( Valentina )
Se tem uma coisa que eu aprendi nessa vida é que quando tudo começa a dar errado, a tendência é piorar. Tipo arroz queimado: você tenta salvar, vira papa. Tenta comer, quebra o dente. Pois é. Foi mais ou menos isso que aconteceu comigo.
Saio da fazenda com a cara e a coragem. Levo só uma muda de roupa, um pão doce e minha fé em Deus que nem sempre é muito forte, mas é persistente. O sol tá rachando a moleira, o mato parece que tá rindo da minha cara e o chinelo arrebenta logo na primeira curva de estrada.
— “É isso mesmo, vida? Vai me jogar no modo difícil hoje?”
Caminho mais um pouco, tentando pedir carona pra uma vaca que me olha com pena. Quando acho que tô chegando perto de alguma civilização, sinto uma coisa esquisita. Tipo aquele arrepio que a gente sente quando pisa em cocô quente. Só que pior.
Ouço um barulho. Passos. E antes que eu possa soltar um grito, um pano fedido me tapa a boca.
— “Ai meu Jesus, me jogaram na novela das oito!”
Apago.
Quando acordo, tô num lugar escuro, com cheiro de gasolina velha e cueca suada. Tem uns homens encapuzados, armados, e um deles, que parece ser o chefe, vem na minha direção.
— “Seja bem-vinda, Valentina Fonseca.”
— “Ô moço, me perdoe, mas cês confundiram. Eu sou só uma mulher que cria galinha e faz doce de leite! Não vale nem uma troca por uma bicicleta usada!”
— “Cale a boca.”
Gela até o sovaco. E olha que nem desodorante aguenta o medo nessa hora.
— “Seu marido, Geraldo, devia dinheiro à nossa organização. Muita grana. E pra não morrer, ele nos ofereceu… você.”
— “COMO É QUE É?”
Se tivesse uma plateia, dava pra ouvir o "oooooooh" da reação. Eu pisco três vezes pra ver se entendi certo. Eu? Pagamento de dívida?
— “O Geraldo me vendeu que nem galinha de leilão?”
— “Ele fugiu. Mas você ficou. Agora, é nossa. E vai fazer o que mandarmos. Se não obedecer... sua filha morre.”
Nesse momento, minha perna amolece. O coração quer pular da boca. Eu penso na Júlia com a franja torta, no dente mole, no desenho do boi que ela rabiscou na parede da cozinha.
— “O que vocês querem de mim?”
O chefe tira uma foto de dentro da mochila. Um homem elegante, bonito, cara de quem passa perfume francês até pra ir ao banheiro.
— “Pierre Scott Moreau. Juiz federal. Renomado. Frio. Inteligente. E precisa morrer.”
— “Morrer? Moço... eu nem mato barata com veneno! Só jogo o chinelo e rezo pra ela se assustar e fugir!”
— “Você vai matá-lo. Está decidida a missão. Se não cumprir… Júlia morre. E depois você.” — Ele ameaça.
Respiro fundo. Tento pensar. Tento gritar. Mas tudo que sai da minha boca é:
— “Posso, pelo menos, tomar um café antes de virar assassina?”
Silêncio.
Até o encapuzado do canto dá uma risadinha abafada. Mas ninguém responde. Eu fico ali, sentada no chão frio, tremendo, com o coração disparado e a cabeça girando igual carro de pamonha.
Geraldo me meteu nessa. Fugiu. Me largou.
E agora eu, Valentina Fonseca, doceira, caipira, mãe solo e piadista oficial da roça… tenho que matar um juiz. Um tal de Pierre Scott, que, se o nome não for de perfume, é de problema.
— “Ô vida… me bota pra vender empada no semáforo, mas não me dá uma arma na mão…”
Mas agora não tem volta. Se quero salvar minha filha, vou ter que entrar nesse jogo sujo.
E descobrir… quem é esse tal juiz Pierre. Porque se for pra matar, eu preciso conhecê-lo. Ou talvez... talvez eu arrume outro jeito de sair dessa.
Comédia, tragédia ou novela das seis, tô dentro. E dessa vez… é matar ou morrer. Literalmente.
Continua...
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Atualizado até capítulo 32
Comments
Margarida Viturino
ESTA AMA CAFÉ ☕️ DE VERDADE KKKKK MINHA IRMA GÊMEA KKKK
2025-05-21
1
Maria Isabel
Fiz xixi na calcinha kkkkkkkk
2025-05-20
2
marlene morais
É muito bom ler comédia. Obrigada autora.
2025-05-20
1