O relógio marcava seis e meia da manhã quando Alice acordou, como fazia todos os dias. O aroma do café recém-passado preenchia a cozinha enquanto ela preparava o café da manhã, mesmo sabendo que, provavelmente, ele nem tocaria.
Era assim. Sempre foi assim. E ela, teimosa, continuava tentando.
Arrumou a mesa, colocou as torradas, frutas, café... Tudo no lugar, na esperança tola de que, quem sabe, hoje ele notasse. Quem sabe, hoje, ele perguntasse do bebê, ou ao menos olhasse pra ela.
Ouviu os passos firmes de Henrique se aproximando. O som dos sapatos batendo no chão sempre causava um misto de ansiedade e dor.
— Bom dia — disse ela, com a voz mais doce que conseguiu, segurando o sorriso.
Ele entrou, ajeitando os botões da camisa, e respondeu, seco:
— Bom.
Sentou-se, pegou uma xícara de café, mas não tocou em mais nada. Seus olhos estavam fixos no celular. Digitava, respondia mensagens, e, de vez em quando, esboçava um sorriso... um sorriso que Alice não via há tanto tempo.
Ela apertou as mãos sobre o colo, tentando disfarçar o incômodo que começava a queimar por dentro.
— Você vai chegar tarde hoje? — perguntou, tentando soar casual.
Ele nem levantou o olhar.
— Não sei. Tenho alguns compromissos.
— Compromissos? — Ela franziu a testa. — Da empresa?
Henrique largou o celular por um instante, respirou fundo e respondeu, impaciente:
— Alice... Eu não tenho que te dar satisfação de cada passo que dou, não é?
Foi como um soco. Ela abaixou a cabeça, sem saber se segurava o choro ou a raiva.
— Não... claro que não — respondeu, engolindo o nó na garganta.
Ele se levantou, pegou o blazer e, antes de sair, disse sem sequer olhar pra ela:
— Cuida de você. E... descansa. É melhor pro bebê.
E, assim, foi embora.
A porta se fechou, levando junto qualquer esperança que Alice ainda alimentava.
Ela respirou fundo, apertou a barriga de forma protetora e, com a voz embargada, sussurrou:
— Ele... ele nunca vai me amar, não é?
Horas depois, no escritório, Henrique estava inquieto. Mexia nos papéis, mas a concentração era zero. Seus pensamentos estavam... nela.
Bianca.
O celular vibrou, como se o universo conspirasse.
Mensagem de Bianca:
"Pensei em você o dia todo ontem... Será que a gente pode se ver hoje?"
Henrique apertou os olhos, respirou fundo. Lutava contra algo dentro de si. Contra a razão, contra o pouco de responsabilidade que ainda restava.
Mas, no fim, o dedo deslizou pelo teclado:
"Me diz o lugar e a hora."
Ao enviar, sentiu o peso do erro... mas não parou.
Final da tarde. Alice, sozinha no consultório, esperava a médica para mais um retorno. Na sala, outras mulheres riam, acompanhadas de seus parceiros. Mãos dadas, olhares cúmplices, sorrisos cheios de amor.
Ela olhou para a cadeira vazia ao lado e sentiu o peito apertar.
Queria não se importar. Queria ser forte. Mas doía. Doía tanto que parecia que, a qualquer segundo, ela desabaria ali, no meio de desconhecidos.
A médica entrou, sorridente.
— E aí, mamãe, como estamos?
Alice forçou um sorriso.
— Estamos bem... eu acho.
— E o papai, não pôde vir?
Ela apenas abaixou os olhos, apertando as mãos sobre o colo.
— Está ocupado...
A médica percebeu, mas não insistiu. Apenas segurou a mão de Alice e disse, gentil:
— Você não está sozinha. Nunca se esqueça disso.
Aquelas palavras, simples, foram como uma faca. Porque, na prática, ela estava sim. Mais sozinha do que jamais imaginou estar.
Enquanto isso, em um restaurante elegante no centro da cidade, Henrique segurava uma taça de vinho, olhando para Bianca, que sorria, sedutora.
Ela tocou a mão dele, deslizando os dedos de forma suave, provocante.
— Eu senti tanto sua falta — sussurrou, olhando nos olhos dele.
Henrique respirou fundo, apertou os lábios, e, mesmo que parte de si gritasse que aquilo era errado, deixou-se levar.
Porque, naquele momento, tudo que ele queria... era se perder nela.
Alice chegou em casa exausta, física e emocionalmente. Jogou-se no sofá, segurando novamente as imagens do ultrassom.
O celular, mais uma vez, permaneceu em silêncio.
Sem mensagens. Sem perguntas. Sem interesse.
Ela fechou os olhos, apertou forte aquelas imagens contra o peito e, em meio às lágrimas que não conseguiu mais segurar, disse:
— Eu te esperei, Henrique... te esperei tanto... Mas, talvez, tenha chegado a hora de aceitar que... eu cansei.
O relógio já passava das dez da noite quando Alice ouviu a porta do apartamento se abrir. Seus olhos, inchados de tanto chorar, imediatamente se voltaram para a entrada.
Por um segundo — apenas um segundo — seu coração ingênuo se encheu de esperança. Talvez ele tivesse sentido sua falta. Talvez estivesse preocupado. Talvez...
Mas o cheiro de perfume feminino que invadiu o ambiente matou qualquer ilusão.
Henrique entrou, afrouxando a gravata, e sequer olhou na direção dela. Seus passos eram firmes, indiferentes. Seu rosto? Carregado de satisfação. Mas não dela. Nunca dela.
— Você chegou tarde... — a voz de Alice saiu falha, quase um sussurro.
Ele nem se deu ao trabalho de fingir.
— Jantar de negócios — respondeu, curto.
Alice apertou as mãos, lutando contra as lágrimas que já ameaçavam transbordar novamente.
— Henrique... você mal olha pra mim. Mal pergunta sobre o bebê... — Sua voz quebrou no meio. — O que está acontecendo com a gente?
Ele finalmente a encarou, mas o olhar estava frio, distante... quase cruel.
— Alice, não começa. — Passou a mão pelos cabelos, impaciente. — Você sabia desde o início que nosso casamento não foi por amor. Não me cobre aquilo que eu nunca prometi.
Ela levou as mãos à boca, tentando conter o soluço que rasgava sua garganta.
— Eu... eu só queria que você se importasse. Só um pouco, Henrique... só um pouco.
Ele riu, seco. Um riso amargo, sem nenhuma sombra de pena.
— Se importasse? — Cruzou os braços, encarando-a. — Você quer que eu minta? Que eu finja que estou feliz, que isso aqui é perfeito? Porque não é, Alice! Nunca foi! E você sabia disso!
Cada palavra era como uma facada no peito dela.
— Eu estou... grávida. — A voz saiu pequena, dolorida. — Grávida do seu filho, Henrique! E você... você age como se eu fosse invisível.
Ele desviou o olhar, apertou os olhos, respirando fundo.
— Eu não te pedi isso. — Sua voz saiu baixa, amarga. — Eu nunca te pedi pra engravidar, Alice.
O mundo dela simplesmente desmoronou naquele instante.
Ela segurou a barriga de forma instintiva, como se quisesse proteger aquele pequeno ser do veneno que saía da boca do pai.
— Deus... — sussurrou, cambaleando para trás, levando a mão à testa, como se quisesse acordar de um pesadelo. — Eu não acredito que você... que você foi capaz de dizer isso.
Henrique não respondeu. Pegou as chaves do carro novamente.
— Eu vou sair. — Sua voz saiu fria, como se falasse com uma desconhecida. — Não me espere acordada.
— Sair? — Ela piscou, incrédula. — Com quem, Henrique? Com quem? Vai me dizer que é com Bianca?
O nome fez ele congelar por um segundo. Pequeno demais para quem não quisesse ser pego... longo o suficiente para confirmar todas as suspeitas dela.
— Isso não te diz respeito — respondeu, ríspido, antes de bater a porta atrás de si.
Alice caiu de joelhos no meio da sala, chorando como nunca antes.
Seu corpo inteiro tremia. Sua alma estava em pedaços. Nunca, nem no pior dos seus pesadelos, imaginou que o homem que ela amava fosse capaz de destruir tanto o coração dela.
Segurou a barriga, entre lágrimas e soluços, e sussurrou, com a voz quebrada:
— Eu te esperei... te esperei tanto... Mas, agora... agora eu... cansei.
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Atualizado até capítulo 51
Comments
Salete Schmitt
o pior que tem mulheres que esperam a vida toda,por esse amor por homens que não dão a mínima pra elas . muito triste 😢
2025-07-14
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Fatima Maria
AUTORA É O PRIMEIRO LIVRO SEU QUE ESTOU LENDO. E GOSTARIA DE SABER COMO FOI A VIDA DESTE CASAL. SE ELES ESTAVAM NAMORADO OU FOI UM FICA¿? PELE JEITO FOI UM FICA. ELE SENDO UM INRESPONSÁVEL COM ELA CASARAM-SE, E HOJE ESTÁ AÍ, UM DESTROÇO.
2025-06-20
1
Gigliolla Maria
só vc pode dar um basta nisso .mas autora
2025-05-25
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