capítulo 02

(Perspectiva de Matteo)

O cheiro de café queimado, misturado com o deboche daquela família, era a trilha sonora da minha manhã.

— Já que você não tem trabalho, pode ir lavar o carro, Matteo. — disse o irmão dela, largando a chave na mesa como quem joga ração pro cachorro. — Depois aproveita e leva Valentina pra faculdade. Pelo menos pra isso você serve.

Cerrei o punho por baixo da mesa. Respirei fundo. Engoli cada palavra que queria cuspir.

Por enquanto.

Levantei a cabeça, mantendo o olhar firme.

— Claro. Sem problema. — minha voz saiu tão tranquila que até eu me surpreendi.

O pai dela riu, cruzando os braços.

— Ele é obediente, pelo menos. Útil como empregado.

Valentina desviou o olhar. O rubor no rosto dela poderia ser raiva... ou vergonha. Talvez os dois.

— Vamos logo, inútil. Não quero me atrasar. — ela disse, se levantando, ajeitando a bolsa no ombro.

Sorri de canto.

— Claro, princesa. — abri a porta do carro pra ela, como um perfeito serviçal.

Mas eles não fazem ideia.

Eles não sabem...

Que o verdadeiro inútil aqui... é quem acha que eu sou fraco.

---

(No caminho da faculdade)

Silêncio.

Só o som dos dedos dela nervosos tamborilando no vidro.

Até que, ao parar no sinal, dois idiotas de moto pararam do lado. Um olhou direto pra Valentina e soltou:

— É sério que a riquinha da Valentina agora anda de motorista particular? Misericórdia, caiu muito, hein...

O outro gargalhou alto.

— O inútil até que é bonitinho, parece um mendigo de terno...

Ela abaixou a cabeça, apertando os olhos, respirando fundo. Fingiu que não ouviu. Fingiu que não doeu.

Só que em mim... não doeu.

QUEIMOU.

Desci do carro. Sem pensar. Sem medir. Sem freio.

— Repete. — minha voz era tão baixa que fez os dois pararem de rir. — Eu te desafio... a repetir.

— Tá maluco, cara? — um deles recuou.

— A gente só tava brincando...

— Brincadeira? — tirei o paletó devagar, dobrei as mangas. — Então vamos brincar direito.

Dois segundos depois, um deles tava no chão, gemendo com a cara sangrando. O outro correu. Não... fugiu. Desesperado.

Voltei pro carro. Bati a porta. Liguei o motor.

Silêncio. Total.

Olhei de canto pra ela. Valentina me encarava, olhos arregalados, boca entreaberta.

— O... o que foi isso...? — gaguejou.

Sorri de canto, mão no volante, acelerando.

— Foi só um aviso, princesa. — minha voz saiu rouca, firme. — Ninguém... toca no que é meu.

Ela virou o rosto pro vidro, pressionou os lábios...

E não disse mais uma palavra.

Mas eu percebi.

Percebi o jeito que ela apertou as pernas. O jeito que engoliu em seco. O jeito que as bochechas ficaram vermelhas.

Porque ninguém nunca defendeu Valentina daquele jeito. Nunca.

E, a partir de agora...Ela ia aprender.

Que o homem que ela achava inútil... era, na verdade, o próprio perigo batendo na porta.

...----------------...

...----------------...

O caminho até a faculdade nunca pareceu tão longo.

Minhas mãos estavam trêmulas no colo. Meu peito apertado. E, por mais que eu tentasse, não conseguia parar de olhar pra ele.

Pra Matteo.

O homem que eu passei dias desprezando. O homem que minha família humilha sem dó.

O mesmo homem que, minutos atrás, fez dois marmanjos correrem como ratos assustados.

Por mim.

A mão dele apertava o volante com tanta força que os nós dos dedos estavam brancos. O maxilar travado, a respiração pesada.

Ele não disse uma palavra. Nenhuma.

E o problema?

O problema era o que isso estava fazendo comigo.

Por que...

Por que meu coração estava acelerado desse jeito?

Por que minha pele estava arrepiada só de estar perto dele?

— Desce. — a voz dele cortou meus devaneios. Grave. Seca. Mandona.

Pisquei.

— O... o quê?

Ele parou o carro. Jogou o queixo pro lado, olhando pra porta.

— Chegamos. Vai.

Cruzei os braços, tentando recuperar minha pose.

— Não me dá ordens. — rosnei.

Ele sorriu. Aquele maldito sorriso de canto, cínico, perigoso... e sexy demais pro meu próprio bem.

— Então pede, princesa. Pede que eu atenda. — sua voz desceu uma oitava. Grave. Suja. Quase um sussurro de tentação.

Minha garganta secou.

— Você é insuportável.

Abri a porta, desci, e antes que batesse, ele falou:

— Eu volto pra te buscar. E se alguém... — ele respirou fundo, apertando o volante — ...se alguém sequer olhar torto pra você... eu quebro.

Bati a porta com força, antes que meu corpo cometesse a insanidade de agradecer.

Me afastei, respirando fundo.

Mas parecia que meu corpo não queria colaborar. As pernas estavam bambas. O coração batia tão forte que doía.

E pela primeira vez... eu não sabia se tremia de raiva...

Ou de desejo.

---

(Mais tarde, no portão da faculdade)

E lá estava ele. Encostado no carro. Braços cruzados, expressão entediada, óculos escuros no rosto, camisa preta justa o suficiente pra denunciar cada músculo escondido.

Minhas amigas se aproximaram e começaram a cochichar.

— Você tem certeza que esse é aquele inútil que sua família te obrigou a casar? — perguntou uma delas, apertando os olhos.

— Porque... inútil, ele não parece. — outra completou, mordendo o lábio.

Revirei os olhos, fingindo indiferença.

— É só fachada.

Mentira.

Era pra mim mesma que eu tava mentindo.

Porque, quando ele me olhou, tirou os óculos devagar e me lançou aquele olhar de dono...

Meu corpo inteiro acendeu.

Fui até o carro, joguei a bolsa no banco e entrei.

— Vamos logo. — falei, tentando soar firme.

Ele não respondeu. Só ligou o motor.

Mas no silêncio...

A tensão falava mais alto do que qualquer palavra.

---

E, naquele momento, uma coisa ficou clara pra mim.

Perigosamente clara.

O problema não era Matteo.

O problema... era o que ele tava começando a despertar em mim.

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Comments

Cida Mendes

Cida Mendes

Anciosa pra essa família lixo comer na mão de Mateus 😃🤣 sou time Matheus

2025-06-05

2

Salete Michels de Gracia

Salete Michels de Gracia

Ainda não entendi nada da estória,mas pra frente de certo as coisas vão clarear.

2025-07-08

1

MARIA LUZINETE DIAS SILVA

MARIA LUZINETE DIAS SILVA

Esperando ansiosamente a reviravolta, ele agir como homem destemido e feroz.

2025-06-06

1

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