Escolhas do coração...

Pouco tempo depois, Chiara chegou à casa de Carla. Cumprimentou Luana, que estava sentada estudando para uma prova, deu um abraço em Carla e em Alexandre.

— Bom, eu decidi enfrentar, Alexandre — disse Chiara, com firmeza. — Não quero mais saber da história de Antonieta e Túlio. Eles morreram e já estão onde devem estar. O que eu quero saber é o que eu tenho que fazer daqui pra frente.

Ela respirou fundo antes de continuar:

— Felipo e eu já estamos administrando a empresa, mas a máfia está consumindo todo o nosso tempo. O que nós queremos é investir parte do dinheiro que está guardado. Nunca dividimos a herança, apenas vendemos o que tivemos que vender. E eu também tenho que descontar o valor da casa que era de Antonieta… Transformei em uma escola de ginástica. Fiz isso sem pensar em você e em Felipo. Naquela época, Felipo estava sendo manipulado, eu imaginava seriamente que ele seria executado e que o senhor deveria explicações a você. Por isso, não consultei. Me apropriei indevidamente da mansão… Tenho que passar a parte de vocês.

— Eu não quero minha parte na casa — respondeu Chiara, tranquila. — A Carla foi um anjo na minha vida. Através dela conheci o papa e a mama, e isso não tem preço. Por mim, a parte que cabe a mim pode continuar com a Carla.

Chiara olhou com carinho para Carla.

— Você que é uma princesa, sempre foi, desde criança. Mas o Alexandre tem razão, é a sua herança.

— Se é minha herança, eu posso fazer o que quiser, inclusive passar a minha parte na casa pra você. Disse Chiara

—Se quiser, pode ser sócia. Eu passo parte pra você — respondeu Carla.

— Já que vocês estão insistindo… A minha parte fica como investimento na Ginástica Nacional. Graças a você, Carla, já temos mais ginastas indo para as Olimpíadas. Você está formando atletas, e isso é um exemplo. Não vou pegar nada — disse Chiara, firme.

Carla a abraçou, emocionada.

— Eu só tinha quatro anos, mas me lembro que ela era um ídolo pra mim. Gostei de você assim que olhei. No começo, chamava de mama. Mas quem, em sua consciência, conhece Mateus Castellazzo Ferrari e Luciana Castellazzo Ferrari e não se apaixona? Quem não quer ser filho deles? Eu me agarrei à oportunidade. Era esperta desde criança — disse Chiara, sorrindo ao relembrar.

— Então você quer que eu assuma a empresa. É isso? — continuou Chiara, mais séria.

— Você já terminou a faculdade. Está preparada pra isso. Tudo bem, eu assumo. Pode falar com Felipo — respondeu Alexandre.

— Se vocês querem se afastar da empresa pra se dedicar às máfias, podem ir — disse Chiara com leve ironia.

— Estou orgulhoso de você. Vou ligar para o Felipo. Talvez consigamos passar o cargo ainda hoje. Você já se familiariza e tem uma semana para se adaptar antes da reunião com o novo investidor. Novos tempos virão, a empresa vai crescer e você vai ser responsável por isso. Tenho certeza. Quando olho pra você, não vejo mais minha irmã… Beijo minha cunhada — respondeu Alexandre, sorrindo.

— Eu amo vocês dois. Mas, dentro de mim, eu nasci da Luciana e do Mateus. Sei que vocês são meu sangue, mas amo o papa e a mama como se fosse de sangue — disse Chiara com sinceridade.

— Tudo bem. Nós não ficamos chateados. Até os genros gostam do Mateus e da Luciana como pais — respondeu Alexandre, concordando.

— Não é só você que se sente assim, Chiara. Eu também me sinto. Me lembro que, há 34 anos, eu era uma menina quebrada, marcada pela dor de uma tentativa de abuso. Meu papa me levou para casa. Demorei dois meses para aceitar ele, mas quando aceitei, descobri o que era amor de pai. Nunca descobri quem era meu pai de sangue, e a minha mãe biológica não era uma boa pessoa. Assim como a sua, ela era viciada em drogas. Queria me vender de tanto usar. Alguém me tirou dos braços dela e me levou pro orfanato. Por eu ser negra, ninguém queria me adotar. Até que um homem me adotou… Achei que seria feliz, mas ele só queria me fazer mal. Por Dio, consegui fugir, encontrei a polícia no caminho e voltei para o orfanato.

Carla fez uma pausa, os olhos marejados.

— Até que a mama me olhou. As freiras contaram minha história, e ela me acolheu com amor. Depois veio o papa tentando se aproximar. Eu não permitia. Foram dois meses de sofrimento pra ele… Até hoje me dói saber que fiz ele sofrer. Mas depois, com calma, ele me conquistou. Me protegeu de tudo e de todos. Até mesmo do seu irmão… Sabe quem conseguiu quebrar de vez o coração dele? Você. Ele só aceitou o Alexandre 100% depois que você apareceu. Quando conheceu você — concluiu Carla, emocionada.

— Até hoje ele me dá bolo de chocolate e me faz quebrar a dieta sempre — disse Chiara, sorrindo entre lágrimas. — Eu vou assumir a empresa, mas sexta-feira à tarde vamos para a Inglaterra. Queremos visitar a tia Valentina. Você sabe, né? Temos que ir nos despedindo. O tio Elioth disse pro papa que pode ser a qualquer momento.

— Eu sei… Ela já tinha saúde frágil. E depois que o tio Vincenzo se foi, ela está pior. Cada dia mais triste. Eles eram muito ligados. E ela sentiu toda a dor que ele sentiu… É difícil ter que se despedir — murmurou Carla.

Nesse momento, Alexandre voltou:

— Já falei com o Felipo. Ele está na empresa e já está preparando tudo pra passar o cargo. Vou chamar o papa. Ele disse que quer estar comigo em todos esses momentos.

Chiara assentiu. Alexandre ligou para Mateus, que já estava saindo de casa. Como a casa de Alexandre e Carla ficava no mesmo condomínio, ele chegaria rapidamente.

Era mais uma etapa a cumprir. Chiara agora estava pronta para assumir o cargo — e o futuro.

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