O corredor da Elite Crest Academy fervia com alunos conversando, rindo e trocando olhares enquanto se dirigiam para o refeitório. Lucas caminhava alguns passos atrás de Adrian, tentando não chamar atenção, mas era difícil quando o garoto mais popular da escola estava claramente levando-o para algum lugar.
— Não fica tão pra trás, novato — Adrian disse, sem nem olhar para trás, como se soubesse exatamente a distância entre eles. — Vai parecer que eu tô te arrastando contra a sua vontade.
Lucas acelerou o passo, mas ainda assim mantinha uma postura fechada, as mãos enfiadas nos bolsos do blazer.
— Pra onde a gente tá indo?
Adrian sorriu, jogando um olhar por cima do ombro.
— Você vai ver.
Eles viraram a esquina e se depararam com um grupo de garotos sentados em um dos cantos mais movimentados do refeitório. Eram todos bem-vestidos, com posturas relaxadas que gritavam confiança. Um deles, um moreno alto com um boné virado para trás, levantou a mão em cumprimento.
— Fala, Adrian! Quem é o garoto perdido?
Adrian deu um tapa nas costas de Lucas, quase fazendo ele tropeçar.
— Esse é o Lucas. Novo da turma. Vai almoçar com a gente hoje.
Os olhares se voltaram para Lucas, avaliando-o com uma mistura de curiosidade e indiferença. Ele sentiu o peso daqueles olhares e desviou o olhar para o chão.
— Eu não sabia que a gente tava adotando aleatórios agora — disse outro garoto, ruivo e sardento, com um sorriso maroto.
— Cala a boca, Rafa — Adrian respondeu, jogando um pacote de batatas nele. — Lucas é legal. E ele é *meu* convidado.
A última palavra foi dita com uma firmeza que fez o clima mudar ligeiramente. O ruivo, Rafa, levantou as mãos em rendição.
— Tá bom, tá bom. Senta aí, Lucas.
Lucas hesitou, mas Adrian já estava puxando uma cadeira para ele. Ele se sentou, sentindo-se deslocado entre aqueles garotos que pareciam se conhecer há anos.
— Então, Lucas — o moreno do boné começou, apoiando os cotovelos na mesa. — De onde você vem?
— São Paulo — Lucas respondeu, baixinho.
— Nossa, lá é hardcore — o ruivo, Rafa, comentou. — Já foi assaltado?
— Rafa! — Adrian deu um soco no braço dele. — Ignora ele, Lucas. Ele tem o dom de falar merda.
Rafael riu, sem se importar.
— É verdade. Mas fala aí, como tá sendo Nova York?
Lucas encolheu os ombros.
— É… diferente.
— Profundo — brincou outro garoto, um asiático quieto que até então só observava a conversa.
Adrian sorriu, jogando um pedaço de pão nele.
— O Levi tá vivo! Fala alguma coisa útil, pelo menos.
Levi ignorou Adrian e olhou para Lucas.
— Se o Adrian tá te trazendo pra mesa dele, é porque você tem algo que ele quer. Cuidado.
O clima ficou tenso por um segundo, até Adrian rir, como se aquilo fosse uma grande piada.
— Dramático. Lucas, ignore o Levi. Ele acha que é o personagem misterioso de um filme.
Levi apenas levantou uma sobrancelha e voltou a comer em silêncio.
Lucas olhou para Adrian, tentando entender o que estava acontecendo. Por que ele estava sendo tão gentil? Por que ele se importava?
— Você não precisa fazer isso — ele disse baixinho, só para Adrian ouvir.
— Fazer o quê?
— Me incluir. Eu sei que não me encaixo aqui.
Adrian estudou o rosto dele por um segundo antes de responder, com uma leve inclinação da cabeça.
— Quem disse que você não se encaixa?
Lucas não soube o que responder.
— Ei, Lucas — Rafa interrompeu, jogando um saquinho de ketchup na direção dele. — Pega aí.
Lucas pegou no ar, surpreendendo até a si mesmo.
— Boa! — o moreno do boné — que Lucas agora percebeu se chamar Marcos — disse, batendo na mesa. — Finalmente alguém que não deixa a comida cair.
Adrian sorriu, como se aquilo fosse uma pequena vitória.
— Eu te disse. Ele é legal.
E, pela primeira vez desde que chegara naquela escola, Lucas sentiu que talvez — só talvez — ele pudesse pertencer a algum lugar.
O sol já se punha quando Lucas finalmente fechou o portão da casa onde morava, um sobrado moderno em um bairro tranquilo de Nova York. Seus pais haviam escolhido o local por ser "próximo à escola e seguro", mas a verdade era que ele quase nunca os via. O trabalho os consumia — seu pai, um engenheiro sempre em viagem, e sua mãe, uma médica com plantões intermináveis. A casa era grande, silenciosa e, acima de tudo, vazia.
Lucas tirou os sapatos na entrada, evitando olhar para os retratos na parede — fotos de família que pareciam mais uma encenação do que uma realidade. Ele subiu as escadas devagar, sentindo o cansaço do dia pesar em seus ombros. A escola era exaustiva, não pelas aulas, mas pelo esforço constante de tentar se encaixar.
O banho foi rápido, quase mecânico. Ele deixou a água quente levar parte da tensão, mas nem isso conseguia preencher o vazio que sempre o acompanhava. Vestindo uma camiseta larga e um shorts, ele se sentou à mesa de estudo, abrindo os cadernos com determinação. Estudar era sua âncora, a única coisa que ele podia controlar.
As horas passaram. O silêncio da casa era quebrado apenas pelo som das páginas sendo viradas e da caneta riscando o papel. Até que, de repente, seu celular vibrou.
Lucas olhou para a tela, surpreso.
**Adrian:** *"E aí, nerd? Já decorou todos os livros da escola ou ainda sobra tempo pra vida social?"*
Ele hesitou. Adrian Hart estava lhe mandando mensagem. **Por quê?**
**Lucas:** *"Não decorei. Só revisando."*
A resposta veio em segundos.
**Adrian:** *"Chato. Tá fazendo o que agora?"*
Lucas olhou para os livros espalhados sobre a mesa.
**Lucas:** *"Estudando. Você não deveria estar fazendo o mesmo?"*
**Adrian:** *"Nah. Eu tenho meu método: decoro tudo 5 minutos antes da prova e torço pra sorte."*
Lucas não conseguiu evitar um pequeno sorriso.
**Lucas:** *"Isso é irresponsável."*
**Adrian:** *"Ou genial. Depende do ponto de vista."*
E, assim, sem perceber, Lucas se viu envolvido em uma conversa que não tinha nada a ver com fórmulas ou livros. Adrian era imprevisível — uma hora falando de música, na seguinte mandando memes absurdos, e depois perguntando coisas aleatórias, como:
**Adrian:** *"Se você pudesse jantar com qualquer pessoa, viva ou morta, quem seria?"*
Lucas pensou por um momento.
**Lucas:** *"Talvez Alan Turing. Ou Frida Kahlo. Você?"*
**Adrian:** *"Nikola Tesla. Ou o Tony Stark. Ambos contam como pessoas reais, certo?"*
Lucas riu baixinho, sozinho em seu quarto.
E então, sem aviso, Adrian mudou o tom.
**Adrian:** *"Falando em jantar... você comeu alguma coisa ou tá vivendo de livros?"*
Lucas olhou para o relógio. Era tarde, e ele nem tinha percebido.
**Lucas:** *"Ah... esqueci."*
**Adrian:** *"Cara. Você é um desastre. Tá, vou te salvar. Pede um delivery. Minha recomendação: o chinês da 5ª Avenida. Melhor lo mein da cidade."*
Lucas hesitou.
**Lucas:** *"Eu não costumo pedir nada."*
**Adrian:** *"Tá, agora eu tô preocupado. Você é um vampiro? Come só luz do sol e conhecimento?"*
Dessa vez, Lucas riu de verdade, um som estranho até para seus próprios ouvidos. Quando foi a última vez que ele tinha rido assim?
**Lucas:** *"Não. Só... não tenho muito costume."*
**Adrian:** *"Pois é. Bem, agora você tem um amigo que não vai deixar você morrer de fome. Pediu já?"*
Lucas olhou para a mensagem, sentindo algo estranho no peito. **Amigo?**
Ele digitou devagar.
**Lucas:** *"Tá bom. Vou pedir."*
**Adrian:** *"Bom garoto. Depois me diz se gostou. Ah, e amanhã a gente vai almoçar juntos de novo. Não some."*
Lucas não respondeu imediatamente. Ele olhou para a tela, para os livros abandonados, para o quarto vazio.
E, pela primeira vez em muito tempo, ele não se sentiu tão sozinho.
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