Capítulo 2 – O Anel e o Acaso Cruel

O quarto pequeno estava tomado por malas abertas, cabides espalhados e roupas dobradas de maneira apressada. Ashiley sentava-se no chão, com as pernas cruzadas e uma pilha de camisetas ao lado. Cada peça que ela tocava parecia carregar uma memória… algumas boas, outras que ela preferia esquecer.

Ela pegou uma blusa antiga de Pietro — um moletom cinza que ele havia deixado com ela meses atrás. Durante um segundo, os dedos vacilaram. O cheiro dele já tinha sumido, mas o peso emocional ainda estava ali.

Sem pensar duas vezes, ela jogou a peça no fundo de uma sacola para doação.

Era isso. Nenhum vestígio dele iria com ela.

Com os últimos pertences encaixotados, Ashiley respirou fundo. Olhou ao redor pela última vez. O lugar simples, que durante tanto tempo foi seu refúgio, agora parecia menor, sufocante… como se até as paredes soubessem que aquele ciclo tinha acabado.

O celular vibrou no chão ao lado da mala.

Gustavo Martins.

Ela encarou o visor por alguns segundos antes de atender.

— Alô?

— Ashiley. — A voz dele era direta, como sempre. — Está tudo certo com a data da reunião entre as famílias. O casamento vai acontecer no prazo que combinamos.

Ela rolou os olhos, exasperada com tanta objetividade.

— Claro… porque romance é mesmo o que menos importa aqui, né?

Ele ignorou a provocação.

— Preciso que você vá até a joalheria Monteverdi, no centro. Seu anel de noivado já está lá, reservado. Só falta você escolher o modelo final para o ajuste.

Ashiley suspirou.

— E se eu não quiser anel nenhum?

— Não é uma opção. — A resposta dele veio seca. — O protocolo exige isso.

— Ótimo. — Ela desligou antes que a conversa se estendesse.

A joalheria Monteverdi era um dos lugares mais tradicionais da cidade. Fachada de vidro, segurança na porta, atendentes vestidos como se estivessem prestes a atender a realeza.

Ashiley entrou com passos firmes, ignorando o olhar curioso da recepcionista que a reconheceu imediatamente.

— Senhorita Monteiro… que prazer tê-la conosco de novo.

Ela forçou um sorriso.

— Só me mostre as opções, por favor.

Enquanto a atendente buscava as bandejas com os anéis de noivado, Ashiley caminhou até uma das vitrines, apenas para ocupar o tempo.

Foi quando, pelo reflexo do vidro, ela o viu.

Pietro.

Com Laura.

Ambos estavam no fundo da loja, no setor de colares e pulseiras. Laura ria de algo que Pietro dizia, segurando no braço dele com uma naturalidade irritante.

Por um instante, Ashiley congelou. Uma mistura de raiva e ironia a tomou.

— Olha só… de todos os lugares da cidade… — murmurou para si mesma.

Pietro parecia não ter notado a presença dela. Ou talvez tivesse… e apenas preferia ignorar.

Ashiley respirou fundo. Não faria cena. Não mais.

— Aqui estão os modelos, senhorita Monteiro. — A atendente voltou com uma bandeja repleta de anéis cintilantes.

Ashiley olhou cada um com desinteresse. Escolheu o primeiro que viu, apenas para encerrar aquilo rápido.

Enquanto a funcionária anotava os detalhes, ela ouviu a voz de Laura, mais alta do que deveria ser:

— Pietro… esse colar ficaria perfeito em mim.

Ashiley não precisou olhar para saber que era de propósito.

Fingindo total indiferença, ela se levantou, ajeitou o cabelo e caminhou diretamente em direção à saída.

Mas, ao passar por eles, Pietro finalmente ergueu os olhos e a viu.

Houve um segundo de hesitação nele.

— Ashiley… — ele chamou, surpreso.

Ela parou, virou-se apenas o suficiente para encará-lo. O sorriso que lançou foi frio, elegante… e completamente falso.

— Que coincidência… Pietro. — Ela lançou um olhar rápido para Laura. — Vejo que vocês continuam… amigos.

Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, Ashiley seguiu seu caminho.

Ao atravessar as portas de vidro e sentir o ar fresco da rua, ela fechou os olhos por um segundo.

O coração ainda batia acelerado, mas não de saudade… e sim de algo mais poderoso: auto-preservação.

Ela não tinha tempo para recaídas.

Gustavo a esperava. E agora… existia um anel de noivado em produção com o nome dela.

Ashiley caminhou pelas calçadas movimentadas do centro, os saltos das botas ecoando no asfalto molhado após a garoa. A cada passo, a cena da joalheria insistia em voltar à mente. O jeito como Laura se pendurava em Pietro, o sorriso fácil dele… como se ela nunca tivesse existido.

Uma risada amarga escapou dos lábios dela.

Por que ainda doía?

Ela já tinha tomado a decisão de ir embora, de apagar Pietro da vida dela como ele sempre fez questão de apagar qualquer possibilidade entre os dois. Mas a verdade é que, ver com os próprios olhos era diferente de apenas imaginar.

O celular vibrou de novo. Desta vez, uma mensagem de Gustavo:

“Assim que pegar o anel, me avise. Tenho um motorista disponível para te buscar amanhã cedo. Não quero atrasos.”

Ashiley respirou fundo, digitando a resposta de forma rápida e seca:

“Tudo certo. Pode mandar.”

Ela levantou a cabeça, encarando o céu nublado de fim de tarde. A cidade onde ela reconstruiu a própria vida, onde chorou, sorriu e se enganou, agora parecia menor, sem sentido.

Sem olhar para trás, ela entrou na primeira loja de malas que encontrou, comprou uma nova bagagem — uma que combinasse mais com a futura “noiva de Gustavo Martins” do que com a garota de Jardim de Pedra.

Naquela noite, em casa, ela não dormiu.

Passou horas organizando documentos, deletando fotos do celular, empacotando livros e objetos de valor sentimental. Cada pequeno gesto era uma despedida silenciosa.

No fundo da gaveta, encontrou uma caixinha de madeira que guardava há tempos. Dentro, estavam cartas nunca enviadas para Pietro… e um pequeno pingente em formato de estrela, o primeiro presente que ele tinha lhe dado, ainda nos primeiros meses da relação deles.

Ashiley segurou o pingente por um instante… e depois, com um movimento decidido, o jogou no fundo do lixo.

Não levaria nada dele.

Nada.

Na manhã seguinte, bem cedo, o motorista de Gustavo chegou. Um homem de meia-idade, de terno impecável e expressão neutra.

— Senhorita Monteiro?

— Sim.

Ele carregou as malas para o carro de luxo que aguardava em frente à pensão onde ela vivia. Vizinhos curiosos espiaram pelas janelas, alguns até se arriscaram a perguntar:

— Vai viajar, Ash?

Ela apenas sorriu, com um ar de mistério.

— Só seguindo em frente.

Entrou no carro sem olhar para trás.

No caminho para a rodovia, a cidade foi ficando menor pela janela. As ruas, as praças, o bar que ela frequentava, a antiga escola de música… tudo parecia fazer parte de uma vida que não era mais dela.

O motorista ligou o rádio, e uma música lenta começou a tocar.

Ashiley encostou a cabeça no vidro, os olhos fixos no horizonte.

Ela sabia o que a esperava do outro lado da viagem: uma mansão com janelas altas, sorrisos forçados, alianças caras… e Gustavo, com sua pose de herdeiro perfeito.

Mas, de certo modo… tudo aquilo ainda era melhor do que continuar em um lugar onde ela era invisível para quem mais importou um dia.

Se era pra sofrer… que fosse com glamour.

Ela fechou os olhos, deixando o carro a levar.

O futuro estava decidido.

E Pietro Santoro… ficaria exatamente onde merecia: no passado.

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Comments

Dulce Gama

Dulce Gama

agora sim a história está tomando uma direção boa estou adorando 👍👍👍👍👍🌹🌹🌹🌹🌹🎁🎁🎁🎁🎁♥️♥️♥️♥️♥️🌟🌟🌟🌟🌟

2025-06-16

1

Ver todos
Capítulos
1 Capítulo 1 – A Mentira Que Matou o Que Restava
2 Capítulo 2 – O Anel e o Acaso Cruel
3 Capítulo 3 – O Reencontro e o Vazio Deixado Para Trás
4 Capítulo 4 – Entre Taças e Promessas
5 Capítulo 5 – A Fazenda, o Ciúme e o Silêncio
6 Capítulo 6 – O Retorno à Capital e os Primeiros Rastros
7 Capítulo 7 – O Reencontro: Acusações, Orgulho e Silêncios
8 Capítulo 8 – Entre o Orgulho e a Proteção
9 Capítulo 9 – A Porta Entreaberta, o Medo e a Fúria
10 Capítulo 10 – Portas Quebradas e Limites Ultrapassados
11 Capítulo 11 – Perguntas Sem Resposta e Distrações Perigosas
12 Capítulo 12 – Manchetes, Surto e a Descoberta Irreversível
13 Capítulo 13 – Um Jogo Entre Herdeiros
14 Capítulo 14 – Limites Quebrados e Escolhas Irreversíveis
15 Capítulo 15 – Entre Conquistas e Consolações
16 Capítulo 16 – O Refúgio e a Tempestade
17 Capítulo 17 – O Baile, o Quase Beijo e o Perigo à Espreita
18 Capítulo 18 – Entre Choques, Confrontos e Um Refúgio no Jardim
19 Capítulo 19 – Território Hostil
20 Capítulo 20 – Entre Ruínas e Estratégias
21 Capítulo 22 – Mudanças de Jogo
22 Capítulo 23 – Memórias que o Tempo Não Apaga
23 Capítulo 24 – Quando o Passado Volta a Respirar
24 Capítulo 25 – Entre Convites, Dúvidas e Ameaças Silenciosas
25 Capítulo 26 – Entre Confissões e Conselhos
26 Capítulo 27 – A Imposição do CEO
27 Capítulo 28 – Novos Passos, Velhos Medos
28 Capítulo 29 – Um Convite, Uma Confissão
29 Capítulo 30 – A Escolha Que Muda Tudo
30 Capítulo 31 – O Anúncio Que Mudaria Tudo
31 Capítulo 32 – Vestidos, Expectativas e Ameaças Invisíveis
32 Capítulo 33 – Escolhas, Confissões e Sombras à Espreita
33 Capítulo 34 – O Encontro Inesperado
34 Capítulo 35 – O Dossiê e a Decisão
35 Capítulo 36 – Frente a Frente
36 Capítulo 37 – Conforto, Confissão e Novas Promessas
37 Capítulo 38 – Reuniões, Ameaças Veladas e Territórios Marcados
38 Capítulo 39 – Preparativos, Confissões e uma Nova Promessa
Capítulos

Atualizado até capítulo 38

1
Capítulo 1 – A Mentira Que Matou o Que Restava
2
Capítulo 2 – O Anel e o Acaso Cruel
3
Capítulo 3 – O Reencontro e o Vazio Deixado Para Trás
4
Capítulo 4 – Entre Taças e Promessas
5
Capítulo 5 – A Fazenda, o Ciúme e o Silêncio
6
Capítulo 6 – O Retorno à Capital e os Primeiros Rastros
7
Capítulo 7 – O Reencontro: Acusações, Orgulho e Silêncios
8
Capítulo 8 – Entre o Orgulho e a Proteção
9
Capítulo 9 – A Porta Entreaberta, o Medo e a Fúria
10
Capítulo 10 – Portas Quebradas e Limites Ultrapassados
11
Capítulo 11 – Perguntas Sem Resposta e Distrações Perigosas
12
Capítulo 12 – Manchetes, Surto e a Descoberta Irreversível
13
Capítulo 13 – Um Jogo Entre Herdeiros
14
Capítulo 14 – Limites Quebrados e Escolhas Irreversíveis
15
Capítulo 15 – Entre Conquistas e Consolações
16
Capítulo 16 – O Refúgio e a Tempestade
17
Capítulo 17 – O Baile, o Quase Beijo e o Perigo à Espreita
18
Capítulo 18 – Entre Choques, Confrontos e Um Refúgio no Jardim
19
Capítulo 19 – Território Hostil
20
Capítulo 20 – Entre Ruínas e Estratégias
21
Capítulo 22 – Mudanças de Jogo
22
Capítulo 23 – Memórias que o Tempo Não Apaga
23
Capítulo 24 – Quando o Passado Volta a Respirar
24
Capítulo 25 – Entre Convites, Dúvidas e Ameaças Silenciosas
25
Capítulo 26 – Entre Confissões e Conselhos
26
Capítulo 27 – A Imposição do CEO
27
Capítulo 28 – Novos Passos, Velhos Medos
28
Capítulo 29 – Um Convite, Uma Confissão
29
Capítulo 30 – A Escolha Que Muda Tudo
30
Capítulo 31 – O Anúncio Que Mudaria Tudo
31
Capítulo 32 – Vestidos, Expectativas e Ameaças Invisíveis
32
Capítulo 33 – Escolhas, Confissões e Sombras à Espreita
33
Capítulo 34 – O Encontro Inesperado
34
Capítulo 35 – O Dossiê e a Decisão
35
Capítulo 36 – Frente a Frente
36
Capítulo 37 – Conforto, Confissão e Novas Promessas
37
Capítulo 38 – Reuniões, Ameaças Veladas e Territórios Marcados
38
Capítulo 39 – Preparativos, Confissões e uma Nova Promessa

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