Entre Cobertores, Cacarecos e Caos

Duas semanas. Esse era o tempo que Hana havia sobrevivido sob o mesmo teto que Minjae sem cometer um crime — o que, honestamente, já era uma vitória pessoal.

Desde o acordo maluco que os unira sob o mesmo contrato, a convivência vinha sendo uma montanha-russa desengonçada: café dividido com olhares tortos, discussões sobre a playlist da sala e até guerra fria silenciosa por causa do controle remoto.

— Você tem sérios problemas com espaço pessoal, sabia? — ela resmungou, empurrando o braço dele que invadia seu lado do sofá.

— E você tem sérios problemas com drama, baixinha. — ele retrucou, sem mover um músculo.

— Não me chama de baixinha, palito de dente ambulante.

O apelido pegou. Hana fingiu se ofender, mas mordeu o lábio pra esconder o riso. Eles discutiam por tudo — desde o último pedaço de pizza até quem entornou o leite no chão da cozinha. Mas aos poucos, entre as provocações, surgiu uma rotina... estranhamente confortável.

Minjae, apesar da casca grossa, fazia um arroz perfeito. E Hana, mesmo ranzinza de manhã, deixava bilhetes engraçados com desenhos toscos de gatos pela casa — o que ele jamais admitiria gostar.

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Numa quarta-feira qualquer, ambos voltaram do trabalho exaustos. Hana largou os sapatos na entrada e tropeçou neles três segundos depois.

— Você é um perigo doméstico, — Minjae comentou, jogando a mochila no chão.

— E você é uma praga que não sabe guardar nada no lugar.

— Tô vendo que o humor veio vencido hoje.

— Tô vendo que sua existência tá me custando paciência.

Ambos riram, apesar da implicância.

Ela foi tomar banho, e ele ficou zapeando os canais. Quando Hana saiu do banheiro com uma toalha na cabeça e um pijama de porquinhos, ele arregalou os olhos.

— Isso aí é moda conceito ou castigo divino?

— É o que sobrou depois que VOCÊ colocou minhas roupas pra secar na gaveta.

— Eu achei que era a máquina de secar…

— A gaveta não faz barulho, Minjae!

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Na sexta-feira, um novo personagem entrou em cena: Jiwon, amigo de infância de Minjae, apareceu sem avisar com um pacote de cervejas e uma expressão de quem ia causar.

— Quem é a coabitante fofa? — perguntou ao ver Hana.

— A advogada do apocalipse, Minjae respondeu.

— E ele é o ogro mal-humorado que acha que manda aqui, — Hana rebateu com um sorriso cínico.

Jiwon caiu na gargalhada. “Vocês dois parecem um dorama em tempo real.”

E ali estava: um amigo intrometido, jogando combustível no caos.

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Mais tarde naquela noite, os três jogavam cartas na sala. Hana perdeu três rodadas seguidas.

— Tá sabotando meu jogo, palito?

— Sua sorte é que não vale dinheiro, baixinha.

— Vou esconder seu shampoo masculino genérico, só de raiva.

Jiwon quase chorava de rir. “Isso aqui tá melhor que Netflix.”

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No domingo, entre faxinas e brigas por playlist, Minjae recebeu uma notificação no celular. Ele esboçou um sorriso estranho. Hana percebeu.

— Tá apaixonado agora, por acaso? — ela provocou.

— Na verdade… era só uma ex que mandou mensagem.

— Ah, que fofo. — disse Hana, tentando soar desinteressada. — Que bom que as múmias ainda sabem digitar.

Ele a olhou com um sorriso torto.

— Ciúmes, Hanazinha?

— Do que? Do seu gosto duvidoso? Tô com pena, só isso.

Ela se levantou e saiu da sala, deixando Minjae surpreso. Pela primeira vez, parecia que a brincadeira tinha doído um pouco.

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Na segunda-feira, o clima estava diferente. Mais calado. Eles tomaram café sem se cutucar. A toalha molhada de Minjae ficou no banheiro — e Hana não reclamou. E isso era pior que brigar.

— Vai querer arroz hoje? — ele perguntou, já cortando legumes.

— Não tô com fome, — ela respondeu, virando-se.

Ele a olhou. Aquela não era a Hana resmungona de sempre. Era a versão quieta. E isso incomodava.

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Mais tarde, Minjae estava jogando no celular quando viu um post de uma antiga colega de faculdade: Yerin. Ele curtiu a foto sem pensar. Trinta segundos depois, uma mensagem apareceu:

“Minjae? Que surpresa…”

Ele ficou ali, olhando a tela. Sem responder. E sem saber por quê, pensou em Hana. Na forma como ela franzia o nariz quando algo a irritava. Na maneira como cantarolava músicas horríveis enquanto lavava a louça.

E, pela primeira vez, o silêncio da casa pareceu grande demais.

Continua.

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