Capítulo 2 – Refúgio em Cinzas

A madrugada se estendia como um véu de luto pelas colinas da Sicília. A chuva cessara, mas o céu ainda carregava o peso das nuvens, como se até os deuses observassem em silêncio o que havia acontecido naquela noite.

Dentro do carro, o silêncio entre Alessio e Elena era mais denso que o nevoeiro lá fora.

Ela mantinha os braços cruzados, apertando o paletó de lã que ele lhe dera. O perfume masculino no tecido — amadeirado, discreto — a fazia lembrar de onde estava. Na mira do inimigo. Mas ainda viva. Por algum motivo que ela não compreendia.

— Você não respondeu — murmurou, quebrando o silêncio. — Por que me salvou?

Alessio não desviou os olhos da estrada.

— Talvez porque você não merecia morrer naquela noite.

— E quem decide isso? — Ela ergueu a voz, quase se irritando. — Você? Um assassino de aluguel da sua própria família?

Ele apertou o volante, mas manteve a calma.

— Eu não sou um assassino de aluguel. Eu sou um Mancini.

— Ah, claro. Isso muda tudo — ela rebateu, amarga.

Ele suspirou, e por um instante seus olhos pareceram mais cansados do que frios.

— Você fala como se o seu sobrenome fosse limpo. Elena, a nossa guerra começou antes de você nascer.

— Eu nunca escolhi essa guerra.

— Nem eu.

O silêncio voltou, mas desta vez era menos hostil. Quase... resignado. Como se os dois entendessem, no fundo, que estavam presos no mesmo jogo, em lados diferentes do tabuleiro.

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O carro parou diante de um portão enferrujado. Atrás dele, um casarão de pedras escuras se erguia em meio às oliveiras antigas, como uma fortaleza esquecida pelo tempo.

Alessio digitou um código. Os portões se abriram lentamente com um rangido metálico.

— Onde estamos? — Elena perguntou, olhando ao redor.

— Propriedade da minha família. Ninguém sabe que ainda usamos esse lugar. Aqui, você estará fora do radar… por enquanto.

Ela hesitou antes de sair do carro. Um vento frio soprou pelas árvores, e ela se encolheu involuntariamente. Ele caminhou à frente, mas notou que ela mancava.

— Você está ferida?

— O joelho. Mas não é nada.

Ele não insistiu, apenas abriu a porta da casa e acendeu as luzes. O interior era antigo, mas acolhedor — móveis de madeira escura, tapeçarias empoeiradas, cheiro de lareira adormecida.

— Não é um hotel cinco estrelas, mas é melhor do que um porão — ele disse.

— Eu esperava algo mais... sinistro. Algemas. Correntes.

Alessio arqueou uma sobrancelha.

— Você acha que eu sou o quê, exatamente?

Ela o olhou de cima a baixo.

— Um lobo em pele de lobo.

Ele sorriu pela primeira vez naquela noite. Um sorriso breve, irônico. Mas algo em seu rosto suavizou.

— Vou preparar algo para você comer. O quarto é no andar de cima, terceira porta à esquerda. Tem um banheiro lá também. Pode trancar a porta se quiser.

— Você vai tentar me matar enquanto durmo?

— Se quisesse te matar, já teria feito isso naquela rua.

Ela assentiu, sem mais palavras, e subiu com dificuldade as escadas. Quando entrou no quarto, encostou-se à porta e deixou o corpo escorregar até o chão.

Só ali, sozinha, ela permitiu que as lágrimas caíssem.

Lá fora, Alessio acendeu a lareira e colocou água para ferver. Mesmo tentando afastar o pensamento, a imagem dos olhos dela no chão do galpão voltava à sua mente. Aquela mistura de fúria e vulnerabilidade.

Ele não sabia o que sentia. Só sabia que, ao poupar Elena Ricci, não tinha apenas quebrado as regras da máfia. Tinha iniciado algo que poderia destruir os dois.

---

Horas depois, já de madrugada, Elena desceu em silêncio, os pés descalços. A luz da lareira ainda queimava, e Alessio estava sentado no sofá, uma taça de vinho na mão.

Ela hesitou à porta.

— Não consigo dormir — disse, baixo.

Ele olhou para ela, depois apontou para a poltrona ao lado.

— Vinho?

— Só se tiver veneno.

— Ainda não decidi se quero te matar... ou te manter viva pra sempre.

Ela sorriu pela primeira vez. Pequeno, sarcástico.

— A indecisão é perigosa, Sr. Mancini.

— Também é o que faz a gente ser humano, Srta. Ricci.

Eles brindaram em silêncio, olhos nos olhos. Por um momento, o mundo lá fora parecia distante. Os tiros, as ordens, os sobrenomes, as cicatrizes. Nada daquilo importava ali, naquela sala aquecida pelo fogo e pela tensão.

Mas ambos sabiam: o amanhecer traria consequências.

E aquela aliança silenciosa — nascida da hesitação de uma bala — podia ser o começo de algo ainda mais mortal que a guerra entre famílias.

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Capítulos
1 Capítulo 1 – A Filha do Inimigo
2 Capítulo 2 – Refúgio em Cinzas
3 Capítulo 3 – Um Segredo Chamado Perdão
4 Capítulo 4 – A Herdeira e o Lobo
5 Capítulo 5 – Códigos de Sangue
6 Capítulo 6 – Máscaras e Cicatrizes
7 Capítulo 7 – Lobo e Serpente
8 Capítulo 8 – Olhos que Queimam
9 Capítulo 9 – Farpas e Veneno
10 Capítulo 10 – Sussurros e Garras
11 Capítulo 11 – Caçadores de Sombras
12 Capítulo 12 – Chamas e Cicatrizes
13 Capítulo 13 – Farpas e Fendas
14 Capítulo 14 – A Filha do Legado
15 Capítulo 15 – O Brilho Antes da Bala
16 Continuação do Capítulo 15 – O Brilho Antes da Bala
17 Capítulo 16 – A Caça Começa
18 Capítulo 17 – Remédio e Respostas
19 Capítulo 18 – Entre Taças e Verdades
20 Capítulo 19 – Ressaca, Ternura e a Maldita Carta
21 Capítulo 20 – A Chegada de Yara e os Fantasmas do Passado
22 Capítulo 21 – Risos, Rastros e Revelações
23 Capítulo 22 – Fragmentos de Sangue e Verdades
24 Capítulo 23 – As Sombras do Passado
25 Capítulo 24 – A Sombra de Giulio
26 Capítulo 25 – Armadilhas e Verdades
27 Capítulo 26 – Festinha, Confusões e Declarações (Ou Quase)
28 Capítulo 27 – Mistérios, Confissões e Silêncios
29 Capítulo 28 – O Silêncio da Floresta e o Som do Coração
30 Capítulo 29 – Entre Beijos e Sombras do Passado
31 Capítulo 30 – Verdades Cortam Mais que Facas
32 Capítulo 31 – Entre Risos e Segredos
33 Capítulo 32 – O Pen Drive
34 Capítulo 33 – Propriedade de um Moretti
35 Capítulo 34 – Segredos Escondidos
36 Capítulo 35 – O Jogo de Máscaras
37 Capítulo 36 – O Jogo da Dor e a Morte do Irmão
38 Capítulo 37 – Cicatrizes e Promessas Ardentes
39 Capítulo 38 – Rir para Não Chorar
40 Capítulo 39 – Tudo Tem um Começo
41 Capítulo 40 – Ninguém Está Seguro
Capítulos

Atualizado até capítulo 41

1
Capítulo 1 – A Filha do Inimigo
2
Capítulo 2 – Refúgio em Cinzas
3
Capítulo 3 – Um Segredo Chamado Perdão
4
Capítulo 4 – A Herdeira e o Lobo
5
Capítulo 5 – Códigos de Sangue
6
Capítulo 6 – Máscaras e Cicatrizes
7
Capítulo 7 – Lobo e Serpente
8
Capítulo 8 – Olhos que Queimam
9
Capítulo 9 – Farpas e Veneno
10
Capítulo 10 – Sussurros e Garras
11
Capítulo 11 – Caçadores de Sombras
12
Capítulo 12 – Chamas e Cicatrizes
13
Capítulo 13 – Farpas e Fendas
14
Capítulo 14 – A Filha do Legado
15
Capítulo 15 – O Brilho Antes da Bala
16
Continuação do Capítulo 15 – O Brilho Antes da Bala
17
Capítulo 16 – A Caça Começa
18
Capítulo 17 – Remédio e Respostas
19
Capítulo 18 – Entre Taças e Verdades
20
Capítulo 19 – Ressaca, Ternura e a Maldita Carta
21
Capítulo 20 – A Chegada de Yara e os Fantasmas do Passado
22
Capítulo 21 – Risos, Rastros e Revelações
23
Capítulo 22 – Fragmentos de Sangue e Verdades
24
Capítulo 23 – As Sombras do Passado
25
Capítulo 24 – A Sombra de Giulio
26
Capítulo 25 – Armadilhas e Verdades
27
Capítulo 26 – Festinha, Confusões e Declarações (Ou Quase)
28
Capítulo 27 – Mistérios, Confissões e Silêncios
29
Capítulo 28 – O Silêncio da Floresta e o Som do Coração
30
Capítulo 29 – Entre Beijos e Sombras do Passado
31
Capítulo 30 – Verdades Cortam Mais que Facas
32
Capítulo 31 – Entre Risos e Segredos
33
Capítulo 32 – O Pen Drive
34
Capítulo 33 – Propriedade de um Moretti
35
Capítulo 34 – Segredos Escondidos
36
Capítulo 35 – O Jogo de Máscaras
37
Capítulo 36 – O Jogo da Dor e a Morte do Irmão
38
Capítulo 37 – Cicatrizes e Promessas Ardentes
39
Capítulo 38 – Rir para Não Chorar
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Capítulo 39 – Tudo Tem um Começo
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Capítulo 40 – Ninguém Está Seguro

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