Cap. 4

Depois daquela noite no terraço, nada mais foi como antes para Aline e Daniel. Os encontros fora da faculdade se tornaram frequentes, e aconteciam como se fossem inevitáveis, e sempre acabavam com um beijo apaixonado.

Aline não sabia dizer exatamente quando o que sentia por Daniel, deixou de ser apenas uma atração silenciosa e virou um sentimento completamente novo para ela, que passou a sentir falta dele quando não se viam.

Daniel, por sua vez, era gentil, presente, e gostava de estar com ela, sentir o cheiro da sua pele, o sabor da boca, mas algumas vezes se via dividido entre a vontade de se entregar e o medo de se machucar. Após o fim traumático de seu noivado com Eduarda, ele aprendeu a manter as emoções sob controle, construindo uma fortaleza feita de racionalidade e trabalho. A traição da ex-noiva, deixou cicatrizes, que ele tentava ignorar, mas que ainda causavam dor.  E Aline, com sua energia vibrante e sua autenticidade, era uma ameaça a essa fortaleza. Cada conversa, cada risada, cada olhar dela o fazia questionar se valia a pena continuar se fechando para o mundo.

Daniel não queria admitir, mas a presença dela reacendeu algo que acreditava estar apagado: a possibilidade de se apaixonar novamente.

Naquela noite, após um grupo de estudos que durou mais do que o previsto, Aline começou a guardar seu  caderno pensando em ir embora.  O relógio na parede marcava quase dez da noite, e o cansaço pesava em seus ombros. Ela estava prestes a sair quando viu Daniel encostado no batente da porta com um sorriso que fez seu coração dar um salto.

_Acho que meu cérebro desistiu depois desse grupo de estudo... nem sei quem sou. Brincou Aline, rindo enquanto guardava um marcador de texto na mochila. _Mais uma hora disso estudo e eu começo a confundir posse com propriedade.

Daniel riu do que Aline disse, parando ao lado dela, tão perto que ela podia sentir o calor dele. 

_ Pensei que você já tinha ido embora.

_ Não… eu estava conversando com o meu orientador, e você aguentou mais do que eu esperava. Quer um café pra salvar a noite? Perguntou Daniel com um brilho nos olhos que sugeria algo mais.

Aline sorriu, esquecendo o cansaço, porque a ideia de passar mais tempo com ele era simplesmente irresistível.

_Só se for um café decente, não aquele da máquina da faculdade. Respondeu, com um sorriso provocador.

_ Pode deixar isso comigo. Disse Daniel dando um selinho em Aline antes de pegar a mochila dela num gesto natural e íntimo, seguindo para a cafeteria. Ao chegarem, eles se sentaram em uma mesa mais ao fundo e fizeram os pedidos. Enquanto aguardavam, começaram a conversar sobre tudo, menos Direito, perdendo a noção do tempo.

Quando saíram da cafeteria, o relógio já marcava quase meia. As ruas do Rio de Janeiro já estavam quase desertas, e eles seguiram para o carro de Daniel que a levaria para casa. Pouco tempo depois, passaram em frente a republica onde Aline morava, mas ela sugeriu que ele continuasse dirigindo.

_ Pode me levar para onde você quiser... Aline tomou coragem para dizer, e Daniel seguiu em direção ao edifício onde morava.

Ele olhou para Aline, hesitando, como se uma parte dele quisesse recuar.  Mas Aline, com sua coragem impulsiva, segurou a mão dele sem deixar espaço para dúvidas.

_Quer que eu vá embora?

Daniel respirou fundo, passando a mão livre pelos cabelos em um gesto tenso, quase instintivo. Seus olhos encontraram os dela.

_Não… Aline sorriu, um sorriso que misturava alívio e uma ousadia que ela não sabia de onde estava vindo, e  ele abriu o portão para que entrassem.

O apartamento de Daniel era um reflexo de quem ele era: sóbrio, organizado. A sala tinha um sofá cinza, pequeno por sinal, uma estante repleta de livros jurídicos e alguns romances policiais. Sobre a mesa de centro, havia uma pilha de papéis cuidadosamente alinhada, e no canto, haviam caixas de mudança, sugerindo que ele não estava completamente instalado.

_Acabei de me mudar, então não repare nas caixas, e na bagunça. Avisou Daniel que decidiu se mudar depois do fim do noivado. _ Ah, já viu o sofá.... Ele riu lembrando do erro que cometeu. _ Vou ter que comprar outro, não olhei o tamanho quando comprei pela internet. Disse apontando para o móvel que não combinava com o tamanho da sala.

_ Realmente ele é pequeno para o espaço...

Aline olhou ao redor, absorvendo cada detalhe. Antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, Daniel se aproximou, reduzindo a distância entre eles e a beijou, um beijo cheio de intenção.

Aline correspondeu ao beijo sentindo o coracao acelerar. Daniel se afastou com os olhos fixos nos dela, como se procurasse algo.

_Aline… eu… Começou, a voz carregada de uma emoção nova que tomava conta dele. Aline  colocou o dedo nos lábios dele, silenciando qualquer justificativa ou dúvida que ele estivesse prestes a expressar.

_Só… me beija! Pediu, com uma certeza que a surpreendeu, e ele obedeceu.

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