Capítulo 3

CAPÍTULO 2.

Saí da delegacia com a vergonha me cobrindo como um casaco amaldiçoado. O escândalo havia crescido rapidamente como fogo: os jornais sensacionalistas enchiam suas capas com frases como “A esposa ciumenta que tentou se livrar de sua rival grávida” ou “Desfecho lamentável por ciúmes: empresária detida”. Meu nome, que antes evocava admiração nos grupos sociais e de negócios, agora era motivo de zombaria e desdém.

O trajeto até a mansão pareceu interminável. Meus pais, ao meu lado, mantinham um silêncio pesado, quase insuportável. Podia sentir sua desilusão atravessando meu peito como se fossem facas invisíveis. Desejava gritar que era inocente, que tudo havia sido um mal-entendido… mas não podia. As palavras se prendiam em minha garganta, afogadas pela vergonha e o sofrimento.

Ao chegar, uma sensação de inquietação me percorreu como um arrepio. Algo na mansão havia se modificado. Se sentia… estranha. O jardim, que antes era meu refúgio, parecia estar em decadência. A porta estava completamente aberta, as luzes acesas, e o pessoal evitava cruzar olhares comigo. Tudo indicava que eu não tinha mais lugar ali.

Entrei com a cabeça erguida, esforçando-me para não desmoronar. Só ansiava por pegar minhas coisas e ir embora antes de perder o pouco orgulho que me restava, mas Dreiner não permitiria.

Ele estava me esperando na sala principal, sentado em sua poltrona predileta como um rei cruel em seu trono. Ao lado, Paloma, pálida e frágil, envolta em ataduras e com um braço engessado, ocupava uma cadeira de rodas. Um médico particular e dois advogados os acompanhavam, como abutres dispostos a devorar o que restava de mim.

— Você demorou — disse Dreiner, com aquela voz fria que utilizava para fechar negócios obscuros —. Suas coisas já estão recolhidas. Não quero escândalos nem problemas desnecessários.

Meus pais se tensionaram, mas eu avancei, sem deixar que me quebrassem.

— É assim que você terminará nosso casamento? Com enganos e traições? — minha voz ressoou mais forte do que esperavam neles.

Dreiner se levantou e se aproximou. Em seus olhos já não havia amor… só desprezo.

— Essa foi sua escolha, Antonella. Quando você empurrou Paloma, selou seu destino.

— Foi um acidente e você sabe! — gritei, sentindo como as lágrimas tentavam sair.

Paloma gemeu de forma exagerada de sua cadeira, levando as mãos ao abdômen como se recordasse o impacto. Mas seus olhos… brilhavam com zombaria.

— Antonella… — sussurrou com uma voz apenas audível, como se fosse a vítima ideal —. Eu nunca quis tirar nada de você. Só ansiava por amor…

— Farsante! — gritei, e a raiva emergiu de mim como lava.

O advogado de Dreiner tossiu com falsa cortesia.

— Senhora Bernal, aconselhamos que aceite o acordo que lhe propomos. Se não o fizer, poderá enfrentar uma demanda civil por danos, somado aos encargos penais.

Ele me deu um envelope grosso.

Com mãos trêmulas, peguei-o. Ao abri-lo, senti o conteúdo como um balde de água fria:

Renuncio completamente à minha participação na empresa construtora, aos meus direitos sobre a mansão, e aceito um divórcio rápido sem benefícios econômicos. Em troca, os encargos por tentativa de assassinato serão retirados.

Um trato humilhante: minha dignidade em troca de minha liberdade.

Meus pais me observavam em silêncio, aguardando minha resposta. Tudo o que havia construído, tudo o que alguma vez anseiei… reduzido a um maldito papel.

— Tome seu tempo — disse Dreiner, com aquele sorriso arrogante que já me parecia insuportável —. Mas não demore. Amanhã não serei tão compreensivo.

Foi nesse momento quando algo se rompeu dentro de mim para sempre.

Já não era a mulher que pedia amor. Não era a esposa submissa que esperava em silêncio. Era Antonella Bernal. E ninguém, absolutamente ninguém, me tiraria tudo sem enfrentar as consequências.

Rasguei o documento em mil pedaços e os joguei no chão.

— Não vou assinar nada. Prepare-se, Dreiner. Se busca guerra… terá.

Dei as costas, ignorando os gritos de ira, as súplicas de meus pais para que me tranquilizasse. Aquele lugar já não era meu lar… agora era o campo de batalha onde ia renascer.

Enquanto me afastava, com a maquiagem borrada pelas lágrimas e o coração em pedaços, senti pela primeira vez em muito tempo uma faísca se acender dentro de mim:

A vingança apenas começava.

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