqui. Meu avô, Erivaldo Cooper, é um renomado neurocirurgião e proprietário de um dos maiores hospitais privados do país. Desde sempre, fazer com que alguém de seu sangue herdasse seu legado foi sua maior obsessão.

Ele teve dois filhos: Hélio e Ivana. Hélio, o filho mais velho, era dedicado, mas não seguiu os passos do pai — formou-se em Administração e nunca demonstrou interesse pela Medicina. Toda a esperança então recaiu sobre Ivana, a caçula. Mas os planos do vovô desmoronaram quando, aos dezessete anos, ela engravidou pouco depois de ser aprovada no vestibular de Medicina. Uma decepção que ele jamais disfarçou.

Nossa família sempre viveu sob o peso das expectativas — principalmente a de se formar em Medicina. Quando minha mãe decidiu retomar os estudos, anos depois, já era tarde para atender aos desejos do meu avô. Seu coração já pertencia ao universo das artes. Optou por cursar História da Arte, o que só acentuou os conflitos entre eles. Hoje, vive viajando e trabalhando como curadora.

Já meu tio Hélio, por outro lado, sempre sonhou em atuar no hospital — mas na parte administrativa. Conseguiu seu espaço e hoje ocupa o cargo de diretor financeiro. Seu maior embate, no entanto, não é com o vovô, mas com a atual esposa dele: a médica Tereza Mendes, que entrou para a família trazendo consigo duas filhas e uma boa dose de tensão nos bastidores.

Como a família patriarcal que somos, certas datas são obrigatórias para todos, especialmente os encontros familiares, geralmente realizados em Los Angeles, onde o vovô também possui propriedades, apesar dos negócios estarem concentrados no Brasil.

O neto primogênito do vovô, Lorenzo, escolheu a carreira artística — o que acabou jogando sobre mim o fardo da próxima grande expectativa da família. Eu levava uma vida típica de playboy, torrando dinheiro sem preocupações. Quando percebi que poderia ser forçado a estudar Medicina, resolvi escolher minha própria carreira e fui para a área da Publicidade.

Me chamo Ethan Legran Cooper, tenho 32 anos, sou publicitário, filho da Ivana, pai desconhecido, e segundo neto da família Legran Cooper. Voltei ao Brasil para abrir uma agência de publicidade junto com meu amigo brasileiro, Caleb, que conheci nos Estados Unidos.

[Aeroporto]

Acabei de desembarcar no Brasil. De cara, vejo um cara de terno com uma plaquinha com meu nome. Desvio o caminho rapidamente e então encontro Caleb, correndo ao me ver.

CALEB: Quase não chego a tempo! E aí, como foi o voo?

ETHAN: Diria que tranquilo... se eu não tivesse dormido e tido mais um daqueles pesadelos. Desde que decidi voltar para o Brasil, eles têm sido frequentes.

CALEB: Você precisa voltar pra terapia.

ETHAN: E como anda a agência?

CALEB: Fluindo! Precisamos de um cliente grande para alavancar de vez. Estamos negociando com uma grande empresa de cosméticos. Se fecharmos, é nossa chance de firmar a marca aqui.

ETHAN: Vamos nessa.

CALEB: Aquele ali não é um dos homens do seu avô? Está com uma placa com seu nome...

ETHAN: Parece que não consegui voltar em sigilo. Vamos sair daqui antes que ele me veja.

CALEB: E vai ficar onde?

ETHAN: Por enquanto? No apartamento do meu sócio e melhor amigo. Pode ser?

CALEB: Sempre. Vamos.

Caleb é brasileiro, morou por 12 anos nos Estados Unidos e se formou em Publicidade. Nós nos conhecemos na universidade. Apesar das diferenças de personalidade — ele sempre mais focado e determinado, enquanto eu era mais impulsivo e deslumbrado com o dinheiro — viramos grandes amigos.

Ele veio antes para o Brasil, há cerca de oito meses, e praticamente tocou tudo sozinho até minha chegada. Eu ajudava à distância e, com o tempo, percebi que precisava levar meu futuro a sério. Juntos, decidimos abrir nossa agência.

Consegui ficar só dois dias no apartamento do Caleb antes de ser pressionado a me mudar para o condomínio da família.

[O Condomínio dos Cooper]

O lugar é fechado, com apenas seis mansões. Uma pertence ao vovô, que mora com sua esposa. A segunda é do tio Hélio. A terceira é da minha mãe, que quase não aparece, e é onde estou agora. As duas últimas pertencem a um deputado e a um artista famoso — o vovô sonha em comprá-las para dizer que o condomínio é todo dele.

Minha vida no Brasil está se ajeitando. Estou focado em fazer nossa agência crescer, mas sem deixar de lado meu estilo de vida luxuoso. Seis meses depois da minha chegada, comprei uma máquina de 780 cavalos, com um valor de alguns milhões — claro que não foi com o lucro da agência. Vendi bens no exterior e o vovô contribuiu com o restante.

Vou mantendo o velho Cooper enganado, fazendo trabalhos de publicidade para o hospital e alimentando falsas promessas de um dia assumir algum cargo de direção.

[Na Agência]

Chego por volta das 10h. Caleb está com cara de poucos amigos.

CALEB: Eu pedi pra você participar da reunião, Ethan!

ETHAN: Foi mal! Precisei buscar uma belezinha nova. Você vai adorar.

CALEB: Depois, Ethan!

ETHAN: A Paco Rabanne não fechou com a gente?

CALEB: Quase... Mas eles exigiram o Lorenzo como rosto da marca no Brasil.

ETHAN: Sério? Escolher aquele cantor decadente em pleno século 21?

CALEB: Vai ter que engolir o orgulho. Esqueça as diferenças entre vocês e trate de não estragar essa campanha. Essa conta é crucial.

ETHAN: Que seja...

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Duas semanas se passaram, e seguimos com a campanha da Paco Rabanne, infelizmente com o idiota do meu primo como estrela principal.

Estou em casa, relaxando, quando ele liga.

📱ETHAN: Ethan na escuta.

📱LORENZO: Preciso de um favor urgente!

📱ETHAN: Agora virei seu faz-tudo?

Desligo na cara dele. Ele liga de novo.

📱LORENZO: Lembra da Francine Rebel? Aquela modelo, filha de um dos empresários que o vovô vivia levando aos jantares?

📱ETHAN: Aquela que só ficou com você porque não tinha chance comigo?

📱LORENZO: Essa mesma. Ela está aqui, dizendo que vai divulgar vídeos... comprometedores. Se eu continuar ignorando.

📱ETHAN: E eu com isso?

📱LORENZO: Se ela me expuser, vai manchar minha imagem, justo agora. Sua agência também vai sofrer! Você entende.

📱ETHAN: E sua equipe de RP?

📱LORENZO: Já me deram um ultimato. Um escândalo a mais e cancelam minha turnê. Preciso que você vá ao hotel, veja se ela realmente tem os vídeos e quanto quer por eles. Certifique-se de obter tudo, inclusive cópias.

📱ETHAN: Qual hotel?

📱LORENZO: Hotel Fasano. Tenho uma suíte exclusiva lá. Já avisei da sua chegada. Vá às 11h em ponto.

Desliga sem esperar resposta. Olho para o relógio, bufo e vou me aprontar.

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