O dia seguinte amanheceu com a atmosfera pesada, como se o ar soubesse o que estava prestes a acontecer.
Elena olhava pela janela do quarto, as mãos cruzadas atrás das costas. O cheiro da terra molhada invadia o ambiente pelas frestas. Ela sabia que aquilo era só o começo. Agora que tinha visto os documentos, não havia mais volta.
Naquela manhã, Alessio lhe entregara um novo celular, seguro e criptografado. Era a única forma de se comunicar com alguém fora dali.
— Tem alguém em quem você ainda confia? — ele perguntara.
— Uma única pessoa — ela respondeu. — E ela vai vir, mesmo sem entender nada.
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Horas depois, um carro antigo cruzou o portão de ferro do casarão.
De dentro dele, saiu uma mulher de pouco mais de trinta anos, cabelos castanhos presos num coque firme, olhos afiados como os de uma águia. Usava jeans escuros, botas e uma jaqueta de couro. Ao lado do banco do carona, descansava uma pistola com a trava engatada.
— Yara — sussurrou Elena, correndo para a porta.
As duas se abraçaram com força. Por um segundo, não existia máfia, nem morte, nem conspiração. Apenas o reencontro de duas almas que tinham sobrevivido a infernos diferentes.
— Você me manda um código antigo e só diz: “Se eu morrer, vingue minha mãe.” Como você acha que eu ia reagir? — disse Yara, sem conter a emoção. — Você sabe que eu largaria tudo pra vir atrás de você.
— Eu sei. Por isso mandei.
Alessio observava a cena de longe. Elena o apresentou com um breve aceno.
— Esse é Alessio Mancini. Ele me salvou.
Yara o encarou com frieza. Estendeu a mão, firme.
— Você é um Mancini. Isso ainda é uma sentença de morte pra mim. Mas... obrigada por não deixá-la morrer.
— Eu ainda posso mudar de ideia — ele respondeu, seco.
Yara deu um sorriso discreto. A tensão entre os dois era palpável, mas havia respeito em cada palavra dita.
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Naquela mesma noite, algo estava estranho.
Os cães latiam sem parar.
Elena, Yara e Alessio estavam reunidos na biblioteca, revendo os arquivos e traçando um plano para expor os envolvidos. Mas Alessio, de repente, ficou em silêncio. O instinto — afiado por anos de guerra — acendeu como um alarme.
— Apaguem as luzes. Agora.
Eles obedeceram. Em segundos, a casa mergulhou na penumbra.
Um segundo depois: o primeiro tiro quebrou a janela da sala.
— Abaixem-se! — gritou Alessio, puxando Elena para trás da estante.
Yara já estava com a pistola em punho. Rolou pelo chão e atirou de volta com precisão. Duas sombras se moveram do lado de fora.
— Estão nos cercando — ela murmurou. — Três. Talvez quatro.
Alessio correu até o painel escondido atrás da lareira. Pegou duas armas e entregou uma para Elena.
— Eu nunca atirei em alguém — disse ela, com as mãos tremendo.
— Então é bom começar agora. Ou vai morrer.
Yara segurou a mão dela com força.
— Você não vai morrer. Eu tô aqui.
Os tiros continuaram. Estilhaços voavam. A madeira das paredes começava a ceder.
Alessio se moveu como uma sombra — rápido, certeiro, silencioso. Em minutos, dois dos invasores estavam caídos. Mas havia mais.
Elena, protegendo Yara, viu uma silhueta na janela — e pela primeira vez, puxou o gatilho.
O som do disparo a ensurdeceu. O homem caiu para trás, atingido no ombro.
Ela engoliu o choro.
— Eu acertei.
— Sim — disse Yara, com um orgulho feroz. — Você é uma Ricci. Mas não do tipo que morre em silêncio.
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Depois do ataque, Alessio examinou os corpos. Nenhum deles era conhecido. Nenhum usava símbolos das famílias. Eram mercenários.
— Alguém está pagando por nós — disse ele.
— Não só pelas famílias — completou Elena. — Alguém quer enterrar todos os segredos.
Yara limpava o sangue do rosto com um pano.
— E se esse alguém estiver dentro das duas famílias?
— Então temos que virar o jogo antes que o tabuleiro exploda — disse Alessio.
Elena olhou para os dois, firme.
— Eu não sou mais a filha mimada de Lorenzo Ricci. Eu sou o que sobrou da verdade.
E pela primeira vez... ela parecia uma líder.
Uma que, talvez, pudesse colocar fim à guerra.
Ou morrer tentando.
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Atualizado até capítulo 41
Comments
Tuxedo Mask
Tá me fazendo rir.
2025-05-08
1