A manhã nasceu preguiçosa na Sicília, com o céu tingido de tons dourados e o aroma das oliveiras dançando no ar. Era uma daquelas manhãs em que tudo parecia querer durar mais. Como se até o tempo compreendesse que era o último dia de Domênico naquela casa, naquele lar, naquele chão que o viu crescer e sangrar.
Luciana estava na cozinha, mas não mexia em nada. A chaleira chiava no fogão, esquecida, enquanto ela olhava para a cadeira vazia à mesa, a que Domênico sempre usava. Seu coração de mãe, que já aprendera a se dividir entre as partidas dos filhos mais velhos, agora lutava contra a dor silenciosa de ver o último, o caçula, partir. E não para o outro lado do oceano, mas ainda assim longe o suficiente para deixá-la com um vazio do tamanho da ausência.
Ele apareceu à porta carregando duas malas e o coração apertado. Parou ali, em silêncio, observando a mãe. Ela o encarou e, por um instante, ambos pareceram voltar no tempo. Ao menino de olhos sonhadores que pedia colo quando o mundo era demais.
— Mama...
Luciana correu até ele e o abraçou com força, como se pudesse impedir o tempo de levá-lo.
— Meu filho... meu bebê. O último a sair debaixo da minha asa. Você tem certeza?
Domênico acariciou o rosto dela, os olhos já marejados.
— Mama, se eu pudesse, levaria essa casa comigo. Cada cheiro, cada canto... cada abraço seu. Mas tá na hora de ir. De me encontrar fora daqui.
Mateus entrou na sala nesse instante, parando ao lado da esposa, com o semblante firme, mas os olhos úmidos.
— Você está pronto, filho. Sempre esteve. Só precisava acreditar nisso. E agora é a hora.
Domênico sorriu, tocado pelas palavras do pai.
— Eu sempre fui um pedaço de vocês dois. O que eu sou hoje... o homem que estou tentando ser... é porque vocês me moldaram com amor. Com paciência. Com exemplo. Mesmo nos dias difíceis, vocês nunca deixaram de me amar.
Luciana limpou as lágrimas que começavam a escorrer.
— Amor de mãe nunca cansa, filho. Nunca falha. Eu só quero que você seja feliz. Que encontre em Paris um recomeço, uma esperança. Que tudo aquilo que um dia doeu em você, vire ponte. E não prisão.
— E se o mundo pesar, se a saudade bater forte — disse Mateus, colocando uma das mãos sobre o ombro do filho — volte pra casa. Você não está indo embora. Está levando a gente com você.
Domênico se afastou um pouco para olhar nos olhos deles.
— Obrigado por tudo. Por me acolherem quando eu me perdi. Por me ensinarem o valor da palavra, do respeito, da humildade. Por me fazerem homem... sem que eu deixasse de ser filho.
Luciana desabou num choro silencioso, e Mateus a amparou enquanto Domênico os abraçava mais uma vez. Era uma despedida que cortava, mas também curava. Porque era feita de amor.
Eles o acompanharam até o carro. A estrada que levava ao aeroporto parecia mais comprida naquela manhã, como se o caminho estivesse tentando adiar o inevitável.
Luciana segurou a mão dele pela última vez antes de ele entrar.
— Manda mensagem quando chegar. E não esquece de comer direito. E usa o cachecol que eu pus na mala, Paris é fria nessa época.
— Eu prometo, mama. Prometo tudo. E se eu errar, vou lembrar que posso voltar. Porque eu tenho onde recomeçar.
Mateus assentiu, e num gesto silencioso, entregou ao filho uma arma antiga mais potente .
— Foi do seu nono. Levou com ela ele ganhou várias batalhas. Agora é sua.
Domênico o segurou com força.
— Obrigado, papa.
O carro partiu devagar, e Domênico olhou pelo vidro de trás até os pais desaparecerem no horizonte da estrada. Ficou em silêncio, segurando o terço com uma mão e o coração com a outra.
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Paris, dois dias depois
A cerimônia de posse aconteceu em um prédio histórico de arquitetura neoclássica. Domênico, agora de terno escuro e gravata discreta, caminhava com a postura de alguém que carregava mais do que um cargo: ele carregava um legado.
Luciana e Mateus chegaram cedo, acompanhados de Amélia e René. O salão estava repleto de rostos importantes da sociedade francesa e aliados estratégicos da família Castellazzo.
Quando Domênico subiu ao palco, um silêncio reverente se formou. O rapaz que havia saído da Sicília cheio de dores agora se erguia diante deles como um homem inteiro.
— Há alguns dias, deixei minha casa na Sicília. Deixei meus pais, minha história, minhas lembranças. E vim para cá não em busca de poder, mas de sentido. Carrego comigo tudo o que aprendi com minha família: lealdade, firmeza e fé. Essa será minha bússola em Paris.
Luciana apertou a mão de Mateus com orgulho. Do outro lado, Amélia observava Domênico com ternura. Depois da cerimônia, ela se aproximou de Luciana com um sorriso cálido.
— Ele é forte. E sensível. Vai se sair bem aqui.
Luciana sorriu, ainda emocionada.
— Ele sempre foi o mais ligado à casa... O que mais sentia quando um irmão saía. Agora é ele.
— Luciana... — disse Amélia, tocando gentilmente seu braço — eu sei que não posso ocupar o seu lugar. E nem quero. Mas posso ser, para ele, uma extensão do seu cuidado. Fui a mãe de Luiggi quando você não pôde. Agora, quero ser a mãe francesa do seu filho.
Luciana deixou que as lágrimas caíssem, dessa vez sem tentar esconder.
— Obrigada... De verdade. Saber que ele tem vocês aqui me dá paz.
— O lar que construímos também será lar para ele, se ele precisar — completou Amélia, com doçura.
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Mais tarde, no terraço do prédio da nova sede, Domênico observava a cidade. A Torre Eiffel piscava ao longe, imponente e poética. Luciana se aproximou devagar e abraçou o filho por trás.
— Paris é linda. Mas eu ainda prefiro o cheiro do nosso café fresco e do pão quente da nossa mesa.
— Um dia, mama. Um dia eu trago tudo isso pra cá. Nem que seja no coração.
Mateus se juntou a eles, olhando o filho com orgulho.
— A Sicília te fez. Paris vai te moldar. Mas nunca deixe que te mude.
Domênico fechou os olhos por um instante, absorvendo aquela presença.
— Onde vocês estiverem... é onde está o meu lar.
Ali, com os olhos voltados para o futuro e o coração ainda cheio do passado, Domênico selava o começo de uma nova etapa. Paris era agora sua cidade. Mas a Sicília... sempre seria o seu porto.
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Atualizado até capítulo 47
Comments
Dulce Gama
Que capítulo lindo maravilhoso autora estou emocionada quase caia um.pitala de lágrimas 😭😂 está muito sentimentalista essa história que quase /Rose//Rose//Rose//Rose//Rose//Rose//Gift//Gift//Gift//Gift//Gift//Gift//Heart//Heart//Heart//Heart//Heart//Heart//Good//Good//Good//Good//Good//Good/
2025-05-09
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Marli Batista
Que capítulo maravilhoso parabéns autora ❤️😍♥️❤️♥️❤️♥️
2025-05-05
1
Di Rocha
perfeito 👏🏻👏🏻👏🏻
2025-05-05
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