A capital a recebeu com o mesmo ar de superioridade de sempre. Os prédios imponentes, os carros de luxo cruzando as avenidas, os olhares curiosos de quem reconhecia o sobrenome Monteiro como se fosse uma marca registrada.
Do banco traseiro do carro, Ashiley observava tudo com uma mistura de nostalgia e náusea. Não era saudade… era apenas o peso de retornar para um lugar que ela jurou nunca mais chamar de lar.
Quando os portões da mansão Monteiro se abriram, ela sentiu o estômago revirar.
A fachada estava igual. Colunas brancas, jardins impecáveis e o mesmo cheiro de rosas frescas vindo do hall de entrada.
A mãe foi a primeira a aparecer na porta, com um sorriso tão ensaiado quanto os discursos de boas-vindas que ela fazia em eventos de caridade.
— Minha filha… finalmente em casa. — Dona Lígia Monteiro a abraçou com mais formalidade do que emoção. — Você nos deu trabalho com esse sumiço, sabia?
O pai veio logo em seguida, com um aperto de mão que parecia uma negociação.
— Espero que dessa vez tenha voltado para ficar.
Ashiley apenas assentiu, sem vontade de discutir.
Logo em seguida, Gustavo surgiu, impecável em um terno azul-marinho. O sorriso dele era o mesmo de sempre: controlado, eficiente, como se cada palavra fosse calculada antes de sair da boca.
— Bem-vinda de volta, Ashiley. — Ele a abraçou com um toque de cavalheirismo, mas o gesto foi frio… vazio.
— Obrigada… noivo. — Ela respondeu, com uma ironia que ele fingiu não perceber.
Enquanto isso, em Jardim de Pedra…
Pietro batia pela terceira vez na porta da pequena casa onde Ashiley morava. O silêncio do outro lado foi a confirmação de algo que ele já temia, mas se recusava a aceitar.
Ela tinha mesmo ido embora.
Ele olhou ao redor. A janela do quarto dela estava aberta, as cortinas brancas balançando com o vento. Algumas caixas vazias encostadas na calçada denunciavam uma mudança às pressas.
— Mas que droga… — murmurou, passando a mão pelos cabelos.
A ideia de que ela sumiria sem ao menos avisá-lo o incomodava mais do que deveria. Ainda mais depois da cena na joalheria… o olhar frio, as palavras cortantes…
Ele fechou os olhos, tentando afastar a irritação crescente. Por que aquilo estava mexendo tanto com ele?
Pietro encarava a casa vazia como se, de alguma forma, ela fosse lhe devolver respostas. Mas tudo o que encontrou foi silêncio. As janelas estavam abertas, e as cortinas brancas balançavam ao vento como uma despedida não dita.
Ele deu um passo para trás, apoiando as mãos nos quadris, o olhar perdido.
— Procurando por alguém?
A voz suave atrás dele o fez se virar. Laura estava encostada no carro dela, com um sorriso sereno nos lábios. Usava um vestido claro, cabelos soltos e um perfume discreto, quase floral. Tudo nela exalava uma falsa doçura.
Pietro respirou fundo.
— Você sabe onde ela está?
Laura caminhou até ele com passos delicados, como se não quisesse incomodar.
— Ah, Pietro… — Ela disse com uma expressão de compaixão, tocando levemente o braço dele. — Você ainda está pensando nela?
Ele apenas arqueou a sobrancelha, sem responder.
Laura suspirou, com aquele ar de quem entende tudo e perdoa todos.
— Sabe… Ashiley sempre foi muito intensa. Faz drama por qualquer coisa… some sem explicar, cria essas crises só pra chamar atenção. — Ela riu baixinho, como quem lamenta pela imaturidade alheia. — Talvez seja o jeito dela de lidar com as coisas, sabe?
Pietro cruzou os braços, desviando o olhar.
— Ela saiu sem deixar nenhum aviso. Nem pro trabalho, nem pros amigos.
— Exatamente. — Laura concordou com um sorriso doce. — E você, como sempre… preocupando-se mais do que deveria.
Ele a encarou de soslaio, desconfiado da calma exagerada dela.
— Não é preocupação. Só achei estranho.
Laura inclinou a cabeça, com aquele olhar compreensivo que parecia envolvê-lo num manto de falsa segurança.
— Claro que é estranho… Mas vamos ser sinceros? Você deu algum motivo pra ela ficar? — Ela disse aquilo com um tom suave, quase maternal. — Sempre foi claro pra todo mundo que vocês dois nunca tiveram futuro…
Pietro franziu o cenho, como se algo naquela frase o irritasse, mas Laura sorriu antes que ele pudesse responder.
— Desculpa… Não queria ser dura. Só… estou preocupada com você. — Ela tocou de novo o braço dele, o gesto cheio de carinho ensaiado. — Não vale a pena se abalar por alguém que sempre foi tão… inconstante.
Ele respirou fundo, passando a mão pelos cabelos em um gesto impaciente.
— Ela é só uma funcionária. Nada além disso.
Laura sorriu ainda mais doce.
— Exatamente… Só uma funcionária. — Repetiu, com um brilho satisfeito no olhar.
Depois, virou-se para ir embora, deixando Pietro ali, sozinho… e com a mente mais confusa do que antes.
E no fundo, era exatamente isso que ela queria.
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Atualizado até capítulo 38
Comments
Dulce Gama
A Shirley tomara que seja feliz com Gustavo e mostre para esse tal de Pietro que ela venceu 👍👍👍👍👍🌹🌹🌹🌹🌹🎁🎁🎁🎁🎁♥️♥️♥️♥️♥️🌟🌟🌟🌟🌟
2025-06-16
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