A noite caiu sobre o Rio de Janeiro como um manto espesso, salpicado de luzes e segredos. No topo do prédio da Amaral Corporation, Dante olhava a cidade com olhos silenciosos. A fachada da empresa era impecável — tecnologia, advocacia empresarial, investimentos. O nome “Amaral” era símbolo de poder e elegância.
Mas por trás daquela perfeição corporativa, Dante comandava algo muito mais antigo e sombrio.
A máfia.
Desde que Aslan Amaral havia deixado as operações ativas para se dedicar à família e aos negócios legítimos, Dante assumira o comando com frieza e precisão cirúrgica. O tráfico internacional de armas, lavagem de dinheiro, acordos de proteção com políticos — tudo passava pelas mãos dele.
E ele adorava o controle.
— Está tudo confirmado para a entrega em Marselha. — disse Leonardo, um de seus braços direitos, ao telefone. — E os franceses confirmaram o carregamento.
Dante assentiu, puxando um gole de uísque.
— Excelente. Só quero silêncio absoluto. Sem rastros.
— E sobre a nova advogada? Ela não parece do tipo que aceita ordens no escuro.
Dante ficou em silêncio por alguns segundos, fitando o reflexo do próprio rosto no vidro.
— Ela não sabe de nada. E vai continuar assim.
**
Na manhã seguinte, Luna chegou cedo à empresa.
Vestia um vestido preto simples, mas elegante, com um blazer acentuando sua cintura e o cabelo preso num coque elegante. Como sempre, vinha com a pasta repleta de relatórios, contratos e pareceres prontos.
O celular vibrou. Mensagem de Dante:
> Sala 25-B. Em 5 minutos. Urgente.
Ela estranhou. Aquela sala ficava no último andar e era reservada para reuniões com investidores internacionais ou situações altamente confidenciais.
Ao chegar, foi surpreendida.
— Vai comigo a São Paulo. — Dante disse assim que ela entrou. — Temos uma fusão para fechar com uma empresa do setor de tecnologia. E quero você do meu lado.
— Desde quando eu viro acompanhante de luxo de mafiosos engravatados? — ela rebateu, o tom sarcástico evidente.
— Desde que você virou a melhor cabeça jurídica aqui dentro. — ele respondeu, frio, mas com um leve brilho no olhar.
**
O jatinho particular estava pronto duas horas depois.
Durante o voo, Luna não tirou os olhos dos contratos, ignorando o olhar de Dante sobre ela. Ele gostava de observá-la: a maneira como mordia a ponta da caneta, o jeito que arrumava os óculos no nariz, o leve franzir de testa ao revisar cada cláusula.
Ela era tão focada que nem percebia como chamava atenção. E Dante, que sempre foi imune a distrações, estava obcecado.
— Você é sempre assim? — ele perguntou, após quase uma hora de silêncio.
— Assim como?
— Tão... insuportavelmente dedicada.
— Você é sempre assim? — ela devolveu, com um leve sorriso. — Tão acostumado a mandar que se irrita quando alguém pensa por conta própria?
— Isso te irrita?
— Me desafia.
Dante sorriu, e ela desviou o olhar. Aquilo não era um jogo. Era uma queda de braço entre duas forças que se reconheciam — porque sabiam que, no fundo, poderiam se destruir.
**
Chegaram em São Paulo no fim da tarde. Foram direto à reunião com executivos da CorpOne, onde Luna apresentou argumentos que deixaram os sócios impressionados.
— Eu esperava arrogância do Amaral, não inteligência da equipe — comentou um deles, rindo.
Dante, calado, apenas observava. Não tinha necessidade de falar — Luna fazia isso por ele. Com maestria.
Ao saírem, Luna estava radiante.
— Não vai dizer nada? — ela perguntou, já dentro do carro que os levaria ao hotel.
— Você foi perfeita. Como sempre.
Ela o encarou. O elogio, vindo dele, parecia mais pesado que um dossiê.
— Obrigada... eu acho.
O carro parou em frente ao hotel cinco estrelas.
No quarto, Luna se jogou na cama com um suspiro. Estava exausta. Mas antes que pudesse tirar os sapatos, alguém bateu à porta.
Era Dante. Com duas taças e uma garrafa de vinho.
— Trégua? — ele perguntou.
Ela hesitou... mas abriu espaço para que ele entrasse.
**
Duas taças depois, a tensão era quase palpável.
— Por que você não tem namorada? — Luna soltou, de repente.
Dante riu, amargo.
— Porque eu não pertenço a ninguém. E ninguém me pertence.
— Isso não é solidão?
— É proteção. Já viu o que acontece com quem ama gente como eu?
Ela o encarou, séria.
— Eu já fui destruída por alguém que dizia me amar. O problema não é amar, Dante. É confiar nas pessoas erradas.
Ele se aproximou devagar. Os olhos queimavam nos dela.
— E eu sou a pessoa errada?
Ela hesitou.
— Completamente.
O silêncio entre eles foi rompido apenas pelo som do vinho sendo servido de novo.
— Então por que ainda está aqui?
Luna deu um sorriso leve.
— Porque pela primeira vez... errar parece inevitável.
**
Horas depois, Dante a deixou sozinha no quarto. Não houve beijo. Não houve toque. Mas o que pairava no ar era mais forte que qualquer aproximação física.
Enquanto voltava para o próprio quarto, ele sabia: Luna era um risco real.
Porque ela o fazia sentir.
E no mundo que ele comandava... sentir era a fraqueza mais perigosa de todas.
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Atualizado até capítulo 36
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