O Dia Que Tudo Desmoronou

O dia amanheceu cinza. O vento frio batia nas janelas, como se até o tempo quisesse avisar que algo terrível estava prestes a acontecer.

Alice acordou com uma dor estranha no corpo. Sua cabeça latejava, o estômago embrulhado e uma pontada incômoda na parte baixa do ventre fazia seu coração acelerar.

Tentou se levantar devagar, segurando a barriga.

— Calma, meu amor... mamãe tá bem... — sussurrou, mesmo sem saber se aquilo era verdade.

Arrastou-se até o banheiro e, quando olhou para o vaso, percebeu o que mais temia: manchas de sangue. Muito sangue.

O pânico tomou conta.

— Não... não... por favor, não... — sua voz tremia, enquanto as mãos pressionavam a barriga. — Fica comigo... por favor...

Tremendo, pegou o celular. Ligou para Henrique.

Uma, duas, três chamadas... e nada.

Ele não atendeu.

Tentou mais uma vez, e a ligação foi direto para a caixa postal.

Desesperada, respirou fundo e ligou para Júlia, sua amiga de infância, a única pessoa que sempre esteve por perto, mesmo quando Alice se afastou do mundo.

— Júlia... — a voz dela era só desespero. — Me ajuda... eu tô sangrando... tô com muita dor... eu... eu acho que tô perdendo meu bebê...

— Meu Deus, Alice! Fica calma! Eu tô indo agora! Não se mexe, tá? Fica deitada! — Júlia respondeu, já com a voz trêmula, enquanto corria para pegar as chaves do carro.

Enquanto isso, em um hotel luxuoso no centro da cidade, Henrique acordava ao lado de Bianca. A mulher estava deitada sobre o peito dele, traçando círculos imaginários com os dedos, sorrindo satisfeita.

— Eu senti tanto sua falta... — disse ela, com aquela voz melosa que ele sempre achou irresistível.

Henrique, cego, acreditava. Acreditava que aquilo era amor. Que Bianca estava ali porque o queria, não pelo sobrenome, não pela conta bancária, não pelo status que ele podia oferecer.

O celular vibrou em cima do criado-mudo.

Ele olhou de canto, mas ignorou.

— Não vai atender? — Bianca perguntou, fingindo desinteresse.

— Não é importante... — respondeu, puxando-a para mais perto.

A chamada perdida de Alice se apagava da tela, como mais uma oportunidade desperdiçada... como mais uma prova de que ele escolheu estar cego.

O som da sirene da ambulância cortava o silêncio da cidade. Alice estava pálida, encolhida na maca, apertando o ventre com toda força que ainda tinha.

— Vai ficar tudo bem, Alice. Fica comigo, tá? — dizia Júlia, segurando a mão dela, tentando ser forte, mas com os olhos cheios de lágrimas.

Alice olhou para o teto da ambulância, e as imagens começaram a se embaralhar. As dores eram tantas que parecia que seu corpo não aguentaria mais.

E, no fundo, ela não sabia se doía mais fisicamente... ou na alma.

Porque, além de tudo, ela estava sozinha.

Completamente sozinha.

Horas depois, no hospital, o silêncio da sala parecia gritar. A médica entrou com um olhar carregado de tristeza.

— Alice... — sentou-se na beira da cama e segurou a mão dela. — Eu sinto muito... você perdeu o bebê.

O mundo parou.

O som sumiu.

O ar faltou.

Tudo ficou turvo, longe, distante. Só existia um vazio... um buraco negro que sugava tudo que ela ainda tinha de forças.

As lágrimas desceram pesadas, sem controle, sem pudor. Gritos presos na garganta, dor que não cabia no corpo.

— Não... não... — balbuciava, apertando o lençol. — Não pode ser... não... não...

Júlia a abraçou forte, tentando ser o pilar que ela precisava.

— Eu tô aqui, amiga... eu tô aqui... — sussurrava, chorando junto.

No final da tarde, Henrique chegou em casa, ajeitando a gravata, como se nada tivesse acontecido. Ao abrir a porta, notou o silêncio estranho.

— Alice? — chamou, olhando em volta. — Alice, tá em casa?

Foi até o quarto. Nada. Banheiro. Vazio.

Estranhou, pegou o celular e viu as chamadas perdidas. O coração bateu mais forte, um incômodo estranho surgiu, mas ele ignorou... até que a campainha tocou.

Ao abrir, deu de cara com Júlia.

— Cadê a Alice? — perguntou, ríspido.

O tapa veio antes da resposta.

— Seu desgraçado! — gritou Júlia, com os olhos cheios de ódio. — Ela tá no hospital! Perdendo o filho de vocês! Enquanto você... — apontou o dedo no peito dele — ...tava se esfregando com aquela interesseira da Bianca!

Henrique ficou pálido. O chão sumiu debaixo dos pés.

— O... quê? — engasgou, incapaz de processar.

— É isso mesmo que você ouviu! Você matou ela, Henrique. Matou os sonhos, matou o amor, matou tudo que ela ainda tinha por você. E quer saber? Espero que você sofra. Porque você merece. E muito.

Sem esperar resposta, Júlia se virou e saiu, deixando Henrique parado, imóvel, encarando o vazio, enquanto as palavras dela ecoavam como punhais:

"Você matou ela, Henrique. Matou tudo."

E, pela primeira vez... ele começou a perceber que talvez... talvez... tivesse ido longe demais.

Alice, sozinha no quarto do hospital, encarava a janela. Lá fora, a vida seguia... enquanto dentro dela, tudo tinha morrido.

Incluindo qualquer resquício de esperança.

E, no fundo, ela sabia... que se queria sobreviver, precisaria começar... por ela mesma.

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Comments

Iara Barbosa Silva

Iara Barbosa Silva

tomara que leve chifre até não aguentar andar.

2025-07-20

0

Katia

Katia

Só espero q ela não aceite ele de vota , pq vem ele todo arrependido e a tonta aceita.

2025-07-12

0

Tatiane Moura

Tatiane Moura

ttomara que essa Bianca roube tudo dele e deixa ele na lama sem nada 😡😡😡🤘🤘🤘

2025-07-15

0

Ver todos
Capítulos
1 Um silêncio que pesa
2 O Começo do Fim
3 Migalhas de Um Amor Que Nunca Existiu
4 O Dia Que Tudo Desmoronou
5 Quando a Dor Vira Força
6 O Começo de Dois Caminhos
7 O Encontro Que Mudou Tudo
8 O Primeiro Passo da Liberdade
9 O Divórcio Tem Nome: Liberdade
10 Despeito Não É Amor
11 Flores Que Nascem no Concreto
12 O Começo do Fim... e de Um Novo Começo
13 Verdades Que Machucam
14 Do Outro Lado da Porta
15 Quebrando Correntes
16 Quando as Máscaras Caem
17 A Verdade Vem à Tona
18 O Preço da Cegueira
19 Tarde Demais
20 O Fundo do Poço
21 Justiça e Novos Caminhos
22 O Começo do Fim
23 O Peso Do Golpe De Bianca
24 O Último Refúgio
25 As Mágoas à Mesa
26 A Sombra do Passado
27 O Passado Revelado
28 Quando a Ficha Cai
29 A Caçada Começou
30 Confronto no Aeroporto
31 O Peso das Escolhas
32 Onde Florescem Novos Começos
33 O Florescer de Uma Nova Mulher
34 Uma Nova História Começa
35 Quando o Silêncio Diz Mais
36 Novas Constelações
37 O Palco é Dela
38 Luzes Sobre Alice
39 Um Novo Destino
40 Palavras que Curam
41 Quando as Palavras Criam Asas
42 Um Novo Horizonte
43 O Desconhecido da Feira
44 Minha Melhor Companhia
45 Página Virada
46 Um Lugar Só Meu
47 Voz que Ecoa
48 Semeando Novos Caminhos
49 O Silêncio das Respostas
50 Quando Floresce o Que Sobreviveu à Tempestade
51 A Primavera Que Mora em Mim
Capítulos

Atualizado até capítulo 51

1
Um silêncio que pesa
2
O Começo do Fim
3
Migalhas de Um Amor Que Nunca Existiu
4
O Dia Que Tudo Desmoronou
5
Quando a Dor Vira Força
6
O Começo de Dois Caminhos
7
O Encontro Que Mudou Tudo
8
O Primeiro Passo da Liberdade
9
O Divórcio Tem Nome: Liberdade
10
Despeito Não É Amor
11
Flores Que Nascem no Concreto
12
O Começo do Fim... e de Um Novo Começo
13
Verdades Que Machucam
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Quando as Máscaras Caem
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A Verdade Vem à Tona
18
O Preço da Cegueira
19
Tarde Demais
20
O Fundo do Poço
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Justiça e Novos Caminhos
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O Começo do Fim
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O Peso Do Golpe De Bianca
24
O Último Refúgio
25
As Mágoas à Mesa
26
A Sombra do Passado
27
O Passado Revelado
28
Quando a Ficha Cai
29
A Caçada Começou
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Confronto no Aeroporto
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O Peso das Escolhas
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Onde Florescem Novos Começos
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O Florescer de Uma Nova Mulher
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Uma Nova História Começa
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Quando o Silêncio Diz Mais
36
Novas Constelações
37
O Palco é Dela
38
Luzes Sobre Alice
39
Um Novo Destino
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Quando as Palavras Criam Asas
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Um Novo Horizonte
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O Desconhecido da Feira
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