...Camilla...
Eu sinceramente não consigo acreditar que é nesse restaurante que o Rafael fez questão de me trazer. Eu instantaneamente fiquei com cara de cu no exato momento.
Esse restaurante não tem nada de chique, pelo ao contrário, é de gentalha, gente sem educação, pobre. Eu pensando que ele ia me levar num restaurante chique, ele me leva num restaurante que ainda por cima entrega quentinha!! É muita zoação com a minha cara mesmo.
Nos sentamos numa mesa em frente a vitrine do restaurante. Se aquele ali era o espaço vip, eu não tava nem um pouco afim de saber como era o resto, tanto que não moverei nem um músculo pra levantar dessa mesa.
Continuo com a minha cara de cu, enquanto ele vê o cardápio.
Rafael: Aí, morena! Vai querer o que? - Diz ele sorrindo pra mim mostrando o cardápio.
Camilla: Não sei. Tem a opção aí "Ir embora desse lugar"? - Digo revirando os olhos e olhando pra fora do restaurante, vendo a rua movimentada.
Rafael: Ah qual foi, morena? Quer ir embora porque? - Diz ele colocando uma mão sobre a minha.
Camilla: É sério que você pergunta isso? Olha só o habitat em que você me leva. - Digo com um tom arrogante. - Digo olhando em volta. - Sério, isso não é pra mim, Rafael.
Rafael: Mais, meu amor. Desde pequeno que a gente vem aqui com os nossos pais e você nunca fez essas graças. Porque tá assim agora?
Camilla: Eu não sou obrigada a ficar num lugar como esse! Um bando de gente sem educação comendo feito umas draga! - Digo olhando em volta com a expressão enojada.
Rafael: Camilla, o que tá acontecendo com você? Você mudou muito desde que foi pra essa faculdade de gente riquinha metida a besta. - Diz ele tirando a mão de cima da minha e largando o cardápio, se escorando na cadeira cruzando os braços olhando sério pra mim.
Camilla: Não tem nada a ver com a minha faculdade, Rafael! Eu só simplesmente não sou obrigada a ficar num lugar como esse? Eu sou muito mais do que isso! Uma garota bonita, educada e inteligente como eu, não merece tá num lugar desse e o pior, perto de gente como essa! - Digo com um tom mais elevado e com um olhar irritado.
Rafael: Sem querer te acordar do seu incrível mundo cor de rosa mais você também faz parte desse mundo, Camilla! Deixa de sonhar vai! - Diz ele também com um tom revoltado.
Camilla: Deixa disso você! - Me levanto da cadeira e levanto o tom de voz.
- Eu não sou obrigada a fazer e agir como você quer! Eu vou continuar pensando assim! Não sou obrigada a ficar perto de um bando de gente mal educada! Já não basta ser pobre, ainda tem má educação? Se você gosta de ser pobre e gosta de ficar no meio de gentinha pobre como você o problema é seu, Rafael! Eu não fico aqui nessa espelunca nem mais um segundo!
Eu pego minha bolsa e saio daquele restaurante. Tá repreendido ficar num lugar como aquele por mais um segundo.
Com isso, pego um motouber no caminho e vou pra minha casa. Só de olhar pra essa vila me dá ânsia, juro.
Digo vila, porque morar em morro já é uma decadência, falar é pior ainda. Vila é menos clichê e menos pobre.
Evito a passar cumprimentando todos, por isso me acham nojenta, não que eu não seja, só que eu não gosto de dar ibope da minha vida pra outro pobre, de desgraça já basta a vida da pessoa que tenha a mesma situação que a minha.
Chego em minha casa e vejo minha mãe na cozinha.
- Oi, mamãe. Cheguei. - Fecho a porta e chego por trás dela, dando um beijo em sua testa.
Maria: Oi, meu amor. - Diz ela sorrindo pra mim.
Minha mãe se chama Maria Aparecida Machado. Nome de uma mulher batalhadora, dessas que o mundo esmaga e ela ainda assim continua em pé. Criou eu e meu irmão mais velho, Caio, sozinha, lavando roupa, cozinhando pra fora, limpando a casa dos outros enquanto esquecia de cuidar dos próprios sonhos.
Ela é o retrato do sacrifício. O tipo de mulher que se contenta com pouco, que acha bonito ser humilde. Mas eu? Eu nasci pra mais.
Ela me ensinou valores, tentou me mostrar o caminho certo... mas eu decidi trilhar o meu. Porque, ao contrário dela, eu não vou morrer invisível. Com todo respeito, mãe... eu não nasci pra ser Maria, eu nasci pra ser Camilla.
Maria: Como foi o primeiro dia na faculdade? - Diz ela sorrindo enquanto lava a louça e eu me sento na mesa, botando a bolsa encima da mesa.
Camilla: Ah, foi bom... - Digo revirando os olhos enquanto bebo um copo de suco de laranja.
Maria: E aí? A Fernanda caiu na sua sala? Pelo o que eu saiba ela também ia cursar na mesma faculdade que a sua. - Diz ela desligando a bica e secando as mãos no pano de prato antes de se sentar ao meu lado.
Camilla: Sim, ela caiu. Pelo menos eu tenho ela de amiga.
Maria: Ah e eu queria falar sobre algo antes que seu irmão chegue.
Eu estou aceno com a cabeça e ela pega em minhas mãos. Sinceramente eu tenho até medo dessa cara de mongol que a minha mãe faz antes de contar as coisas.
Maria: Bom, o seu irmão tá tendo que fazer plantão duplo pra continuar ganhando o salário que ele ganhava, o suficiente pra pagar a sua mensalidade na faculdade. Mais infelizmente não tá recebendo o suficiente por conta do aumento de funcionários aonde ele trabalha, com isso não tem dinheiro o bastante pra pagar sua faculdade.
Camilla: Como é que é, mãe? - Me levanto da cadeira e me afasto da mesa. - Não... Isso não pode ser verdade! Eu já tô devendo o mês de outubro e novembro, como é que eu vou fazer?
Maria: Sinto muito, meu amor, mais você vai ter que aumentar esse prazo do pagamento.
Camilla: Mais a questão é que eu não sei se consigo pedir mais um prazo pro diretor! Já é o segundo e tenho certeza que ele não vai aceitar! Ele vai pensar que estou abusando da bondade dele! - Digo com a mão na cabeça, totalmente frustrada.
Maria: Calma, minha filha. Tudo tem um jeito. - Ela diz se aproximando de mim tentando me tocar.
Camilla: Não, não tem um jeito, mãe! - Digo tirando a mão da cabeça e com o tom de voz alterado, fazendo minha mãe se afastar de medo. - É sempre assim, o Caio vai arrumar um jeito de fazer que tranquem minha matrícula e eu não vou pode me formar! Já está na merda da reta final e porque isso tem acontecer logo com a gente?! Isso tudo é culpa da desgraça da pobreza!! - Digo gritando e minha mãe se assusta ainda mais.
Maria: Minha filha, não adianta colocar a culpa na pobreza agora, pelo amor de deus, se acalma! - Diz ela num tom manso, me fazendo ficar mais irritada ainda.
Camilla: É sim, é tudo culpa da pobreza!! - Digo me aproximando dela, ainda com o tom de voz elevado. - Porque eu não posso ter uma vida luxuosa, porque todos podem ter tudo e eu não?! Eu tenho uma mísera bolsa na faculdade e ainda sim devo 2 meses de mensalidade por causa do trabalho inútil do Caio!!
Maria: Não fala assim do seu irmão, Camilla!! - Diz ela dando um tapa na minha cara.
Eu simplesmente me choco com isso que aconteceu, minha mãe nunca foi de me bater. Eu coloco a mão no rosto e tiro o cabelo da minha cara, olhando pra ela com um olhar de fúria.
Maria: Você dê graças a deus que o seu irmão está trabalhando enquanto eu ainda não arrumei um trabalho fixo de empregada na casa de alguém ainda! - Diz ela com o tom elevado e se aproximando do meu rosto. - E você pode não ter uma vida luxuosa, mais pelo menos você tem o primordial na vida de um ser humano: Saúde e amor!
Camilla: - Dou uma risada debochada. - Obrigado pelo seu discursinho motivacional mais eu nunca vou pensar assim como você! Eu quero o que eu mereço, sou jovem, bonita, não sou obrigada a ficar no meio de pobreza sendo assim e agir como se fosse normal porque não é! - Digo tirando a mão do rosto e olho séria pra ela.
Maria: Você acha mesmo que por ser jovem e bonita merece tudo, não é, Camilla? Mais a vida não é assim. A vida-
Camilla: Ah, me poupe dos seus discursinhos motivacional novamente, mãe! A vida é assim, sim! Só a senhora que age na maior naturalidade e romantiza a vida nessa desgraça de pobreza!! A vida tem muito mais a me oferecer! Saúde, realmente é o primordial. Agora o Amor, mãe? - Digo me aproximando do rosto dela. - Presta bem atenção no que eu vou te dizer. Amor não enche barriga e nem paga a droga dos boletos! - Digo pegando minha bolsa da mesa e entro pra dentro do quarto, fechando a porta com força.
Pego meu celular na bolsa e ligo para Fernanda.
Ligação On🟢
^^^Fernanda: ? - Diz Fernanda no outro lado da linha.^^^
Camilla: Alô, Fer, sou eu, Camilla? Posso ir pra sua casa?
Fernanda: Claro, estou te esperando.
Ligação Off 🔴
Já estava escurecendo, troco de roupa, coloco algo mais confortável, uma blusa branca com a foto da família simpson e um short jeans curto com um chinelo preto da havaianas.
Saio do quarto, pego minha bolsinha preta, coloco o meu celular e gloss dentro, preparada pra sair.
Maria: Pra aonde você vai, Camilla? Não pode sair toda vez que brigamos! - Diz ela cruzando os braços.
Camilla: Não me enche! Estou indo pra Fernanda, tchau! - Abro a porta e saio.
Maria: Camilla, não ouse! - Diz ela chegando perto da porta e eu a fecho, sinceramente, nem me importando mais com o que ela estava falando.
Pego novamente um mototáxi, o mesmo de cedo, pois era amigo de Rafael e digamos que... Eu e o Rafael ainda estamos brigados mesmo.
Ele e a minha mãe são igualzinhos. Só pensam positivo e romantizam essa porcaria de pobreza! Nunca que eu vou ser assim.
Alguns minutos depois, chego na casa da Fernanda.
É linda, não é? E por dentro é ainda melhor. Algum dia, mais cedo ou mais tarde, eu irei conquistar tudo isso e muito mais...
O segurança me deixa entrar, com isso chego na entrada e vejo Fernanda me esperando.
- Oi, Cami! - Diz ela me abraçando e eu a abraço de volta.
Camilla: Oi, Fer, ainda bem que você me deixou vim pra cá. - Digo botando a minha bolsa numa mesinha mais próxima.
Fernanda: Que houve? Brigou com o Rafael ou algo do tipo?
Camilla: Na verdade sim. Com ele e com a minha mãe. - Digo bufando e cruzando os braços.
Fernanda: Meu Deus, Camilla! Duas brigas no mesmo dia com pessoas que você ama? - Diz ela rindo. - Eu não quero ser a próxima, não.
Camilla: Jamais! - A gente ri. - Mais realmente, são brigas demais e eu resolvi vim pra casa da minha melhor amiga, né? Aqui pelo menos eu tenho paz e conforto.
- Digo sorrindo e ela retribui.
Fernanda: Sempre! Vamos entrar!
Ela bota o braço em volta do meu ombro e eu boto um braço em volta da cintura dela, com a cabeça apoiada no ombro dela, andamos pra dentro da casa juntas enquanto rimos com a situação...
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Atualizado até capítulo 52
Comments
Yusuo Yusup
Muito bom, mais por favor
2025-05-10
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