CAPÍTULO 3

Acordei com a cabeça latejando, como se a balada ainda ecoasse dentro do meu crânio. Mas não era a música, nem o álcool. Era ele.

Aquele olhar cinza me perseguia desde que voltei pra casa. Frio, calculado… e perigoso. Do tipo que você sente no meio das pernas, mesmo sem ser tocada.

Enzo Moretti.

Até o nome era carregado de arrogância. O CEO da porra toda. O homem que todos na empresa falavam com uma mistura de admiração e medo. E eu? Dei de cara com ele na pista de dança, com meu vestido colado, minha pele exposta e meu coração acelerado.

Que merda.

Desci pro café da manhã com a cara mais normal que consegui fingir. Meu pai já tava sentado na cabeceira da mesa, lendo o jornal como sempre. Terno e gravata às sete da manhã, como se estivesse pronto pra discursar no Congresso.

— Dormiu bem?

— ele perguntou, sem levantar os olhos.

Camila- Aham

— menti, pegando uma fatia de pão e passando manteiga de forma automática.

Camila- A Letícia me arrastou pra uma balada ontem.

Ele levantou os olhos devagar. Um sorriso quase imperceptível apareceu no canto da boca.

— E se divertiu?

Camila- Até demais

— murmurei, bebendo o café.

O silêncio dele me incomodou. Não era um silêncio neutro, era de quem observa e avalia. E do nada, ele solta:

— Evite se aproximar demais de gente do alto escalão da empresa. Às vezes, é melhor manter distância.

Minha mão congelou no meio do movimento. Ele sabia? Impossível. Não tinha como ele saber que Enzo estava lá. Ou tinha?

Camila- Tá falando de quem exatamente?

— perguntei, tentando parecer desinteressada.

Ele deu de ombros.

— Só um aviso. Tem gente com mais poder do que parece. E nem sempre usam isso pro bem.

Não respondi. Engoli o resto do café como se fosse ácido. Cada vez mais eu sentia que tinha algo por trás dessa empresa, desse homem… e do meu pai.

Na Empresa!..

O escritório da Moretti Holdings tinha aquele clima de luxo silencioso. Tapetes caros, paredes de vidro, gente vestida como se saísse direto de uma revista de moda executiva.

Mas mesmo com todo mundo impecável, bastou ele entrar no corredor pra tudo congelar.

Enzo Moretti.

Terno preto sob medida, a gravata afrouxada com descuido intencional, e aquele olhar que parecia despir, analisar e mandar você calar a boca ao mesmo tempo.

Quando nossos olhos se encontraram, o tempo pareceu vacilar. Ele não sorriu. Só ergueu o queixo como quem reconhece o território e me reconhece dentro dele.

— Senhorita Vasconcellos

— ele disse, a voz rouca demais pra ser profissional.

Camila- Senhor Moretti

— respondi, tentando manter o tom neutro, mesmo sentindo meu corpo reagir como se alguém tivesse ligado um interruptor interno.

Ele se aproximou mais do que o necessário. O suficiente pra que eu sentisse o perfume caro, amadeirado, e a tensão que vinha junto com ele. A gente tava no meio do corredor. Mas naquele instante, era como se fosse só eu e ele.

— Pode me acompanhar até minha sala? Temos uma pauta pra resolver

— ele disse, olhando fixamente.

Eu podia ter mandado um e-mail. Podia ter resolvido com o setor de RH. Mas alguma coisa em mim quis dizer sim.

Quis ver onde aquilo ia dar.

A sala dele era um templo minimalista de poder. Vidros fumês, móveis escuros, arte moderna nas paredes. Tudo caro. Tudo calculado.

Ele se sentou na poltrona de couro e me indicou a cadeira à frente. Mas, ao invés de sentar, fiquei em pé, cruzando os braços.

Camila- Qual pauta é essa, exatamente?

Ele sorriu de lado. Lento. Perigoso.

— Queria entender seu comprometimento com a empresa. Saber se veio por mérito... ou por influência paterna.

Camila- Achei que estivesse claro no meu currículo

— rebati.

Ele riu baixo.

— Seu currículo é impecável. Mas é a forma como você reage que me interessa.

Camila- Reajo ao quê?

Ele se levantou devagar, vindo até mim. Meus instintos gritaram pra recuar, mas minhas pernas não obedeceram.

— A mim

— ele sussurrou.

A tensão era quase física. O silêncio entre nós carregado. E então, num movimento rápido, ele passou por trás de mim, com o corpo roçando levemente meu braço. Só o suficiente pra me deixar arrepiada da nuca até os pés.

— Pode voltar pro seu setor

— ele disse por fim, já de costas, olhando pela janela.

— Só quis te olhar nos olhos hoje. Gosto de saber com quem estou lidando.

Saí da sala como se tivesse atravessado um campo minado. As pernas trêmulas, o coração disparado.

Horas depois, Letícia me mandou mensagem:

...📲"Hoje tem de novo, amiga. Baladinha top. Vem comigo!"...

Eu devia dizer não. Depois da merda de ontem, depois daquele encontro no corredor… mas alguma coisa em mim queria mais.

Queria brincar com o fogo.

Quando entrei no carro, meu coração já batia acelerado.

NA BOATE...

A boate estava lotada. Luzes piscando, música vibrando nos ossos. E então, no bar, como se fosse um déjà-vu cruel, lá estava ele. Enzo. De novo. Camisa preta, braços à mostra, o olhar cravado em mim como se tivesse me esperado.

Um sorriso de canto. Um gole no uísque. E aquele maldito olhar que dizia sem palavras:

“A gente ainda vai se queimar junto.”

E eu sabia.

Ia mesmo.

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