A tarde em Milão parecia mais calma que o normal. O sol dourava os prédios antigos, e a mansão Castellazzo respirava um raro momento de paz. Leonardo almoçava em família quando o telefone vibrou em seu bolso.
Era Enzo.
— Filho, — disse com a voz firme do homem que ainda carregava resquícios do antigo Dom — preciso que vá à cafeteria Castellazzo da Via Paolo. Dois homens causaram problemas. Não feriram ninguém, mas houve gritos, ameaças. O gerente está assustado.
— Estou indo agora. — Leonardo respondeu sem hesitar.
Vestiu o blazer escuro por cima da camisa de linho, pegou as chaves da Maserati e deixou a mansão com passos firmes.
No caminho, o tráfego fluía tranquilo. Ele já estava a poucos quarteirões da cafeteria, virando uma esquina estreita quando o inesperado aconteceu.
Uma criança atravessou a rua correndo.
Leonardo pisou no freio com força, mas já estava próximo demais. O carro derrapou ligeiramente e, apesar de reduzir quase a zero, ainda atingiu a menina, que caiu e bateu a cabeça contra a calçada de pedra.
— Merda!
O carro parou bruscamente. Leonardo saiu apressado, o coração disparado.
A menina jazia no chão. Pequena, com cabelos escuros colados à testa, os olhos fechados e um pequeno filete de sangue escorrendo da lateral da cabeça.
Em segundos, o som de passos desesperados preencheu a rua.
— Milena! MEU DEUS, MILENA! — gritou uma mulher, correndo até a criança e ajoelhando-se ao lado dela.
Leonardo deu um passo atrás, observando a cena com a expressão tensa.
A mulher a segurou nos braços com desespero, os olhos arregalados e a respiração falha. Era jovem, de aparência ocidental, cabelos castanhos longos e feições suaves. Seus olhos o encararam com um misto de medo e fúria.
— Ela atravessou correndo... eu tentei frear. Eu já estava parando. Juro por Deus. — disse Leonardo, tentando manter a voz firme.
A mulher não respondeu de imediato. Apenas apertava a menina contra o peito.
Ele então se aproximou, olhando para os traços da criança — olhos puxados, traços delicadamente orientais.
— Você conhece essa criança? — ele perguntou, ainda surpreso com os traços.
— Sim... ela é minha filha.
Leonardo franziu o cenho.
— Sua filha?
— Sim. — respondeu a mulher, defensiva.
— O pai dela é oriental?
Ela hesitou por meio segundo, e então assentiu lentamente.
— Sim.
Leonardo não disse nada por alguns instantes. Seus olhos estavam fixos na criança, como se tentassem decifrar algo, mas nada lhe vinha à mente. Não havia lembrança, não havia conexão. Só a sensação estranha da coincidência dos traços.
— Ela precisa de atendimento imediato. Vamos levá-la ao hospital agora. — ele disse com decisão. — Eu conheço um hospital privado. Confie em mim.
A mulher, assustada, olhou para ele.
— Por favor, só... salve minha filha.
Leonardo a pegou com cuidado nos braços. A menina estava leve, desacordada. Correu com ela até o carro, a mulher ao seu lado, tremendo.
Não demoraram para chegar ao hospital Castellazzo — a instalação secreta da máfia, disfarçada de clínica ortopédica de luxo. Quando chegaram, a equipe já os aguardava, acionada pelo nome que Leonardo carregava.
— Acidente. Bateu a cabeça. Urgente. — ordenou, entregando a criança aos braços dos enfermeiros.
Ele se virou para a mulher.
— Qual o seu nome?
— Alessandra. — respondeu, os olhos fixos na porta por onde levaram a filha.
Leonardo assentiu, mas o nome não despertou nenhuma memória. Nenhum reconhecimento. Era só um nome comum entre tantos.
— Tudo bem. Vamos esperar aqui.
Instantes depois, um dos médicos surgiu com pressa.
— Precisamos de sangue. Ela está com sangramento interno leve, mas urgente. Tipo sanguíneo: AB negativo.
Leonardo imediatamente virou-se para Alessandra. Ela parecia ainda mais surpresa.
— Eu sou A positivo. — disse, em choque. — Ela... ela não é compatível comigo...
O médico completou:
— AB negativo é raro. Extremamente raro. Um dos mais difíceis de encontrar. Alguém da família, ou alguém compatível, precisa doar agora.
Leonardo sentiu o sangue gelar.
— Eu sou AB negativo.
O médico se virou de imediato.
— Pode doar?
Leonardo assentiu com firmeza.
— Agora mesmo.
Enquanto era levado para a sala de coleta, Alessandra se encostou na parede, visivelmente atordoada.
Leonardo deitou-se na cadeira de doação com o olhar fixo no teto. O sangue preenchia a bolsa devagar. Algo dentro dele o incomodava — não o procedimento, mas o detalhe. A menina... Milena... tinha o mesmo tipo de sangue que ele.
Raro.
Extremamente raro.
Quando terminou a doação, foi levado a uma sala lateral, onde Alessandra já o aguardava. Ela parecia confusa, ansiosa, perturbada.
— Você tem o mesmo tipo de sangue dela... — disse, mais para si mesma do que para ele.
Leonardo a observou com neutralidade.
— Coincidência rara, mas acontece.
— Acontece? — ela repetiu, como se tentasse convencer a si mesma.
— Sim. Vocês têm algum histórico oriental na família?
— Não. Nenhum.
Ela se calou. Os olhos dela estavam fixos nos dele, mas Leonardo não demonstrava emoção. Apenas vigilância. O Dom da máfia em alerta.
O médico retornou minutos depois.
— A transfusão foi realizada. Estável por enquanto. Vamos mantê-la em observação pelas próximas doze horas. Agradecemos sua doação, senhor Castellazzo.
— Ela vai ficar bem? — Alessandra perguntou.
— Com descanso e acompanhamento, sim. Mas vamos observá-la com atenção. Foi uma pancada séria.
Alessandra assentiu, agradecida. E então o médico completou:
— Ela acordou há pouco. Está chamando pela mãe.
Alessandra saiu em disparada pelo corredor. Leonardo ficou para trás por um instante, o olhar fixo na porta.
Não havia conexão. Não havia lembrança.
Mas havia dúvida.
E isso, para um homem como ele, era inaceitável.
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Atualizado até capítulo 52
Comments
Marcia Gomes muchny
eita será que é filha dele
2025-06-23
0
Marli Batista
Sera 🤔🤔🤔🤔
2025-06-24
0