_Analice_
Mamãe me deixou de castigo a noite inteira — e o pior de tudo? Nem pude assistir aos meus doramas do mundo humano! Isso é absolutamente injusto! Tenho certeza de que a Savannah não foi punida por ser arrogante, mas eu sou castigada por me defender?
Pois bem... Isso não vai ficar assim.
Vou convencer a Stella de que precisamos sair daqui. Se não tomarmos uma atitude agora, jamais seremos verdadeiramente livres! Eu me sinto como uma prisioneira — acorrentada por expectativas que não escolhi.
O dia amanheceu e embora eu não quisesse levantar da cama, como sempre, a minha mãe conseguiu me convencer.
No caminho para a escola, ela tentou conversar comigo, como quem deseja compreender o meu lado, mas no fim, sempre vem junto com o sermão carinhoso.
— Filha, eu sei que é difícil lidar com a inveja, mas você precisa aprender a se controlar. Eu e seu pai prezamos pela paz entre os membros da alcatéia, mas também não toleramos injustiças! Hoje mesmo, falarei com o pai dela sobre o que ocorreu. Você é a princesa e precisa ser respeitada como tal. No entanto, jamais aja com ignorância — isso pode ser usado contra você. Lembre-se: você será nomeada alfa desta alcatéia no futuro e precisa estar preparada.
— Tá, mãe... Eu vou tentar me controlar mais, no futuro.
Bem no futuro mesmo...
— Assim espero. Mudando de assunto... Hoje, o seu pai e eu receberemos convidados na barreira. O rei vampiro e a sua condessa estarão aqui para renovar o tratado de paz firmado há seis anos...
Revirei os olhos, como quem já sabia onde aquilo ia dar.
— Ah, mãe... pela Deusa, não me diga que ele virá também...
— Analice, vocês dois precisam, ao menos, manter uma convivência amistosa. É para o bem da alcatéia... Por favor, tente mudar os seus pensamentos em relação ao príncipe.
— Não vou poder recebê-los. Sinto muito... Tenho planos com a Stella hoje à noite e além disso, nem o conheço mais! Já se passaram seis anos desde a última vez que o vi. Talvez, no futuro — quando eu encontrar o meu companheiro e ele encontrar a condessa dele — possamos formar uma aliança pelos nossos povos, mas agora? Não quero lidar com aquele ser.
Falei com um tom entediado, virando o rosto para a janela.
— Mude esse seu linguajar, mocinha!
Observei as ruas passarem enquanto me lembrava de uma memória antiga...
— **Flashback** —
— Sua feia!
— Seu merdinha!
A gente vivia brigando, feito cão e gato, mas havia um motivo: ele me odiou primeiro e como a orgulhosa que sempre fui, retribuí em dobro.
— Pelo menos eu não sou um cachorro sarnento!
— Disse ele com aquela típica voz irritante de menino mimado.
— E eu não sou uma morcega raivosa cheia de doenças! — Falei fazendo o som de morcego raivoso na sua direção.
Foi aí que partimos para a briga. Ele puxou o meu cabelo e eu puxei o dele...
— Me solta, pirralha!
— Me solta você, doença!
Foi quando uma voz estrondosamente autoritária brandou:
— PAREM OS DOIS AGORA MESMO!
Minha mãe tentou nos separar, mas quanto mais ele puxava, mais eu revidava.
Não lembro exatamente como terminou — provavelmente por causa do belo porrete que levei da mamãe. Depois disso, nos evitamos ao máximo.
Eu o odiava e ele me odiava.
— **Fim do flashback** —
Peguei a minha garrafinha d’água, tentando apagar mentalmente aquela lembrança humilhante e comecei a tomar água...
— Eu nunca entendi esse ódio todo. Vocês eram crianças, não havia motivo para tanto rancor e vai que... ele é seu companheiro predestinado?
Cuspi toda a água, engasgando com a simples mensão olhando para ela indignada. Minha mãe começou a bater nas minhas costas para ajudar, mas só piorou!
— Mãe!! Por favor, retira essa ideia horrenda da sua cabeça!
— O que eu falei demais? Foi só uma suposição... Vai que...
— Mãe! A Deusa jamais seria tão cruel a ponto de me dar aquele morcego adoentado como companheiro! Isso seria uma punição, não um destino...
— Respeite sua avó, mocinha!
— Ah, é impossível conversar com você!
— Primeiro: você não pode escolher o seu futuro. Segundo: isso é drama demais para pouca coisa.
— Vamos parar de falar desse assunto antes que eu vomite... — Falei já sentindo o estômago revirar...
Ela apenas revirou os olhos e seguimos em silêncio.
Ao chegar na escola, dei um beijo rápido em sua bochecha e saltei do carro. Stella já me esperava do lado de fora...
— Pela sua cara, a bronca foi feia.
— Nem me fale... — Respondi arrastada e entediada.
Mamãe então buzinou, chamando a nossa atenção.
— Oi, linda! Sua mãe vai lá em casa hoje?
— Disse que sim, tia!
— Ótimo. Tenham uma boa aula e fique de olho nessa aí.
— Pode deixar, tia!
Bufei e segui na frente. Stella logo colou ao meu lado, cruzando os braços e encostando a cabeça no meu ombro.
— Você precisa entender mais a sua mãe. — Disse ela naquele tom que eu detestava.
— Até você, Stella?
— Eu sei que você odeia ser repreendida, mas tenta ver o lado dela. Ela está sobrecarregada e a sua coroação se aproxima... Ela precisa de apoio.
— Você devia ter nascido filha dela. Vocês são igualzinhas...
— E você puxou a minha mãe: livre, impulsiva e indomável.
Rimos juntas e seguimos para a aula.
Durante o intervalo, caminhávamos pelos corredores quando demos de cara com um grupo de... lobas.
— Olha só quem está aqui. Foi repreendida, né? Isso só prova que eu estava certa. Você não serve para ser princesa... — Disse Savannah com a sua acidez de cobra venenosa.
— Quando eu for companheira do seu irmão, serei a suprema e você vai rastejar aos meus pés. — Completou ela com aquele sorriso irritante de sinceridade forçada.
— Isso se eu não despedaçar a sua cabeça antes. Você não serve nem para ser serviçal e hoje, vamos ver quem será repreendida.
— Já correu pro colinho do seu papai? Ele que sempre limpa sua bagunça, não é? — Falou ela forçando uma voz infantilizada com aquele bico de deboche que eu adoraria arrancar com a faca.
As lobas que estavam atrás dela logo começaram a rir...
Me virei para Stella com um sorriso demoníaco de lado e perguntei:
— Stella... Criticar a sua futura alfa se enquadra como traição?
— Não sei, mas se você for alfa e ela continuar aqui... pode despedaçá-la em praça pública.
Savannah empalideceu. Confesso que até eu me assustei um pouco com o tom da Stella!
— Isso é tirania! — Gritou Savannah com aquele olhar de quem já teme o futuro.
— Usurpar um lugar que não lhe pertence também é, querida. Se eu contar ao meu irmão as suas intenções... bem, ele é o futuro supremo. Eu teria medo, se fosse você! — Contra-ataquei com os braços cruzados, caminhando lentamente e olhando no fundo dos seus olhos.
As amigas de Savannah recuaram, deixando-a para trás com os punhos cerrados.
— Isso não vai ficar assim, Analice!
— É Princesa Analice pra você.
Ela saiu furiosa, já eu e a Stella surtamos de rir como duas hienas.
— Foi épico! Você é incrível.
— É assim que se vence uma guerra.
O sino tocou para o treino. Stella seguiu para ecologia, enquanto eu ia para o campo de treinamento.
— Demorou, platinada. — Falou meu irmão com aquela sua típica pose de macho alfa.
— Estava bebendo água.
— Quer ficar no meu time hoje? — perguntou ele com o seu tom convencido de sempre...
— Aí não teria graça. Você é o único que presta pra combate...
Ele riu, voltando para os amigos.
Meu irmão Kastiel é... Digamos que "o colírio para os olhos" de muitas lobas daqui (senão todas).
Muitas dizem que ele é a verdadeira encarnação da perfeição esculpida pelos deuses (que exagero)...
com 1,80 de altura o meu irmão já é um verdadeiro guerreiro nato entre os lobos mais fortes dessa alcatéia (senão de todas as outras também).
Fui me alongar e logo algumas lobas se aproximaram para entrar no meu time. Sempre escolho as mais fracas — é uma tática. Assim elas se fortalecem comigo e a alcatéia se beneficia...
Mas Savannah me encarava com fúria. Sabia que ela aprontaria algo!
Avisei mentalmente o Kastiel para ficar de olho na "cachorra" e ele só riu, confirmando com a cabeça, silenciosamente.
— Vai ser... você, você, você e você! — Falei apontando o dedo para cada uma que eu escolheria.
Uma das lobas bufou.
— Por que a princesa só escolhe as mais fracas?
Savannah, claro, aproveitou e falou com um sorriso sínico e debochado:
— É porque ela quer se exibir como a mais forte.
Então de repente uma voz colossalmente assustadora falou:
— Vocês são burras e idiotas? Até o mais burro entende o motivo para isso!!
O treinador apareceu, impondo-se com o seu corpo colossal.
— Mas ela só quer esfregar o título na nossa cara!
— Ela faz isso para inspirar os mais fracos! Por isso a qualidade do nosso treinamento subiu. Vocês querem continuar com esse pensamento de inúteis ou querem proteger a sua alcatéia? — Falou ele com um olhar mortal para todos...
Todos: — Proteger a alcatéia!
Sorri com satisfação e voltei a me alongar.
— Hoje, o treino será na mata. Cada equipe deve trazer três caças grandes! O time que trouxer primeiro, vence. — Ordenou o treinador com autoridade.
Todos nos olharam com receio. Eu e Kastiel éramos os mais fortes e ele me desafiava com o olhar, provocando o meu espírito competitivo.
— Sem frescuras. Em guerra, não há tempo para planos. Conheçam seus companheiros e lutem com coragem! — Completou o treinador — 1... 2... 3... JÁ!
Corremos mata adentro. Transformei-me em minha loba branca e esplendorosa — como a da mamãe, mas com traços únicos! Já Kastiel assumiu a sua forma negra como nosso pai...
— Concentração, pessoal! — Falei com o meu time pela ligação mental. Eles só me encaravam, abismados...
Dessa vez, Kastiel não vai ganhar.
Ou eu não me chamo Analice de Rize!
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[Continua...]
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Atualizado até capítulo 24
Comments
Ana Regina Fernandes Raposo
ELA VAI SER UMA ÓTIMA RAINHA, SABE QUE TEM GENTE QUE PRECISA DE TREINAR MAIS SUA CAPACIDADE.
2025-06-29
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