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A última aula do dia terminou, e Lucas fechou seu caderno com um suspiro. Ele ainda não conseguia acreditar que tinha aceitado o convite de Adrian. O que eu estou fazendo? pensou, enquanto guardava seus livros no armário. Antes que pudesse hesitar novamente, uma voz familiar ecoou no corredor.

— Lucas! Vamo, antes que eu mude de ideia e te deixe aqui.

Adrian estava encostado em uma parede, mochila pendurada em apenas um ombro, um sorriso maroto no rosto. Lucas respirou fundo e caminhou até ele.

— Eu ainda posso desistir, murmurou, só para ver a reação de Adrian.

O loiro colocou uma mão no peito, fingindo ofensa.

— Depois de todo o esforço que fiz pra te convencer? Cruel. Ele puxou Lucas pelo braço. Vem logo, o carro tá esperando.

A Viagem

O "carro" era, na verdade, uma SUV preta e luxuosa, com um motorista uniformizado que abriu a porta para eles. Lucas sentiu-se deslocado imediatamente.

— Isso é… normal pra você? perguntou, baixinho, enquanto se acomodava no banco de couro macio.

Adrian deu de ombros.

— Meus pais são meio paranóicos com segurança. E, honestamente? Depois da quinta vez que eu perdi o ônibus, eles decidiram que era mais fácil contratar o Carlos. Ele acenou para o motorista. Ele é gente boa. Já até me cobriu umas vezes que cheguei tarde.

Carlos olhou pelo retrovisor e sorriu.

— Só não faça disso um hábito, garoto.

Lucas ficou quieto, observando a cidade passar pela janela. Era estranho pensar que, enquanto ele passava tardes sozinho em casa, Adrian tinha motoristas, uma casa gigante e…

— Seus pais tão em casa? perguntou, antes mesmo de pensar.

Adrian olhou para ele, e por um segundo, Lucas viu algo passar em seus olhos — algo que quase parecia solidão.

— Não. Eles trabalham até tarde. Quase não os vejo durante a semana.

Lucas não soube o que dizer. Adrian sempre parecia tão… pertencente. Era estranho imaginar que ele também se sentia sozinho às vezes.

A Mansão Hart

Quando o carro parou em frente a uma imponente casa moderna, com vidros fumê e linhas limpas, Lucas engoliou seco.

— Isso é a sua casa?

Adrian riu, abrindo a porta.

— Parece maior do que é. Por dentro é só um monte de cômodos vazios.

Mal eles entraram, Adrian jogou a mochila no chão e tirou os sapatos com um suspiro de alívio.

— Finalmente livre! Ele olhou para Lucas, que ainda estava parado na entrada, parecendo um gato perdido. Relaxa, pode entrar. A casa é sua.

Lucas deu um passo hesitante, observando o lugar. Tudo era impecável — o piso de mármore, as paredes claras decoradas com quadros modernos, a escada em espiral que levava ao andar de cima.

— Você mora aqui… sozinho?

Adrian abriu a geladeira e pegou duas latas de refrigerante.

— Quase. Tem a Maria, a governanta, mas ela só vem de manhã. Ele jogou uma lata para Lucas. Então, sim. É só eu e o silêncio.

Lucas pegou a lata, sentindo um peso no peito. De repente, Adrian não parecia tão diferente dele.

— Eu entendo.

Adrian olhou para ele por um segundo, como se estivesse vendo algo novo. Depois, sorriu.

— Bom, hoje tem eu, você e… Ele pegou um controle e ligou a TV gigante na sala de estar. O melhor jogo de corrida já feito.

Playstation e Pipoca

Duas horas depois, os dois estavam jogando Need for Speed, rindo como idiotas enquanto batiam os carros virtuais um no outro de propósito.

— Você trapaceou! Lucas acusou, quando Adrian ultrapassou sua Ferrari com um golpe sujo.

— Isso se chama estratégia, nerd. Adrian jogou um punhado de pipoca na boca. Aceita que dói menos.

Lucas revirou os olhos, mas não conseguiu conter o sorriso.

— Tá bom, mais uma. Mas sem truques dessa vez.

Adrian inclinou-se para frente, os olhos brilhando.

— Prometo nada.

E, assim, a tarde passou. Jogaram, comeram pizza que Adrian pediu pelo celular, e até assistiram a um episódio de uma série que Lucas nunca tinha ouvido falar.

Quando olhou para o relógio, Lucas surpreendeu-se.

— Nossa, já são oito da noite.

Adrian esticou-se no sofá, parecendo satisfeito.

— Tá com pressa pra ir embora?

Lucas hesitou. A verdade era que ele não queria ir.

— Não é isso… só não quero atrapalhar.

Adrian sentou-se de repente, olhando diretamente para ele.

— Lucas. Você não tá atrapalhando. Ele fez uma pausa. Na verdade… foi legal ter alguém aqui hoje.

Lucas sentiu algo quente no peito.

— Pra mim também.

Adrian sorriu, e por um segundo, parecia mais real do que nunca.

— Então tá combinado. Você vem aqui de novo.

E, dessa vez, Lucas não hesitou.

— Combinado.

O Playstation estava ligado há horas, a tela exibindo a tela de vitória de Adrian pela quarta vez seguida. Lucas jogou o controle no sofá, exagerando um suspiro dramático.

— Tá, chega. Você claramente tem algum pacto com o diabo pra ser bom em tudo.

Adrian riu, jogando a cabeça para trás contra o encosto do sofá. Seu cabelo loiro desarrumado refletia a luz azulada da TV, e Lucas notou, sem querer, como a linha de seu pescoço era definida, quase elegante.

— Eu só tenho habilidades naturais, Oliveira. Ele esticou os braços para cima, se espreguiçando como um gato satisfeito, e foi então que Lucas viu.

As mãos de Adrian. Longos dedos, articulações marcadas, uma leve cicatriz na junção do polegar — como se tivesse cortado fazendo algo bobo, anos atrás. Lucas ficou preso naquele detalhe, na forma como Adrian girava o controle sem esforço, como seus movimentos eram precisos, quase… graciosos.

Adrian deve ter percebido o olhar, porque baixou os braços devagar, virando-se no sofá para encarar Lucas de frente.

— Tá me stalkeando?

Lucas sentiu o rosto pegar fogo.

— Não! Eu só—

— Só o quê? Adrian inclinou-se para frente, apoiando o queixo na mão. Seu sorriso era lento, calculista. Tava admirando minhas mãos? É, eu sei, elas são obras de arte.

Lucas revirou os olhos, tentando disfarçar o nervosismo.

— Eu tava pensando em como você ainda não lavou a louça da pizza.

Adrian riu, mas não recuou. Em vez disso, seu olhar percorreu o rosto de Lucas, parando nos lábios por um segundo a mais do que o normal.

— Você é muito ruim de mentira, sabia?

O ar entre eles mudou. Lucas sentiu o coração acelerar, as palmas das mãos formigando. Adrian estava muito perto agora, e ele não sabia se queria fugir ou congelar no lugar.

Foi então que Adrian fez algo inesperado.

— Você é muito lindo, sabia?

A voz dele estava mais baixa, quase um sussurro. Lucas engoliu seco, abaixando a cabeça imediatamente, o cabelo caindo sobre seus olhos como um escudo.

— Para…

Mas Adrian não parou. Ele ergueu a mão devagar, como se se aproximasse de um animal assustado, e puxou um fio de cabelo de Lucas para trás da orelha. O toque foi leve, mas Lucas sentiu como se tivesse sido queimado.

— Por que você esconde esse rosto? Adrian murmurou, os dedos agora brincando com as pontas do cabelo castanho de Lucas. É um crime.

Lucas não conseguia respirar. Isso era… flertar? Adrian estava flertando com ele? Não, não fazia sentido. Adrian Hart, o garoto mais popular da escola, o rei das festas, o cara que podia ter qualquer um…

— Adrian… Ele tentou novamente, mas a voz saiu quebrada.

Adrian sorriu, mas desta vez, não era o sorriso brincalhão de sempre. Era algo mais quente. Mais perigoso.

— Eu gosto de te ver assim.

— Assim como?

— Todo desconcertado. Só por causa de mim.

Lucas sentiu um choque percorrer sua espinha. Ele deveria se afastar. Devia lembrar que isso era uma má ideia, que Adrian provavelmente só estava brincando, que—

Mas então, Adrian fechou a distância entre eles, seus lábios a apenas um suspiro de distância.

E o mundo parou.

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