O som das risadas ecoava no carro enquanto Clara e sua amiga seguiam a caminho da balada. Era uma daquelas noites quentes, em que o ar parecia vibrar de expectativa.
— Você tem certeza que tá pronta pra sair assim? — provocou a amiga, sorrindo ao ver Clara se ajeitar no espelho retrovisor. — Porque olha… se tiver homem com coração fraco hoje, vai dar trabalho.
Clara sorriu. Era um sorriso tímido, mas verdadeiro. Sentia-se estranhamente livre.
— Eu só quero dançar um pouco. Me lembrar de que existo além de ser mãe e garçonete.
— Então vamos lembrar isso juntas. Ah, e antes que eu esqueça — a amiga se virou para Nicolas no banco de trás — sou a Júlia, prazer. Você é ainda mais bonito do que a Clara descreveu.
Júlia, amiga da Clara. Trabalha na cafeteria junto com ela
Nicolas riu, simpático.
— E você é mais direta do que eu esperava.
— Sempre sou — ela piscou, e Clara revirou os olhos entre risos.
O clima entre os dois era instantâneo. Natural. Um flerte leve, mas com faísca.
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Dentro da balada, as luzes dançavam junto com os corpos. Clara, com um vestido vinho colado ao corpo, cabelos soltos e um leve brilho nos olhos, chamava atenção desde o momento que entrou. Homens viravam para olhar. Outros se aproximavam com drinks, elogios, convites. Ela sorria, recusava com educação, mas sua presença era como um imã.
— Clara? — uma voz surgiu no meio da multidão.
Ela virou e viu Lucas, um ex-colega da faculdade. Alto, bonito, sorriso carismático.
— Nossa, quanto tempo! — ela sorriu surpresa. — Você tá diferente!
— Você também. Tá… linda. — Ele segurou sua mão e a puxou levemente para a pista. — Vamos dançar?
Clara hesitou, mas acabou cedendo. Estava leve. Livre. Por que não?
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Do outro lado da cidade, Leonardo ainda estava no escritório quando recebeu uma mensagem de um amigo:
“Cara, a Clara tá aqui na Orla Club. Sozinha não. Mas bem acompanhada…”
E junto, uma foto: Clara na pista, sorrindo, dançando com um cara que claramente não era Nicolas.
O estômago de Leonardo revirou.
Sem pensar duas vezes, ele pegou a chave do carro e saiu em disparada. O sangue fervia.
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A música estava alta, e Clara já sentia o efeito dos dois drinks que havia tomado. Ria alto, dançava sem medo, e quando Lucas a segurou pela cintura com um pouco mais de firmeza, ela não se afastou. Não imediatamente.
Foi então que ela sentiu.
Um olhar. Fixo. Intenso.
Virou e o viu.
Leonardo.
Atravessando a multidão como uma tempestade. Os olhos cravados nela. Furioso. Com dor. Com ciúmes.
— Você podia ao menos fingir que se importa — ele disse ao se aproximar, ignorando completamente Lucas. — Mal terminei de errar e você já tá nos braços de outro?
— Você não terminou de errar, Leonardo. Você começou. E continua. — A voz de Clara saiu embargada, a bebida acentuando a mágoa. — Eu tô tentando me lembrar como era antes de você bagunçar tudo.
— Esse cara é seu jeito de esquecer?
— E o seu foi qual? Duas loiras numa balada? — Ela riu sem humor, tropeçando um pouco, e ele a segurou pelo braço com firmeza. — Não encosta em mim…
— Clara, você tá bêbada. Vem, vamos embora.
— Eu não sou sua. — Os olhos dela marejados, a voz tremendo. — E você nunca me deu certeza de que queria que eu fosse.
Nesse momento, Nicolas e Júlia se aproximaram, vendo o clima tenso. Júlia lançou um olhar preocupado, e Nicolas se colocou ao lado de Clara, em posição protetora.
— Tá tudo bem aqui?
Leonardo cerrou os dentes.
— Tava. Até ela resolver virar espetáculo.
Clara o encarou, ferida.
— E você tá com inveja do palco que perdeu.
Ela se afastou com dificuldade, mas Leonardo foi atrás, ignorando tudo e todos, o coração em pedaços.
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A noite estava longe de terminar, mas algo tinha mudado. O jogo estava virando. E Clara… começava a entender o valor que tinha.
Mesmo que isso partisse o coração de alguém que ela queria mais do que podia admitir.
Capítulo 13 – Provocações e Feridas Abertas
A música pulsava, mas tudo ao redor de Clara parecia embaçado.
Ela viu o olhar de Leonardo, o ciúmes evidente, o maxilar travado, os punhos cerrados.
Viu a decepção nos olhos dele… e, por algum motivo que nem ela mesma sabia explicar, quis machucar. Quis fazê-lo sentir.
Luccas, o amigo da faculdade, ainda estava por perto, sorrindo, sem entender o furacão emocional entre eles dois.
— Luccas… — Clara virou-se para ele, sorrindo um pouco bêbada, um pouco ferida — me beija?
— O quê? — ele riu, surpreso.
— Beija — repetiu, antes que o próprio juízo conseguisse impedi-la.
Luccas hesitou por um segundo, mas depois, com o olhar provocativo de Clara, cedeu.
Foi um beijo rápido. Nada romântico, muito mais raiva do que desejo. Mas o suficiente.
Leonardo viu.
E explodiu.
Avançou na direção dos dois, empurrou Luccas de leve, sem violência, mas com firmeza.
— Tá louca, Clara? Que porra foi essa?
— Isso se chama liberdade — ela rebateu, ainda ofegante. — Aquela mesma que você usou quando foi pra cama com duas mulheres numa noite.
— Eu não dormi com ninguém! — ele disse alto, os olhos brilhando de fúria e frustração. — E você sabe disso!
— Eu não sei mais nada sobre você, Leonardo. Só sei que você entrou na minha vida feito um furacão e me deixou em pedaços.
— E você acha que isso aqui resolve? Me beijar outro cara pra me atingir?
— Não é sobre você — mentiu, mas a voz já tremia.
— É sempre sobre mim, Clara. Desde que a gente se conheceu. Você me odeia porque sente alguma coisa. Mas não consegue admitir.
Ela balançou a cabeça, tropeçando, e Leonardo a segurou pelos braços.
— Vamos embora. Eu não vou te deixar aqui assim.
— Me solta!
— Eu disse que vamos — a voz dele firme, mas baixa. — Do jeito que você tá, pode acabar se machucando. Eu não vou permitir.
Ela tentou resistir, mas o corpo já estava fraco, mole pela bebida e pela emoção. No fundo, sabia que ele tinha razão.
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Perto da entrada, Nicolas observava a cena com um copo na mão. Ao seu lado, Júlia olhava preocupada.
— Vai fazer alguma coisa? — ela perguntou.
— Não. Eles precisam passar por isso — ele respondeu tranquilo, olhando para Leonardo levando Clara nos braços. — E ele tá cuidando dela. Isso já é um bom sinal.
— Achei que você fosse mais protetor.
— Eu sou. Mas protetor não é o mesmo que egoísta. — Nicolas virou-se para Júlia com um sorriso de canto. — E se ele não cuidar direito… aí sim, eu entro em cena.
Ela riu, admirada.
— E a Sofia?
— Pode deixar que eu cuido dela. — Ele levantou o celular, mandando uma mensagem para a vizinha de Clara. — Eles têm uma coisa… mas vão ter que descobrir isso por conta própria.
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No carro, o silêncio era pesado.
Clara encostada no banco, olhos fechados, tentando conter o enjoo e a vergonha. Leonardo dirigia firme, o maxilar ainda rígido, mas o coração… despedaçado.
— Por que você fez aquilo? — ele perguntou, voz rouca.
— Você não tem o direito de me julgar.
— Eu não tô julgando. Eu tô perguntando. Porque doeu. Doeu ver você se entregando pra outro.
Ela virou o rosto para a janela, lágrimas teimosas escorrendo.
— Eu tô com medo, Leonardo. De você. De mim. Do que eu posso sentir.
— Eu também tô, Clara.
Ela o olhou. Pela primeira vez, sem defesa.
— Mas a gente não pode fugir disso pra sempre.
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Atualizado até capítulo 82
Comments
Edana
Adorei cada página, não conseguia parar de ler.
2025-06-17
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