Meu nome é Verena Marconi. Tenho vinte e cinco anos e carrego um fardo que poucos suportariam: sou, como meu pai sempre diz com um misto de orgulho e dor, uma filha da máfia. Nasci e cresci cercada por códigos silenciosos, lealdades impostas e regras inquebrantáveis… até o dia em que comecei a questionar tudo. Se existe algo que jamais permiti foi ser moldada por esse mundo sufocante — eu nasci para desafiar. Sou uma mulher de presença marcante, dona de uma beleza que não se esquece facilmente. Meus olhos claros são intensos e como um espelho refletem coragem, enquanto meus cabelos castanhos, longos e ondulados, quase sempre presos de qualquer jeito, revelam minha alma livre. Tenho sonhos grandes, uma paixão incontrolável por velocidade e carros, e uma personalidade feita de garra, luta e determinação. Não nasci para obedecer. Nasci para deixar minha marca.
Minha mãe morreu no dia em que nasci, e tudo que sei dela vive nas memórias guardadas por meu pai e nas palavras doces de Carmem, a mulher que me ajudou a crescer. Para meu pai, minha mãe foi mais que uma esposa — ela foi o amor da vida dele. Uma luz brilhando em meio à escuridão cruel do nosso mundo. Ele sempre dizia que ela era feita de coragem e doçura, e que, quando me olhava, via a mesma força e o mesmo brilho nos meus olhos. “Você é o reflexo dela, Verena… tem a alma dela, e o mesmo coração valente”, ele repete sempre, com os olhos marejados. Sei que só permaneceu de pé por minha causa. Eu fui o fio que o manteve respirando quando tudo parecia desmoronar.
Meu pai, Frederico Marconi, é apenas mais um soldado nas engrenagens implacáveis da máfia — pequeno para muitos, gigante para mim. Um homem de honra em um mundo onde a honra é só uma palavra vazia. Ele nunca me escondeu quem era. Já o vi voltar para casa com sangue nos punhos mais vezes do que posso contar. Cumpria ordens. Sempre. Mas, mesmo mergulhado nesse universo cruel, ele me ensinou a ser livre.
Diferente das outras filhas da máfia, eu nunca fui tratada como uma boneca de porcelana. Enquanto elas aprendiam a ser belas e dóceis, eu aprendia a lutar. Aprendi a desmontar armas e motores, a atirar com precisão, a encarar o perigo de frente. Enquanto elas desfilavam vestidos caros, eu usava macacão manchado de graxa e sorria ao sentir o cheiro de óleo queimado. Meu pai me criou para sobreviver — e para jamais abaixar a cabeça para homem nenhum.
Minha verdadeira paixão? Os carros. No Autódromo Castellani, entre motores rugindo e fumaça no ar, encontrei minha essência. Fui a primeira mulher a conquistar uma vaga como mecânica naquele lugar. Trabalhei duro, me formei em engenharia, provei meu valor. Hoje sou não apenas piloto, mas também a força por trás das máquinas mais potentes e vitoriosas que desfilam naquela pista. Junto do meu melhor amigo, Lucas, somos imbatíveis.
Hoje é dia de corrida. E algo no ar está diferente. A tensão pulsa como eletricidade sob a pele. O novo Don da Camorra, Anthony Ferrari, está presente. Meu pai está nervoso. E, confesso, meu instinto me avisa: algo está para mudar.
— Verena, está na hora, minha filha — diz meu pai, com aquele brilho de amor nos olhos, beijando minha testa com carinho. — Seja perfeita. Hoje, todos estão de olho em você.
— Eu sou perfeita, papai — respondo, piscando para ele. — Minhas medalhas falam por mim.
O autódromo está lotado. Arquibancadas cheias, camarotes brilhando com os mais influentes nomes da máfia. As luzes refletem nas máquinas reluzentes. O cheiro de borracha queimada e adrenalina está por toda parte.
Nos boxes, no meu santuário, tudo está impecável. Painéis ajustados, ferramentas organizadas, motores afinados. Cada detalhe passou pelas minhas mãos. Cada carro tem minha alma cravada nele.
De repente, um dos soldados se aproxima, hesitante.
— Verena… o Don está… com os carros. Talvez você devesse esperar.
Congelo. Meu espaço invadido? Alguém ousou pisar onde só eu comando?
— Saia da minha frente — rosno. — Você sabe que não é inteligente me impedir.
— Verena, é o Don… o Don! — ele balbucia, pálido.
— Ele pode ser o rei do inferno, mas aqui sou eu quem manda. Agora sai.
Entro decidida. E lá está ele.
Encostado no MEU carro como se fosse dono de tudo. Cabelos escuros impecáveis, terno caro, olhar assassino. Anthony Ferrari. O homem que faz mafiosos adultos tremerem. Mas não eu.
— Não toque nos carros! Henrique, em que mundo você vive para deixar um estranho aqui? Já falei sobre segurança antes da prova!
Henrique empalidece. O Don me encara com olhos perigosos. Um duelo silencioso.
— Sabe com quem está falando, menina?
— Sei muito bem. Anthony Ferrari. Don da Camorra. Mas título não te dá passe livre nos meus boxes. Portanto, retire-se. A corrida vai começar.
Ele me olha como se decidisse ali mesmo se me quebraria em mil pedaços ou sorriria. E, para minha surpresa, sorri. Um sorriso letal.
— Você tem coragem.
— Tenho competência. E se não quiser ver sua preciosa máquina perder, saia.
A buzina soa. A hora chegou.
— Adeus, Don — digo, entrando no carro.
Quando acelero para a pista, sinto o olhar dele queimando nas minhas costas. Pela primeira vez, algo mexe comigo. Não é medo. É algo mais profundo. Algo que nem ouso nomear.
Lucas aparece ao meu lado.
— O Don está furioso. O que você aprontou dessa vez?
Dou uma risada.
— Só fui eu mesma.
Ele ri e beija minha testa.
— Vamos ganhar essa. Como sempre.
Enquanto piso fundo e sinto o motor vibrar sob meu comando, uma certeza pulsa no meu peito: nada será como antes. Porque agora… Anthony Ferrari me viu.
E o jogo acaba de começar.
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Atualizado até capítulo 32
Comments
Tania Cassia
estou gostando vamos ver o desenrolar, os personagens são lindos
2025-05-05
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Claudia
Úall dois pesos pesados o que vai acontecer 🤭🧿♾
2025-05-05
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Benedita Barboza
O bicho vai pegar com esses dois
2025-05-06
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