Lira soltou um grito de guerra primal, um som que ecoou pela clareira manchada de sangue, misturando a fúria pela perda de Ana com a determinação forjada em anos de espera. Empunhando a adaga de aço élfico como uma extensão de sua própria vontade, ela avançou contra a monstruosidade. Seus cabelos ruivos chicoteavam ao vento enquanto ela corria, os olhos verdes fixos nos vermelhos famintos da criatura.
Num salto ágil e desesperado, impulsionado pela adrenalina e pelo desejo de vingança, Lira arremeteu-se contra a besta. A adaga de aço élfico em suas mãos brilhou sob o luar, pronta para perfurar e rasgar a pele coriácea da criatura. Ela mirou a garganta, o ponto mais vulnerável que podia alcançar.
No entanto, a agilidade de Lira não passou despercebida. Com um movimento rápido e brutal de uma de suas asas membranosas, a criatura golpeou Lira no ar, como se fosse uma boneca de pano. O impacto a arremessou com violência contra o chão, o ar sendo momentaneamente arrancado de seus pulmões. Uma dor lancinante percorreu suas costas, mas a determinação a impulsionou a se levantar quase que instantaneamente.
A besta aproveitou a oportunidade e lançou um ataque direto, suas garras afiadas como navalhas rasgando o ar na direção de Lira. Com um reflexo surpreendente, fruto de seu treinamento incessante, Lira desviou por um triz, sentindo o vento cortante das garras roçar sua pele. Ela cambaleou para trás, mas manteve a adaga firme.
Em um movimento audacioso, Lira usou sua agilidade para se impulsionar novamente. Correndo lateralmente, ela evitou outro ataque da criatura e, com um salto calculado, escalou o corpo da besta, agarrando-se às suas cerdas escuras e ásperas. Com um grito de esforço, ela elevou a adaga acima da cabeça e, com toda a sua força, perfurou a garganta da criatura.
Um som gutural e horrendo escapou da garganta da besta, um borbulho de sangue escuro e espesso. A criatura se debateu violentamente, suas garras arranhando o ar, tentando se livrar do ataque mortal. Lira segurou firme, a lâmina da adaga afundando cada vez mais fundo. O cheiro de sangue se intensificou, quente e nauseante. Finalmente, com um último espasmo, o corpo da criatura tombou para o lado, inerte, esmagando a vegetação sob seu peso.
Lira cambaleou para longe do corpo da besta, ofegante e trêmula, mas vitoriosa. A adaga em sua mão estava encharcada de sangue escuro. Ela olhou para o corpo de Ana, depois para a criatura caída, e uma onda de exaustão e tristeza a atingiu. Mas no meio do alívio, uma pontada estranha percorreu seu corpo, uma sensação de que algo havia mudado dentro dela.
Um calafrio percorreu a espinha de Lira, mesmo com o corpo ainda quente da batalha. A sensação estranha que a invadira foi abruptamente interrompida por uma presença sinistra. Uma sombra surgiu por trás dela, silenciosa como a noite, e mãos frias e fortes agarraram seu pescoço, elevando-a do chão como uma pena. O ar foi instantaneamente cortado de seus pulmões, e a adaga ensanguentada escorregou de seus dedos, caindo na terra úmida com um baque suave.
Uma voz fria e calculista ecoou em seus ouvidos: "Então você matou meu bichinho, não é?"
Lira debateu-se, tentando desesperadamente se libertar do aperto mortal, mas era inútil. Seus olhos arregalados encontraram o rosto de seu algoz: um ser de pele pálida como a cera, emoldurado por longos cabelos negros que dançavam na brisa noturna. Seus olhos... eram de um vermelho intenso, faiscando com uma malevolência antiga e insaciável. Ele a olhou de cima a baixo, com um escrutínio frio e avaliador.
"Interessante", sibilou o estranho, sua voz carregada de um sotaque arrastado e exótico. "Você tem uma determinação forte... Talvez você sobreviva no fim das contas." Um sorriso lento e sinistro curvou seus lábios finos, revelando dentes anormalmente brancos e ligeiramente alongados.
Lira tentou falar, implorar por sua vida, mas o estrangulamento impedia qualquer som de sair de sua garganta. Seus pulmões imploravam por ar, e a escuridão começava a dançar nos cantos de sua visão.
Com um movimento surpreendente, o homem a desceu bruscamente no chão, liberando a pressão em seu pescoço. Lira tossiu, engolindo ar com avidez, enquanto tentava recuperar o equilíbrio. Antes que pudesse reagir, fugir ou sequer levantar a adaga caída, o homem agiu novamente.
Ele agarrou a mão de Lira que ainda crispava, lembrando-se da adaga de aço élfico. Com um movimento fluido e inesperado, ele envolveu seu outro braço ao redor da cintura trêmula da jovem, puxando-a para perto em uma dança macabra. Lira tentou se afastar, mas a força do homem era muito superior à sua.
Então, ele a inclinou levemente para trás, um sorriso predatório se alargando em seu rosto pálido, exibindo agora presas enormes e afiadas, gotejando com uma saliva escura e viscosa. O terror gelou o sangue de Lira quando ela compreendeu a natureza da criatura que a subjugava.
Num instante horripilante, as presas afiadas cravaram-se em seu pescoço. Uma dor lancinante explodiu, misturando-se a uma sensação estranha e inebriante enquanto seu sangue quente era violentamente sugado por aquela criatura da noite. A escuridão finalmente a engoliu por completo, enquanto o veneno e a essência vampírica se espalhavam por suas veias, selando seu destino sombrio.
A escuridão a envolveu como um manto frio, e Lira caiu no vazio, a dor e o horror a consumindo. Quando a consciência retornou, foi como emergir de um pesadelo borrado. Um cheiro denso e nauseante invadiu suas narinas: fumaça e sangue, muito sangue. Sons distorcidos e amplificados ecoavam em seus ouvidos – estalos de madeira queimando, gemidos distantes que ela mal podia discernir. Todos os cheiros e sons, antes sutis, agora a bombardeavam com uma intensidade avassaladora.
Lira se levantou com dificuldade, sentindo uma fraqueza estranha, uma fome que roía suas entranhas de uma forma que nunca sentira antes. Sua adaga, surpreendentemente, estava a seus pés. Ela a agarrou, a familiaridade do aço élfico sendo o único consolo naquele caos sensorial. Cambaleando, ela seguiu o rastro de destruição até a entrada de seu vilarejo.
O que viu ali gelou o resto de qualquer calor que ainda existia em seu corpo. A aldeia que Kael e ela haviam prometido defender estava em ruínas. Casas em chamas lançavam sombras dançantes sobre os corpos espalhados pela terra. Gargantas rasgadas, cabeças arrancadas, entranhas expostas – a cena era um pesadelo materializado. Eram seus vizinhos, seus amigos, brutalizados além do reconhecimento.
"O-O que foi que aconteceu aqui?" Lira murmurou, sua voz rouca e estranha, a garganta seca e arranhada como papel. O horror era tão grande que parecia irreal.
Ela se ajoelhou no chão lamacento, em meio à desolação. Mas, surpreendentemente, nenhuma lágrima escorreu de seus olhos verdes. Nenhuma pontada de tristeza a atingiu como deveria. Seu corpo não reagia. Uma frieza estranha a preencheu, substituindo a dor que deveria sentir. Era como se a capacidade de sentir luto, de chorar pela perda de tudo que conhecia, tivesse sido arrancada dela junto com seu sangue. Apenas a fome e o vazio restaram.
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Atualizado até capítulo 29
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