03

Levi -

O quarto tem vista para o mar, janelas de vidro do chão ao teto, cama king-size, decoração impecável. Tudo no hotel segue o padrão Montenegro: luxo sem exageros, elegância sem esforço. Mas, mesmo com toda a perfeição do ambiente, eu me sinto… inquieto.

Tiro o paletó, jogo em cima da poltrona. Ando de um lado para o outro, como se algo estivesse fora do lugar — e não estou falando da almofada desalinhada no sofá.

Abro a varanda. O cheiro de sal invade o espaço. A vista é de tirar o fôlego. O vilarejo à esquerda, a vegetação à direita, o mar à frente. Um paraíso. Quase silencioso demais. Quase humano demais.

E talvez seja isso o que está me incomodando.

Aqui não tem buzinas. Não tem reuniões correndo. Não tem a agenda enlouquecida da capital. E, pela primeira vez em muito tempo, não tem nenhuma loira deslumbrante rindo das minhas piadas por interesse. Só tem... eu. E o silêncio.

E ela.

Aquela mulher irritante de um metro e cinquenta e oito. A que pilota avião, helicóptero, lancha, carro moto aí …e ainda me responde com a cara mais debochada do mundo. Melina Duarte. Pequena, cheia de atitude, com um jeito rebelde que me tira do sério.

Ela me desconcerta. Talvez porque não tente me agradar. Talvez porque me ignore quando eu faço piadas. Ou talvez… porque ela é real demais. E isso me assusta mais do que eu gostaria de admitir.

Sento à beira da cama, passo as mãos no rosto. Tento afastar a lembrança do sorriso dela quando o vento bagunçou seus cabelos no iate. Como ela segurava o volante da lancha com firmeza. Como parecia feliz naquele instante. Leve.

Eu não lembro a última vez que me senti assim.

Pego o celular. Tenho dezenas de mensagens, e-mails, notificações. Mas nenhuma delas importa agora.

Coloco o aparelho de lado, me levanto e me encaro no espelho.

— Você está ficando mole, Levi — murmuro. — Ela é só mais uma funcionária.

Mas uma parte de mim sussurra: Mentira. Ela nunca foi só mais uma.

Não quando ela me olha como se pudesse ver além da armadura.

Não quando ela me desafia com aquele olhar verde.

Não quando ela parece caber perfeitamente nesse lugar onde o mundo desacelera… e o peito começa a doer.

Respiro fundo e fecho as cortinas. Amanhã será um longo dia. E eu não posso me dar ao luxo de sentir. Nem agora. Nem nunca.

Mas algo me diz que essa ilha…

Vai acabar quebrando o único homem que nunca se permitiu ser consertado.

O sol já começava a descer quando decidi dar uma caminhada pela praia. Precisava de ar, de um momento longe das paredes do hotel — e, talvez, de mim mesmo.

As ondas lambiam a areia com calma, o mar refletia tons dourados e alaranjados que só o entardecer sabe pintar. A brisa trazia o cheiro da maresia e o som distante de risadas de crianças brincando na água.

Foi quando a vi.

Ali, perto das pedras, Mel estava sentada, olhando o horizonte com aquela serenidade que eu nunca conseguia fingir. O cabelo solto, tocado pelo vento, balançando suave. A pele bronzeada brilhava sob o sol que se despedia. A simplicidade daquela cena me tirou o fôlego.

Por um instante, não consegui pensar em nada além dela — não no império que construí, não nos problemas que me perseguiam, não no passado que eu tentava enterrar.

Mel parecia feita para aquele lugar. Autêntica, livre.

Ela virou o rosto e nossos olhares se cruzaram.

Não disse nada. Não precisava. A surpresa dela era quase tão clara quanto a minha. Um misto de irritação e algo... diferente. Talvez respeito? Ou reconhecimento?

Caminhei na direção dela, deixando a areia fria pressionar meus pés. Cada passo pesado com o peso do que não queria admitir.

— Não sabia que a gracinha gostava de momentos de paz — arrisquei, tentando soar casual, mas a voz falhou um pouco.

Ela sorriu, um sorriso que iluminou o rosto, mas com aquela ponta de provocação habitual.

— Nem toda paz precisa ser silenciosa — respondeu, sem levantar da pedra.

Me sentei ao lado dela, sem coragem para dizer mais nada, apenas admirando aquele momento raro de calma.

O mar continuava a cantar, o sol a se esconder, e por alguns minutos, o mundo inteiro ficou restrito àquela praia — a Mel, eu e uma maré que, agora, parecia querer nos unir.

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Dulci Oliveira

Dulci Oliveira

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2025-06-13

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Atualizado até capítulo 79

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