verdades

O mês de junho chegou com uma chuva fina e constante, como se o céu chorasse devagar, lavando tudo aos poucos. Kelly e Erik seguiam tentando, passo a passo, como quem atravessa um campo minado: atentos, cuidadosos, com medo de recuar e perder tudo outra vez.

Na escola, o comportamento deles já não chamava tanta atenção. Alguns haviam se acostumado, outros apenas fingiam que não viam. Mas, mesmo com os olhares diminuindo, o silêncio entre eles ainda carregava perguntas que nenhum dos dois sabia como fazer.

Uma tarde, Erik a esperava no mesmo banco da pracinha. O céu, acinzentado, parecia prever o que estava por vir. Kelly chegou devagar, sentou-se ao lado dele, e por um instante, tudo ficou em silêncio. O tipo de silêncio que antecede uma confissão. E o tipo de silêncio que, em histórias como a deles, costuma vir acompanhado de dor.

— Erik... — começou ela, com a voz baixa, quase sem fôlego. — Eu preciso te contar uma coisa.

Ele virou o rosto para ela, atento, mas não surpreso. Parecia que já esperava por aquele momento, como se sua intuição sussurrasse há semanas que havia algo escondido por trás do olhar quebrado dela.

— Aquilo que te falei... ou melhor, aquilo que eu nunca falei... É sobre aquele dia. O dia antes de tudo desabar.

Erik respirou fundo, mas não falou nada. Esperou. Esperar, naquele ponto, já era quase uma tortura familiar.

— Eu fui embora. Não porque eu não me importava, mas porque eu estava com medo. Com medo de mim mesma. Medo de não ser suficiente, de te perder por inteiro. Eu me afastei... e naquele dia, eu saí com alguém. Não aconteceu nada demais, mas... eu deveria ter te contado. E nunca tive coragem.

A confissão pairou no ar, pesada, sufocante. A chuva engrossava sobre as árvores, como se o mundo estivesse tentando abafar o som das palavras ditas tarde demais.

Erik fechou os olhos por alguns segundos. Seu rosto não demonstrava raiva, mas uma dor surda. Um tipo de dor que não grita, mas consome. Ele sentiu como se tudo o que tentavam construir estivesse prestes a ruir outra vez.

— Obrigado por me dizer — disse enfim, com a voz rouca. — Dói. Mas eu prefiro a dor da verdade do que a mentira disfarçada de amor.

Kelly assentiu, mas não segurou as lágrimas. Era como se, enfim, a ferida tivesse sido exposta à luz, e ela não pudesse mais fingir que não doía.

Nos dias seguintes, eles falaram menos, mas pensavam mais. As mensagens à noite rarearam. Os encontros se tornaram breves. Mas havia algo novo entre eles: a verdade. E, curiosamente, era isso que os aproximava de forma mais crua.

Contudo, nada era leve. Havia uma sombra crescendo. A irmã de Erik continuava desconfiada, observando Kelly como quem espera um erro. E Kelly... ela sabia que ainda não tinha contado tudo. Um detalhe — pequeno, talvez — mas perigoso o suficiente para destruir qualquer reconciliação. Algo que envolvia uma escolha feita na noite em que tudo desmoronou. Algo que, se descoberto, poderia se tornar a última rachadura.

E ali, entre incertezas, lembranças dolorosas e pequenos gestos de cuidado, começava uma nova fase. Uma fase de passos lentos, cicatrizes expostas e corações cansados. Não havia mais idealizações. Apenas dois jovens marcados tentando sobreviver ao que restava.

Talvez o amor, quando sobrevive à dor... também aprenda a conviver com o medo.

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