Minha entrada foi liberada e passei por salas onde grupos de pessoas estudavam legislação, segurança eletrônica e outros com aulas práticas de primeiros socorros, educação física... O que mais me chamou a atenção foi a aula de defesa pessoal. Fiquei vidrada, observando as técnicas, até que um homem com camisa de instrutor se aproximou para perguntar:
SENHOR: Achou interessante?
ZOE: Sim!
SENHOR: Veio para se inscrever?
ZOE: Ah, não! Vim fazer uma entrega para o senhor Lázaro.
SENHOR: Ele está naquela sala ali, pode ir lá! Depois, se quiser, te mostro mais dos nossos cursos.
ZOE: Valeu!
Entrei num escritório e vi o senhor Lázaro, e me lembrei melhor dele. Sempre o via fazendo hemodiálise no mesmo hospital onde me tratei, e ele sempre conversava com minha mãe.
ZOE: Olá, senhor Lázaro! Lembra-se de mim? Sou a Zoe, filha da Solange.
LÁZARO: Oh, claro que sim! Como você está, menina? Vejo que ganhou mais cor e peso.
ZOE: Sim! Estou bem! Vim lhe trazer isto!
Entrego a sacola com os sacolés.
LÁZARO: Que bom! Pensei que sua mãe tivesse se esquecido de mim hoje.
ZOE: O senhor tem uma escola bem legal!
LÁZARO: Você deu uma olhada? O que mais te chamou a atenção?
ZOE: Gostei da aula de defesa pessoal.
LÁZARO: Você está com que idade agora?
ZOE: Dezenove.
LÁZARO: Espera mais dois anos e venha fazer nosso curso.
ZOE: Eu ainda estou terminando o ensino médio, estudo de manhã, mas vou trabalhar bastante e juntar a grana para fazer esse curso. Acho interessante! Já pensou eu sendo segurança pessoal de um artista tipo o Lorenzo Cooper? Eu o conheci no hospital e, digamos, já salvei a vida dele! Devo ser boa nisso!
LÁZARO: Risos... Já o vi por lá no hospital, mas não tive a sorte de conhecê-lo como você!
ZOE: Será que ele vive doente? Até o senhor o viu por lá!
LÁZARO: Nem sempre. O hospital pertence à família dele. “Hospital Geral Legrand Cooper”.
ZOE: Ah, é! Faz sentido o mesmo sobrenome. Dessa eu não sabia, e olha que minha tia trabalha lá há anos e nunca comentou.
LÁZARO: E você está trabalhando?
ZOE: Não. Só ajudo minha mãe na produção e entrega dos sacolés.
LÁZARO: Você por acaso quer trabalhar aqui? Estamos precisando de um ajudante para os instrutores.
ZOE: Está falando sério? O senhor está me oferecendo um emprego?
LÁZARO: Estou sim! Mas converse com sua mãe primeiro. Você pode trabalhar meio período aqui e, quem sabe, quando fizer 21 anos, se ainda estiver por aqui, poderá começar nosso curso sem custos.
ZOE: Carambolas! Eu curti demais essa ideia! Vou correndo para casa agora e ligar para a maínha.
LÁZARO: Se ela concordar, você já pode vir amanhã depois das aulas, e eu te explicarei o que você irá fazer aqui.
ZOE: Obrigada, senhor Lázaro! Amanhã estarei aqui sem falta!
Saí da sala toda animada e, mais uma vez, passei pelas aulas práticas, observando tudo. À noite, contei a novidade para minha mãe e tia, que gostaram da ideia, até que minha tia me preocupou com um detalhe.
DENISE: Acho que o senhor Lázaro tem uma queda pela sua mãe, Zoe. Tem que ver o quanto são amigos. Rs
SOLANGE: Deixe de bobagem! Apenas nos conhecemos desde que passei a frequentar o hospital, e ele se tornou um grande viciado nos meus sacolés — é um cliente regular!
DENISE: Mas, Zoe, um curso de vigilante ou segurança mexe com armas.
ZOE: O quê?
SOLANGE: Verdade, minha filha!
ZOE: Eu não vi armas lá. Mas eu não tenho idade para fazer o curso agora, apenas vou trabalhar como ajudante.
DENISE: E se você vir um monte de armas e tiver uma crise?
SOLANGE: Eu vou ligar para o senhor Lázaro amanhã e explicar sua situação, Zoe.
ZOE: Talvez, aos poucos, eu perca o medo.
No dia seguinte, cheguei animada, e Lázaro me recebeu no escritório para explicar o tipo de ajuda que queria de mim. Mostrou toda a instituição, juntou os instrutores e trabalhadores da escola e me apresentou.
Percebi que todos os funcionários eram homens, dos instrutores ao servente; de mulheres, só vi algumas alunas.
Depois de conhecer todos, Lázaro me chamou novamente para o escritório.
LÁZARO: Zoe, sua mãe me ligou hoje de manhã e explicou sua situação. Por isso, vou deixá-la fora das aulas de armamento e tiro. Fique despreocupada: o estande de tiros não fica aqui, nós alugamos o espaço em outro local. Nas aulas do instrutor Douglas, que é o responsável pelo armamento, você ficará de fora, ok?
ZOE: Agradeço muito por isso!
LÁZARO: Quem sabe, com o tempo, você perca o medo e faça o curso completo de segurança. Rs
Numa segunda-feira, iniciei meus trabalhos. Comecei fazendo cópias de apostilas da aula do Renato, instrutor de Legislação. Depois, tirei algumas cadeiras da quadra para a aula de combate e prevenção de incêndio com o instrutor Leandro. Eu ficava ali, sempre dando alguma assistência aos instrutores, que eram os caras mais legais.
Dois meses depois, no meu intervalo da tarde, acompanhei minha aula favorita de defesa pessoal com o Sidney, filho do senhor Lázaro.
Um homem forte, bonito, negro e de olhos claros chegou e ficou observando até que Sidney percebeu sua presença e o convidou para uma demonstração.
Achei que Sidney iria acabar com o rapaz, mas o visitante derrubou o instrutor — o que me fez até engasgar com o sanduíche que eu comia.
No final, Sidney apresentou o visitante como seu irmão mais novo, faixa preta em jiu-jitsu e fuzileiro naval. Encheu a bola do irmão caçula com suas habilidades e dispensou a turma, indo com alguns instrutores para o escritório do senhor Lázaro.
Eu comecei a arrumar a quadra, fazendo meu trabalho, enquanto eles saíam animados e me apresentavam.
SIDNEY: Asaf, esta é nossa caçulinha, Zoe. A queridinha do papai! Rs
Ele me observou, esticou a mão para me cumprimentar, e senti um certo nervosismo diante daquele homem com currículo tão legal e um sorriso lindo.
RENATO: A Zoe adora as aulas de defesa pessoal e aposto que ficou estática ao te ver derrubando o Sidney. Rsrs
ZOE: Foi incrível mesmo!
ASAF: Eu que ensinei tudo que ele sabe! Rs
RENATO: Aposto que Sidney perderá sua fã para Asaf! Rs
SIDNEY: Quando você irá embora mesmo, Asaf? Rs
Todos riram e brincaram entre si. Asaf ficou na cidade por cerca de quinze dias, estava presente em todas as aulas, e no final do meu expediente até me ensinou alguns golpes. Passei a admirá-lo ainda mais.
Uma coisa é certa: eu amo trabalhar aqui no Front, me tornei a caçulinha da família, e já sonho em ser um dia instrutora como eles.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 46
Comments