A cafeteria no centro do Rio de Janeiro estava movimentada naquele fim de tarde. Chovia fino, e o cheiro de café fresco misturava-se ao de páginas molhadas de livros esquecidos sobre as mesas.
Dante chegou com o semblante carregado, o paletó negro encharcado nos ombros, a pasta de couro numa das mãos e o celular pressionado na outra.
— Eu falei que era às quatro em ponto. Eu odeio atraso! — rosnou ele, desligando a chamada com força e empurrando a porta de vidro com brutalidade.
No caminho até a mesa reservada, não percebeu a figura delicada parada bem no centro do corredor, equilibrando um copo de latte e um prato com torta de limão.
Tudo aconteceu rápido. Dante esbarrou nela com o ombro, e o impacto fez a garota tropeçar. O café caiu direto no chão, a torta voou... e parte do líquido espirrou no próprio terno caro.
— Droga! — ele vociferou, olhando para a mancha no tecido. — Olha por onde anda, porra!
A garota o encarou de cima a baixo, os olhos faiscando em um tom de verde acentuado pela raiva.
— Olha você! — ela rebateu sem medo, empurrando o peito dele com as duas mãos. — É assim que entra nos lugares? Achando que o mundo se curva pro seu mau humor?
Dante, surpreso, deu um passo para trás, mas logo o orgulho o fez se reerguer, encarando-a de cima.
Ela era pequena, talvez 1,60 de altura, mas sua presença preenchia o espaço como se tivesse dois metros.
— Quem é você? — ele perguntou, seco, limpando a manga com nojo.
— A mulher que você derrubou. E que, por sinal, pagou quarenta reais por esse café que você acaba de destruir. — Ela cruzou os braços, o queixo empinado.
— Manda a conta. — Ele puxou a carteira com desdém.
— Ah, não, querido. Não é sobre dinheiro. É sobre educação. Algo que você parece ter perdido no berço.
Dante ficou em silêncio por um segundo. Ninguém falava assim com ele. Ninguém o enfrentava.
E ali estava ela — molhada de café, furiosa... e absurdamente linda.
Cabelo preso em um coque bagunçado, pele clara, bochechas coradas pela irritação. Vestia uma calça jeans de cintura alta e uma blusa social branca, agora levemente manchada, mas ainda assim impecável.
Antes que ele respondesse, um dos sócios se aproximou da mesa.
— Dante, tudo bem? Essa é nossa nova colaboradora jurídica. Chegou hoje. Veio direto da França.
Ele ficou imóvel. Engoliu em seco.
— França? — murmurou.
A garota estendeu a mão, o sarcasmo ainda nos olhos.
— Luna Delacroix. Advogada. E, infelizmente pra você, seu novo pesadelo profissional.
Dante a encarou por longos segundos. A raiva dentro dele não se dissipava, mas agora... vinha misturada a um interesse sombrio. Ela era diferente. Impertinente. E desafiadora.
— Dante Amaral. Sócio majoritário. — respondeu, apertando a mão dela com firmeza. — E espero que você goste de trabalhar sob pressão.
— Desde que a pressão não venha acompanhada de café derramado e grosseria... acho que vou sobreviver. — Ela sorriu de lado.
**
Enquanto isso, na mansão Amaral...
Rilary mandava selfies de biquíni de uma praia paradisíaca no Nordeste. Aurora revirava os olhos a cada notificação.
— Essa garota precisa entender que não faz parte da família. — murmurou. — Só é sexo casual. E olha lá...
Noah riu alto do outro lado do sofá.
— Sexo casual com o Dante é o mais longe que alguém consegue chegar. Ele é o próprio iceberg.
Yara, sentada na poltrona, ergueu uma sobrancelha.
— Vamos ver se continua assim depois que ele encontrar alguém que afogue esse gelo todo.
**
De volta à cafeteria, Dante observava Luna se afastar após a reunião, a saia rodando levemente ao vento.
Ele sorriu pela primeira vez no dia. Um sorriso breve, quase imperceptível... mas perigoso.
Porque Dante não acreditava em destino.
Mas algo nele sabia: aquela mulher ia virar tudo de cabeça pra baixo.
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Atualizado até capítulo 36
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