FLORES TARDIAS

FLORES TARDIAS

1983

... O peso do nome Teresa...

Teresa tinha apenas 20 anos quando o pai, de olhos duros e voz irrefutável, decretou seu destino.

— Você vai se casar — disse ele, batendo a palma da mão sobre a mesa da cozinha. — Já passou da idade, e homem bom não espera mulher indecisa.

O mundo tremeu dentro dela. Não era só a voz dele que estremecia a casa — era a certeza de que sua vida, a vida que queria, escorria pelos dedos como água morna. Teresa sonhava com cadernos, livros, crianças chamando-a de "professora". Mas o pai via isso como fantasia inútil.

Ela tentou argumentar, os olhos marejados.

— Pai… eu queria estudar…

— Estudar? Vai estudar pra quê, Teresa? Mulher minha casa. Professora de quê? Vai é aprender a cuidar de marido, é isso que você vai fazer.

A mãe estava ali, como sempre, entre os dois. Sentada na ponta da mesa, com o olhar abaixado, apertava o lenço nas mãos. Quando Teresa chorou mais alto, foi nos braços dela que caiu.

— Minha filha… — murmurou a mãe, entre soluços contidos. — Não enfrenta seu pai. Ele só quer o melhor. Se você não aceitar, ele cumpre o que disse… vai te botar pra fora.

Ser expulsa de casa, sozinha no mundo... O medo foi mais forte que o sonho.

O noivo chegou uma semana depois. Um amigo do pai, homem sério, advogado, trinta anos mais velho. Aos olhos da vizinhança, era uma bênção. Educado. Gentil. Trazia flores e falava baixo, com modos doces. Teresa se calou. A dor era silenciosa, e ninguém parecia ouvi-la.

Casaram-se em poucos meses. Nos primeiros dias, ele continuou o mesmo. Sorrisos. Café na cama. Promessas de uma vida tranquila. Mas foi só o tempo passar para que as paredes da casa revelassem outra versão dele — uma versão que gritava sem levantar a voz.

No silêncio da noite, ele se tornava um monstro. Controlava cada passo, cada palavra. Batia com frieza. Forçava-a no quarto, mesmo quando ela suplicava para não ser tocada. Teresa chorava todos os dias, mas em segredo. Sabia que ninguém acreditaria nela.

Nas horas em que ele saía para o escritório, ela respirava. Só então o peito se abria um pouco. Escondia livros sob o colchão. Estudava com o que podia. Lia à luz fraca da tarde, como se cada página roubada fosse uma semente do mundo que desejava.

Ele odiava vê-la lendo. Dizia que mulher com ideias demais era mulher que esquecia o lugar dela.

Mas Teresa lia mesmo assim.

Porque, no fundo, mesmo sem saber quando ou como, ela ainda acreditava: um dia, haveria mais para ela do que a prisão de um nome escrito num papel de casamento.

...O sim de Aurora...

Francisco lhe entregou um buquê de flores amarelas — suas favoritas — e perguntou, com um sorriso terno e mãos trêmulas:

— Casa comigo?

Aurora sorriu. Não precisou pensar.

Como poderia dizer não ao seu melhor amigo?

Namoravam havia cinco anos. Ele sempre foi gentil, respeitoso, paciente. Era da mesma idade, trabalhava no comércio dos pais desde cedo, um bom filho, um homem que todos consideravam digno e correto.

Dizer sim pareceu o certo. O natural. O esperado.

As duas famílias celebraram o noivado como quem recebe uma bênção.

Ela também se sentia feliz. Ou, ao menos, dizia a si mesma que deveria estar.

Francisco não mudou com o tempo. Não endureceu, não gritou, não a machucou. Pelo contrário — tornou-se ainda mais cuidadoso, mais presente, um marido dedicado. Não havia o que criticar.

Aurora engravidou poucos meses após o casamento.

Deu à luz um menino saudável, e ver o filho nos braços a fez sentir que estava exatamente onde deveria estar.

Ela era mãe. Era esposa. E estava, de alguma forma, em paz.

Mesmo sem amar Francisco.

Não que ele não fosse amável. Era. Mas o coração de Aurora batia num ritmo diferente.

Ela sempre achou que fosse normal o que sentia — ou o que não sentia.

Com o tempo, aprendeu a nomear aquilo como felicidade.

Afinal, ela tinha tudo que disseram que deveria querer.

E às vezes, pensava: talvez o amor não fosse tão importante assim.

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Comments

Nilva Santos

Nilva Santos

com sempre a história já prende nossa atenção

2025-06-24

1

Maria Andrade

Maria Andrade

começando a ler agora 😸

2025-07-10

0

Daiane

Daiane

Eu já gostei.
Continua autora ...

2025-06-23

0

Ver todos

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