Anne
A luz vermelha dançava no teto como se o próprio inferno tivesse decorado aquele clube. O cheiro de bebida misturado com o perfume doce das mulheres se agarrava à minha pele como um segredo sujo, e a batida do som fazia meu coração vibrar no mesmo ritmo do pecado que espreitava ali.
— Anne, você tá com uma cara de quem viu o diabo. — sussurrou Alyssa, rindo enquanto me empurrava um shot — Relaxa, é só diversão.
"É só diversão."
Aquelas palavras ecoaram em mim como uma sentença. O problema era que eu não sabia mais brincar. Desde que prometi à minha mãe que só me entregaria ao amor verdadeiro, passei a me esquivar de encontros, beijos roubados, olhares intensos. E agora, aqui estava eu… sentada na primeira fileira de uma boate de strip.
Inacreditável.
A culpa latejava nas minhas têmporas, mas havia algo mais… algo que fervia embaixo da pele. Curiosidade. Desejo. Vontade de viver uma noite que não fosse controlada por planilhas, reuniões ou metas de produtividade.
As luzes se apagaram por um segundo. O som caiu, e um silêncio tenso tomou conta do ambiente. Todas as mulheres se viraram para o palco. Um segundo depois, o holofote riscou a escuridão.
E então ele apareceu.
Alto. Mascarado. Ombros largos. Peitoral nu coberto por uma fina camada de óleo que realçava os músculos definidos. Calça preta colada, botas escuras, e um sorriso torto de causar taquicardia. Tatuagens se espalhavam por seu abdômen como promessas não ditas.
Um arrepio subiu pela minha coluna. As risadas ao redor pareciam distantes. Era como se só existisse ele e eu.
— Senhoras… — a voz rouca invadiu o microfone e, por alguma razão, me atingiu entre as pernas — Eu sou o Pecado. E hoje à noite… estou faminto.
Uma mulher na plateia gritou. Outra jogou uma peça íntima no palco. Eu continuei imóvel, com as mãos espalmadas no colo, tentando entender por que, entre tantos, era ele que meu corpo reconhecia como perigo.
E desejo.
Ele começou a dançar com uma confiança animalesca. Cada movimento era uma provocação. Rebolava, tocava o próprio corpo, olhava nos olhos de quem estivesse na mira. Mas quando seu olhar caiu em mim, eu soube. Ele tinha me visto. E não desviou.
Um arrepio cortou minha espinha.
Ele desceu do palco. Meu coração parou.
— Ai meu Deus, ele tá vindo pra cá! — Alyssa sussurrou, empolgada.
Ele se aproximou lentamente. Os olhos verdes, quase dourados sob a luz baixa, me examinaram com intensidade. Sua boca abriu um sorriso malicioso, e antes que eu pudesse reagir, ele se abaixou até a minha altura.
— Linda demais pra estar nesse lugar sozinha. — a voz grave roçou contra minha pele.
Eu não consegui responder. Nem respirar.
Ele tocou minha perna. Lentamente, com a ponta dos dedos, como se cada milímetro importasse. Meu corpo inteiro se retesou. A boca secou. E a parte mais surpreendente? Eu deixei. Eu quis.
— Está se divertindo, Anne Hall?
Meu mundo parou. Como ele sabia meu nome?
Antes que eu pudesse perguntar, ele me puxou para fora da cadeira e me levou até um canto escuro, protegido por cortinas de veludo. Eu tropecei nos saltos, desnorteada, com o coração batendo descompassado.
Ali, no escuro, ele encostou meu corpo na parede com firmeza, mas sem brutalidade.
Seu corpo colou no meu. Seu hálito era quente. E a voz veio mais baixa, mais sombria, como uma maldição deliciosa:
— Não deixe nenhum outro homem te tocar. Você me pertence, Anne Hall.
O ar sumiu dos meus pulmões. A cabeça girou. As palavras dele me atravessaram como um raio, acendendo cada centímetro adormecido da minha pele. Eu queria lutar contra aquilo, mas o corpo gritava por mais.
De repente, a luz voltou.
E eu o vi.
O rosto dele, sem máscara.
Meu mundo caiu.
— Logan?! — foi tudo o que consegui sussurrar.
Ali, diante de mim, sem terno, sem gravata, com tatuagens à mostra e o olhar faminto de um predador, estava Logan Gray.
Meu chefe.
Meu Ceo.
O homem que nunca sorri. O homem que dita regras, domina salas, me ignora em reuniões. O homem que eu passo o dia inteiro tentando decifrar.
Ele era Pecado.
E naquele momento… eu soube que minha vida jamais seria a mesma.
— Logan… — meu sussurro mal saiu. Parecia uma prece. Ou talvez um pedido de socorro.
Os olhos dele cravaram nos meus, escuros, intensos, como se pudessem despir cada camada da minha alma. A expressão no rosto dele era de domínio absoluto. Nenhuma vergonha, nenhum arrependimento. Apenas… posse.
— Surpresa, pequena? — a voz saiu baixa, arrastada, carregada de algo que eu não conseguia decifrar. Mas que fazia minhas pernas ameaçarem ceder.
Meu chefe era um stripper.
Não. O stripper.
A imagem dele dançando no palco, provocando, tocando meu corpo ali na frente de todas aquelas mulheres... se embaralhava com as memórias do homem que passava os dias inteiros fechado em uma sala envidraçada, vestido em ternos impecáveis, falando pouco e comandando tudo com apenas um olhar.
— Isso é algum tipo de piada? — minha voz saiu trêmula. Não sei se de indignação… ou excitação.
Ele deu um passo para trás, mas manteve os olhos nos meus. Com um movimento calmo, puxou o paletó que estava pendurado ao lado da cortina, vestindo-o como se não estivesse praticamente nu segundos antes. Como se não tivesse acabado de me deixar em chamas no meio de uma boate.
— Não brinco com coisas sérias. — ele respondeu.
— Você… você mentiu pra mim. Durante dois anos! — explodi, tentando ignorar o calor que ainda latejava entre minhas coxas — E agora isso? Isso é…
Ele arqueou uma sobrancelha.
— Excitante?
Eu o encarei, indignada. E sim, excitante era pouco. Era insano o quanto meu corpo parecia não se importar com a lógica.
— Inapropriado. — corrigi, mas minha voz perdeu força no final.
Ele se aproximou de novo, devagar, como um caçador que sabe exatamente a hora de dar o bote.
— Não finja que você não sentiu, Anne. Eu vi nos seus olhos. Seu corpo tremeu. Sua respiração falhou. Você me quis. — seu dedo percorreu meu braço com lentidão — E ainda quer.
Fechei os olhos por um segundo, tentando encontrar a versão de mim que tinha autocontrole. Mas ela parecia ter saído correndo quando ele me prendeu contra a parede.
— Isso muda tudo. — consegui dizer, mesmo com o coração martelando contra o peito.
— Concordo. — ele sussurrou, os lábios perigosamente próximos dos meus — Agora que você sabe quem eu sou… a gente pode parar de fingir.
— Fingir o quê?
— Que não existe fogo entre nós. — ele inclinou a cabeça — Que você não se contorce na cama imaginando o que eu faria com você.
— Você é meu chefe. — rebati, mas soou mais como um lembrete para mim mesma do que um argumento sólido.
Ele sorriu. Um sorriso lento, perigoso, que prometia coisas que quebrariam todas as promessas que eu já tinha feito à minha mãe.
— E ainda assim, aqui estamos. Sozinhos. No escuro. Com você tremendo por mim.
Sua mão tocou minha cintura, com firmeza. Seus dedos subiram lentamente, deslizando por meu quadril, como se já tivessem traçado esse caminho mil vezes em pensamento. Um calor explodiu no meu ventre. Meu corpo implorava por ele, mesmo que minha mente gritasse o contrário.
— Eu não sou como as outras. — tentei dizer, mesmo que minha convicção estivesse escorregando como gelo sob o sol.
— Eu sei. — ele sussurrou, encostando a testa na minha — Por isso você me enlouquece.
Minha pele se arrepiou. Ele se afastou milímetros, os olhos queimando nos meus.
— Quero você, Anne. De todas as formas possíveis. — sua voz era um sussurro carregado de promessas indecentes — E vou ter. Você pode lutar… mas vai ceder. Porque no fundo, você já é minha.
Minhas mãos estavam fechadas em punhos, tentando conter o impulso de tocá-lo. Ele era tentação pura. Um pecado com nome e sobrenome.
— Isso é loucura… — sussurrei.
Ele sorriu.
— Pode até ser, mas é a nossa loucura.
Nesse momento, a cortina foi puxada bruscamente. Alyssa surgiu com os olhos arregalados.
— Anne! O que você tá fazendo, garota? Eles vão começar o show especial no palco… — ela parou ao ver Logan e arregalou ainda mais os olhos — Espera… esse é o…
— Logan Gray. — ele completou por ela, sem sequer disfarçar o tom provocador — O Ceo da Pulse Technologies.
Ela levou a mão à boca.
— Puta merda.
Exatamente.
Logan deu mais um passo para trás, ajeitou o paletó como se fosse um rei vestindo a coroa e lançou um último olhar para mim, carregado de promessas.
— Te vejo no escritório, Anne.
E então, ele se virou e desapareceu por entre as luzes e a multidão, me deixando ali, com o coração em guerra, a respiração em cacos… e a calcinha tão molhada quanto a minha lógica estava frágil.
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Atualizado até capítulo 43
Comments
Tatiani Monteiro
Nossa que capítulo foi esse em agora ela não vai ter pra onde corre kkk
2025-06-05
1
Graça Oliveira
Eita lê lê esse capítulo foi fantástico maravilhoso gostei.
2025-06-09
1
Matozinho Matozinho
meu Deus autora que capítulo foi esse estou em êxtase
2025-06-06
1