02. Surpreendida na balada

Maya havia passado toda a manhã na praia. Como aquela área era privada e havia poucas pessoas por ali, ela estava aproveitando o Sol e o mar como podia. Sua mente estava leve e tranquila. Não quis saber de nada do mundo externo, por isso até mesmo deixou o celular de lado e substituiu por um livro, que a muito tempo estava em sua estante e não havia lido.

O livro contava a história de um herói cuja missão era proteger um reino e sua princesa; algo bem clichê, mas que optou por sair um pouco da realidade pesada que sempre a cercou. Afinal, ela nunca teve como base de vida um conto de fadas, mas sim a realidade e a dor de perder entes queridos e da guerra.

Ela observou uma família mais adiante, onde os pais brincavam na água com seus filhos. Aquelas pessoas não sabiam de como eram os campos de concentração de refugiados e muito menos de como era horrível ter a sua vida em perigo para proteger a paz. Eles apenas viviam felizes e alienados, sem nem imaginar o custo da paz. De qualquer forma, ninguém ali tinha culpa do que acontecia em uma guerra.

Logo ela tratou de afastar seus pensamentos. Aquela não era nem a hora e nem o local para se lembrar do que realmente fazia. Já cansada de ficar na areia, se levantou, pegou a canga que havia levado e o livro para voltar para sua suíte, que também era maravilhosa, com uma varanda que dava para ver o mar. Tinha poucas horas que estava ali, mas estava adorando o local.

Maya passou no chuveiro, tirou o sal e a areia do corpo e seguiu para a suíte, onde tirou o maiô, ficando completamente nua; ao se encarar no espelho, se surpreendeu com um leve bronzeado, a deixando satisfeita. Tomou um banho, lavou os cabelos e pediu para o almoço ser entregue ali no quarto já que Damien estava fora.

Como tinha algum tempo, pegou o celular e ligou para Peter para saber se tudo estava bem e avisar que havia chegado bem; fez o mesmo com Luma e enviou uma foto da varanda do hotel para a amiga, que respondeu dizendo estar encantada e que logo gostaria de estar ali com ela. Maya também enviou a mesma foto para Elisa e Hilde. A primeira não visualizou a mensagem, já Hilde respondeu estar com inveja, que gostaria de marcar uma viagem somente ela e Maya para se divertirem.

Mais tranquila por avisar a Peter e às amigas que chegou bem, ela se acomodou no pequeno sofá e ligou a TV para ver as notícias locais. Logo se surpreendeu com a diferença das notícias da cidade em que estava. Em Bryon falavam da guerra e dos problemas que essa ocasionava, agora ali, mostravam a cultura, falavam dos acontecimentos cotidianos e até os crimes eram noticiados com menos intensidade do que estava acostumada a ver.

Ela ouviu batidas na porta e se levantou para ir atender, encontrando um funcionário com seu almoço. Maya pegou a comida, deu uma gorjeta ao funcionário e sentou à mesa para apreciar a refeição. Havia escolhido uma massa com molho de camarão e um vinho branco; como sobremesa, foi enviado uma mousse de chocolate. Como estava sozinha, queria ter o prazer de comer tudo o que gostasse.

Na primeira garfada, ela sentiu o gosto maravilhoso do molho preencher a sua boca e então flashes de imagens surgiram em sua mente. Nas lembranças estavam ela, Luma, Damien e Theron em um restaurante, onde tinha uma travessa com camarões empanados espetados em um arranjo. Ela e Theron estavam próximos e ela alimentava Marie com algo. Maya fechou os olhos e massageou as têmporas. Quando Theron esteve em uma viagem com ela, Luma e Damien? Assim que Damien retornasse, perguntaria.

Já estava anoitecendo quando Maya acordou do que era para ser um cochilo após o almoço. Seu celular tocava incessantemente, o que a fez despertar:

— Alô?

— Te acordei? — Damien perguntou ao notar a voz sonolenta.

— Sim. — Maya se ajeitou na cama.

— Quer ir para uma festa?

— Que tipo de festa?

— Stephen é DJ e vai tocar em uma casa noturna aqui perto, quer ir?

— Pode ser.

— Às 22 passo aí para te pegar.

— Certo! Tem alguma roupa específica que devo usar?

— Não hoje é livre. Apenas fique mais linda que já é.

...****************...

Para a noite, Maya optou por usar um vestido dourado com alças finas, que ficou solto em seu corpo devido à perda de peso. Os cabelos estavam soltos para esconder as costas nuas; optou por uma maquiagem que desse destaque aos olhos e apenas um batom nude nos lábios. Como joias, escolheu um bracelete e uma correntinha também dourada no pescoço. Sua arrumação foi interrompida por batidas na porta, a qual ela logo foi atender, encontrando Damien:

— Uau! Você está linda!

— Obrigada! Deixe eu só passar um perfume e pegar a bolsa.

— Claro. — Damien entrou na suíte.

— Achei que iria trazer o Stephen para eu conhecer. — Maya falou alto de dentro do quarto para o amigo ouvir.

— Não deu tempo, ele já foi para o trabalho e vou te apresentar ele lá. Nem preciso dizer que ele está louco para te conhecer.

— Sério? — Maya voltou.

— Sim. Ainda mais depois que viu as suas fotos. Ele disse que gostaria que você fosse modelo dele algum dia.

— Vou adorar. Vamos indo?

— Vamos.

O táxi já os aguardava quando saíram do hotel. A casa noturna não era tão longe, aliás, nada por ali era distante demais. O local tinha uma entrada trabalhada com madeira e plantas; o nome estava escrito em neon e uma enorme fila de espera se formava na porta principal. Damien a ajudou a desembarcar e a encaminhou para a entrada VIP. Antes de entrar ela ouviu um chamado, mas como não conhecia ninguém por ali, apenas ignorou.

A área VIP contava com salas privadas no andar superior, com serviço open bar e um restaurante à disposição. Damien saiu do local informando que iria buscar Stephen, a deixando sozinha com um balde onde uma garrafa de champanhe repousava no gelo. As imagens que surgiram em sua mente na tarde anterior ficavam mais claras a cada hora que passava. Em algum momento teria que verificar com Damien.

A porta se abriu e logo Damien surgiu com um belo homem de cabelos loiros e com olhos que misturavam o verde e o azul, que fez Maya se lembrar de Elisa:

— Maya, esse é o Stephen. Stephen, essa é a famosa Maya. — Damien apresentou.

— Uau, ela é tão linda como nas fotos! — Stephen se aproximou de Maya e a abraçou educadamente. — Damien fala tanto de você que parece que te conheço há anos.

— Sinto o mesmo. — Maya respondeu enquanto era abraçada.

— Seja bem-vinda, espero que goste do meu repertório de hoje e por favor, dance até esquecer do mundo.

— É essa a ideia.

— Vou levar ela para pista de dança e quando você encerrar, nós voltamos juntos, pode ser? — Damien perguntou.

— Claro, até porque não vai ter nada melhor depois que eu me apresentar. — Stephen tinha um olhar carinhoso para Damien.

— Eu sabia que o Damien era um amor, mas ver vocês dois juntos aumentou muito o meu padrão. — Maya brincou.

— Por favor, espero que se for para escolher um relacionamento, que seja do nosso nível para cima. — Damien brincou de volta.

— Vai ser, bonita desse jeito, certeza de que hoje já deve aparecer uns cinco pretendentes. — Stephen riu.

— Não duvido.

— Agora vou para o meu posto. Nos encontramos em uma hora.

— Certo! — Damien beijou o namorado que saiu da sala. — E então, quer beber algo primeiro antes de descer para dançar?

— Você sabe que eu não bebo.

— Só hoje. Você precisa se soltar.

— Tem razão, só hoje não vai me matar.

Damien se apressou em abrir a champanhe e pediu uma tábua de frios para comerem. Quando Stephen assumiu as pick-ups, eles desceram para a pista de dança, que estava cheia. Maya foi guiada até a frente por Damien, que a induziu a dançar, enquanto eram observados por Stephen, que tinha um sorriso animado nos lábios.

Maya não sabia se era efeito da bebida, mas estava sentindo o corpo mais leve e seguia as batidas da música. A sensação era maravilhosa e poderia ficar ali por horas que não se importaria. O passado, o presente e o futuro não eram preocupações no momento, tudo o que precisava fazer era dançar.

Já estava na terceira música quando sentiu um pouco de sede e informou a Damien que iria até o bar para pegar algo para beber. Damien concordou e ela seguiu para o bar no primeiro andar mesmo. Passou entre as pessoas, que sorriam para ela; recebeu elogios de homens e mulheres, até que alcançou o bar, onde pediu uma soda italiana. A jovem barman sorriu para ela e pediu que aguardasse, que iria providenciar:

— Soda italiana?

A voz chamou a atenção de Maya, que logo direcionou os olhos para o jovem loiro de olhos cinzas, quase azuis, e sorriso fácil:

— Por quê? É tão estranho pedir algo assim? — Falou alto para ele ouvir.

— Estamos em uma balada, aqui temos que tomar álcool. — Ele riu.

— Desculpe, é que não costumo beber nada alcoólico.

— Aqui tem opções sem álcool também. — Ele indicou o cardápio eletrônico que ficava exposto na mesa. — Aqui dá para fazer o pedido também, não precisa chamar o atendente. Pelo jeito é sua primeira vez aqui.

— Você é um bom observador.

— Está sozinha?

— Não, com os meus amigos.

— Queria poder conversar mais com você, mas também estou com meus amigos. Parece que vamos ter que deixar para nos conhecermos melhor em outro momento, de novo.

Maya encarou o rapaz confusa, fazendo ele sorrir:

— De novo?

Um grito veio de um grupo. O rapaz pegou o drink que havia pedido, bebeu de uma vez, se aproximou de Maya e a beijou nos lábios:

— Pedi um para você também, vai ser entregue. Até mais, sereia.

Maya observou o homem se afastar com um sorriso no rosto e ser recebido pelo grupo de amigos, que comemorou a chegada dele. A Barman retornou com a bebida que ela havia pedido mais um coquetel idêntico ao que o rapaz estava tomando antes. Maya olhou para a atendente que tinha um sorriso:

— Pelo jeito, ganhou a noite. — A barman falou rindo.

— Menina, nem sei o que aconteceu aqui. — Maya riu constrangida. — Alguém anotou a placa?

A Barman gargalhou:

— Fica tranquila, ele sempre vem aqui com os amigos; caso tenha gostado e queira repetir.

— Não foi ruim. — Maya pegou as bebidas. — Quem sabe o encontro de novo?

— Boa sorte!

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