Balança e o Sangue
A luz das lanternas varria as paredes. Foi Farley quem viu primeiro.
— Pessoal... olha isso.
Do lado da porta de pedra, uma nova estrutura havia surgido. Ninguém lembrava dela estar ali. Nem nos vídeos. Nem nas imagens térmicas. Nada.
Era uma escultura negra, esculpida com precisão divina: a Balança de Anúbis.
De um lado, uma pena. Do outro, um prato vazio. E sob ela, uma inscrição recém-revelada na rocha, com os hieróglifos mais nítidos que tudo ao redor, como se tivessem sido gravados há minutos:
“A porta se abre apenas com o sangue da reencarnação da Mais Amada.”
Silêncio.
E então, o grito:
— CARALHO! — Greg recuou com o rosto pálido. — Cês tão vendo isso? Cês tão VENDO ISSO?! Isso não tava aqui ontem! Isso. NÃO. Tava. Aqui!
Ana girou em círculos, tremendo.
— Cadê o maldito drone?! Era aqui que ele caiu! Onde tá o drone?! Cadê os destroços?! CADÊ A DROGA DO DRONE?!
Um baque. Mahmoud caiu de joelhos.
— Perdão, Anúbis… perdão, guardião… poupe minha vida, não leve meu nome pro esquecimento… perdoe nossas piadas… foi ele que zombou, não eu, leve só ele! — dizia em desespero, apontando sem olhar pra ninguém.
Farley murmurava o nome da mãe repetidamente, em pânico.
Elisa, no entanto, não se mexia.
Ficou parada diante da inscrição.
Seus olhos se fixaram nas palavras. Ela conhecia aqueles traços. Já os tinha visto antes. Em sonhos. Em estudos. E por algum motivo, sentia um peso no peito. Uma dor antiga. Como saudade de algo que nunca viveu.
— Isso não faz sentido… — sussurrou. — Reencarnação? Isso é simbólico. Tem que ser simbólico. Não pode ser real…
Mas algo na balança reagiu à sua presença. A pena oscilou. Um leve tremor percorreu o prato vazio.
Greg a viu e apontou, apavorado.
— NÃO! NÃO, NÃO! VOCÊ TÁ FAZENDO ISSO! TÁ VENDO?! TÁ RESPONDENDO A VOCÊ!
Todos recuaram. Ana já chorava. Mahmoud tremia. Farley empunhava a lanterna como se ela pudesse proteger sua alma.
E Elisa…
Elisa olhou para a porta. Depois para o prato da balança. O metal frio. O silêncio absoluto.
— Eu não posso ser ela… — murmurou. — Isso é loucura…
Mas no fundo, algo nela já sabia.
Ela sempre foi apaixonada pelo Egito. Sempre sentiu algo inexplicável ao ver certas inscrições. E agora a tumba… a tumba a reconhecia.
A pergunta agora era:
Ela teria coragem de se cortar… e abrir o que estava lá dentro?
O Fio da Lâmina
— Tirem fotos. Registrem tudo que der pra capturar — disse Elisa, tentando manter a voz firme. — A gente sobe. Reagrupa. Amanhã voltamos com calma.
Ela falava como líder. Mas os olhos dela já não tinham tanta certeza.
Mesmo tremendo, os membros da equipe começaram a agir. Greg acionou o scanner digital. Ana tentou ligar a câmera de registro. Farley pegou o drone reserva.
Nada ligava.
— O quê…? — Greg apertava os botões. — Isso tava funcionando! Eu testei tudo ontem à noite. Tá com carga total!
— O meu também não responde — disse Ana, desesperada. — Nem o GPS, nem o tablet. Tá tudo… morto.
— A gente tá fudido… — murmurou Farley, parando de mexer nos controles e simplesmente olhando em volta. — Eu falei. Eu avisei. Vocês lembram? Eu disse pra respeitar os mortos. Mas não. Vamos lá mexer justo na tumba da mulher que o faraó queria a alma de volta!
Mahmoud tremia.
— Isso não é coincidência. Não é falha elétrica. A gente revisou TUDO antes de descer.
Silêncio. O tipo de silêncio que tem peso, que cola na pele.
Elisa olhou para a porta.
Ainda fechada.
Mas… viva.
Ela deu um passo à frente. Tocou levemente o metal da balança.
— Vamos subir — disse, finalmente. — Não estamos prontos pra isso hoje.
Ela deu meia-volta. O grupo, hesitante, começou a segui-la.
Foi quando o chão estremeceu.
Não como um terremoto. Não como algo natural.
Um som grave, arrastado. Como pedra sobre pedra. Como algo enorme respirando sob toneladas de terra.
A tumba inteira estremeceu. Pó caiu das paredes. A luz das lanternas oscilou.
E então… silêncio absoluto.
Ninguém se mexia.
Era como se o próprio tempo tivesse parado. Como se algo estivesse ali, invisível, segurando suas vidas na lâmina de uma faca. Uma presença que dizia: não deem as costas.
— Elisa… — sussurrou Greg, sem virar o rosto. — Eu não consigo me mexer.
Ela também não conseguia.
Todos ali, paralisados. Corações disparados. Suor frio escorrendo.
A tumba os havia sentido.
E agora… ela decidia se os deixava sair.
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Atualizado até capítulo 40
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