(Perspectiva de Matteo)
O cheiro de café queimado, misturado com o deboche daquela família, era a trilha sonora da minha manhã.
— Já que você não tem trabalho, pode ir lavar o carro, Matteo. — disse o irmão dela, largando a chave na mesa como quem joga ração pro cachorro. — Depois aproveita e leva Valentina pra faculdade. Pelo menos pra isso você serve.
Cerrei o punho por baixo da mesa. Respirei fundo. Engoli cada palavra que queria cuspir.
Por enquanto.
Levantei a cabeça, mantendo o olhar firme.
— Claro. Sem problema. — minha voz saiu tão tranquila que até eu me surpreendi.
O pai dela riu, cruzando os braços.
— Ele é obediente, pelo menos. Útil como empregado.
Valentina desviou o olhar. O rubor no rosto dela poderia ser raiva... ou vergonha. Talvez os dois.
— Vamos logo, inútil. Não quero me atrasar. — ela disse, se levantando, ajeitando a bolsa no ombro.
Sorri de canto.
— Claro, princesa. — abri a porta do carro pra ela, como um perfeito serviçal.
Mas eles não fazem ideia.
Eles não sabem...
Que o verdadeiro inútil aqui... é quem acha que eu sou fraco.
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(No caminho da faculdade)
Silêncio.
Só o som dos dedos dela nervosos tamborilando no vidro.
Até que, ao parar no sinal, dois idiotas de moto pararam do lado. Um olhou direto pra Valentina e soltou:
— É sério que a riquinha da Valentina agora anda de motorista particular? Misericórdia, caiu muito, hein...
O outro gargalhou alto.
— O inútil até que é bonitinho, parece um mendigo de terno...
Ela abaixou a cabeça, apertando os olhos, respirando fundo. Fingiu que não ouviu. Fingiu que não doeu.
Só que em mim... não doeu.
QUEIMOU.
Desci do carro. Sem pensar. Sem medir. Sem freio.
— Repete. — minha voz era tão baixa que fez os dois pararem de rir. — Eu te desafio... a repetir.
— Tá maluco, cara? — um deles recuou.
— A gente só tava brincando...
— Brincadeira? — tirei o paletó devagar, dobrei as mangas. — Então vamos brincar direito.
Dois segundos depois, um deles tava no chão, gemendo com a cara sangrando. O outro correu. Não... fugiu. Desesperado.
Voltei pro carro. Bati a porta. Liguei o motor.
Silêncio. Total.
Olhei de canto pra ela. Valentina me encarava, olhos arregalados, boca entreaberta.
— O... o que foi isso...? — gaguejou.
Sorri de canto, mão no volante, acelerando.
— Foi só um aviso, princesa. — minha voz saiu rouca, firme. — Ninguém... toca no que é meu.
Ela virou o rosto pro vidro, pressionou os lábios...
E não disse mais uma palavra.
Mas eu percebi.
Percebi o jeito que ela apertou as pernas. O jeito que engoliu em seco. O jeito que as bochechas ficaram vermelhas.
Porque ninguém nunca defendeu Valentina daquele jeito. Nunca.
E, a partir de agora...Ela ia aprender.
Que o homem que ela achava inútil... era, na verdade, o próprio perigo batendo na porta.
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...----------------...
O caminho até a faculdade nunca pareceu tão longo.
Minhas mãos estavam trêmulas no colo. Meu peito apertado. E, por mais que eu tentasse, não conseguia parar de olhar pra ele.
Pra Matteo.
O homem que eu passei dias desprezando. O homem que minha família humilha sem dó.
O mesmo homem que, minutos atrás, fez dois marmanjos correrem como ratos assustados.
Por mim.
A mão dele apertava o volante com tanta força que os nós dos dedos estavam brancos. O maxilar travado, a respiração pesada.
Ele não disse uma palavra. Nenhuma.
E o problema?
O problema era o que isso estava fazendo comigo.
Por que...
Por que meu coração estava acelerado desse jeito?
Por que minha pele estava arrepiada só de estar perto dele?
— Desce. — a voz dele cortou meus devaneios. Grave. Seca. Mandona.
Pisquei.
— O... o quê?
Ele parou o carro. Jogou o queixo pro lado, olhando pra porta.
— Chegamos. Vai.
Cruzei os braços, tentando recuperar minha pose.
— Não me dá ordens. — rosnei.
Ele sorriu. Aquele maldito sorriso de canto, cínico, perigoso... e sexy demais pro meu próprio bem.
— Então pede, princesa. Pede que eu atenda. — sua voz desceu uma oitava. Grave. Suja. Quase um sussurro de tentação.
Minha garganta secou.
— Você é insuportável.
Abri a porta, desci, e antes que batesse, ele falou:
— Eu volto pra te buscar. E se alguém... — ele respirou fundo, apertando o volante — ...se alguém sequer olhar torto pra você... eu quebro.
Bati a porta com força, antes que meu corpo cometesse a insanidade de agradecer.
Me afastei, respirando fundo.
Mas parecia que meu corpo não queria colaborar. As pernas estavam bambas. O coração batia tão forte que doía.
E pela primeira vez... eu não sabia se tremia de raiva...
Ou de desejo.
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(Mais tarde, no portão da faculdade)
E lá estava ele. Encostado no carro. Braços cruzados, expressão entediada, óculos escuros no rosto, camisa preta justa o suficiente pra denunciar cada músculo escondido.
Minhas amigas se aproximaram e começaram a cochichar.
— Você tem certeza que esse é aquele inútil que sua família te obrigou a casar? — perguntou uma delas, apertando os olhos.
— Porque... inútil, ele não parece. — outra completou, mordendo o lábio.
Revirei os olhos, fingindo indiferença.
— É só fachada.
Mentira.
Era pra mim mesma que eu tava mentindo.
Porque, quando ele me olhou, tirou os óculos devagar e me lançou aquele olhar de dono...
Meu corpo inteiro acendeu.
Fui até o carro, joguei a bolsa no banco e entrei.
— Vamos logo. — falei, tentando soar firme.
Ele não respondeu. Só ligou o motor.
Mas no silêncio...
A tensão falava mais alto do que qualquer palavra.
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E, naquele momento, uma coisa ficou clara pra mim.
Perigosamente clara.
O problema não era Matteo.
O problema... era o que ele tava começando a despertar em mim.
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Atualizado até capítulo 55
Comments
Cida Mendes
Anciosa pra essa família lixo comer na mão de Mateus 😃🤣 sou time Matheus
2025-06-05
2
Salete Michels de Gracia
Ainda não entendi nada da estória,mas pra frente de certo as coisas vão clarear.
2025-07-08
1
MARIA LUZINETE DIAS SILVA
Esperando ansiosamente a reviravolta, ele agir como homem destemido e feroz.
2025-06-06
1