Isis saiu da sala de Eduardo com um brilho nos olhos e um sorriso vitorioso nos lábios. O perfume suave que deixou pelo corredor era quase um rastro de provocação. E quem estava ali para notar cada detalhe foi Felipe, o amigo mais antigo e sensato de Eduardo.
Ele cruzou os braços e a observou passar com um olhar atento, curioso. Quando ela virou o corredor, ele caminhou até a sala de Eduardo, bateu duas vezes e entrou sem esperar resposta.
— Tá ocupado?
Eduardo estava de costas, ainda tentando reorganizar os pensamentos e a respiração.
— Não.
Felipe fechou a porta e arqueou uma sobrancelha.
— A filha do Arnaldo? Aqui?
Eduardo não respondeu de imediato. Só passou a mão no rosto, como se tentando apagar a expressão culpada.
— Ela disse que estava passando mal. Quis ser consultada por mim.
Felipe soltou um riso curto, cético.
— E você acreditou nisso?
Antes que Eduardo respondesse, a porta foi escancarada com a típica falta de cerimônia de Rodrigo, o outro amigo dos tempos da residência. Jaleco amassado, cabelo bagunçado e um sorriso de quem vive para provocar.
— E aí, já contou pro Felipe que tá completamente ferrado?
Felipe virou-se para ele, impaciente:
— Rodrigo, não começa.
— Ah, qual é, Felipe. Eu passei por ela no corredor! Aquela menina tá de olho no Edu faz tempo. E pelo jeito… ele não tá resistindo muito bem, né?
Eduardo bufou, sentando-se na cadeira.
— Vocês dois vão me deixar louco. Eu sou amigo do pai dela. Conheço a Isis desde que ela usava uniforme da escola.
— E agora ela usa outro tipo de uniforme mental na sua cabeça, né? — Rodrigo riu, tirando sarro.
Felipe suspirou, firme:
— Isso não é piada. Você sabe o problema que isso pode dar, Eduardo.
Rodrigo revirou os olhos.
— Problema? Ela é adulta, linda, sabe o que quer. O problema seria ele continuar fingindo que não sente nada. Se fosse eu…
— Justamente por não ser você que a coisa ainda tá sob controle — rebateu Felipe.
Eduardo massageou as têmporas, no meio daquele fogo cruzado de razão e tentação.
— Eu tô tentando me afastar. Mas ela... não facilita.
Rodrigo riu alto.
— Claro que não! Porque ela sabe o que tá fazendo. E, sinceramente? Vai chegar uma hora que você não vai mais conseguir dizer não.
— E vai acabar se arrependendo se cruzar essa linha — completou Felipe, calmo, porém firme.
Eduardo levantou-se, encarando os dois.
— E se eu já tiver cruzado a linha... aqui dentro?
Ele apontou pro peito, com um olhar intenso.
Silêncio.
Rodrigo deu um tapinha nas costas dele.
— Então agora é só esperar o resto seguir o coração.
Felipe apenas balançou a cabeça, preocupado.
Entre os dois, Eduardo sabia que estava num abismo. E que, muito em breve, teria que escolher: se jogava... ou dava meia-volta.
O sol já começava a cair no horizonte quando Isis saiu do hospital, com um sorrisinho no canto dos lábios e um friozinho na barriga. Aquela visita ao consultório de Eduardo tinha sido tudo menos comum — e ela sabia disso.
Ainda ajeitava os cabelos quando ouviu passos largos atrás de si. Virou-se e deu de cara com um homem de jaleco jogado sobre os ombros, andar despretensioso e um sorriso de quem já sabia mais do que devia.
— Olha só quem tá aqui — disse Rodrigo, cruzando os braços. — A mocinha que quase fez o nosso querido Dr. Eduardo infartar de tensão.
Isis ergueu uma sobrancelha, mantendo a pose.
— Rodrigo, né?
— Ah, ela sabe meu nome. Fico lisonjeado.
Ela cruzou os braços, encarando-o de volta.
— Vai direto ao ponto, doutor. Tá aqui como emissário da moral e dos bons costumes ou só tá curioso?
Rodrigo riu, divertido.
— Eu? Eu sou a voz da verdade inconveniente. E tenho olhos, Isis. Vi você sair da sala do Eduardo com um ar... digamos... satisfeito.
— E se eu disser que só fui me consultar?
— Eu diria que ele devia pedir demissão, porque nunca vi uma paciente sair de um consultório parecendo ter ganhado na loteria.
Ela deu de ombros, fingindo inocência.
— Talvez eu só goste de provocar. E ele me deixa... inspirada.
Rodrigo assobiou, surpreso com a ousadia.
— Você é um perigo, sabia?
— Perigo reconhece perigo, doutor — disse, sorrindo com doçura venenosa.
Rodrigo estreitou os olhos, ainda rindo.
— Você tá brincando com fogo, mocinha.
— Já me avisaram. Mas... sinceramente? Eu quero é me queimar. E, se depender de mim, o Eduardo vai se queimar junto.
Rodrigo encostou-se na mureta da entrada do hospital, mais sério agora.
— E se ele se afastar?
— Eu vou continuar provocando — ela respondeu, direta. — Até ele não conseguir mais fingir que não sente.
Rodrigo soltou uma risada curta e coçou o queixo.
— Tá. Só um aviso, então: se você for entrar nesse jogo, esteja preparada pra tudo. Porque quando ele cair... vai cair de verdade.
— É isso que eu quero, doutor Rodrigo.
Ela piscou, virou-se com um leve aceno e seguiu seu caminho, deixando um Rodrigo impressionado para trás.
Ele murmurou, rindo sozinho:
— Arnaldo, meu velho... se soubesse a filha que tem...
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Atualizado até capítulo 77
Comments
Ana Magalhães Silva
pega fogo cabare
2025-06-15
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