sentimento são...

Capítulo 2 – Promessa de Coragem

Era sexta-feira e, como toda sexta do mês, teria apresentação na escola. As turmas pequenas encenavam pequenas peças, cantavam músicas e os pais vinham assistir. Pietra estava animada — ela adorava palco. Isabella, nem tanto. Tinha pavor de se apresentar, mas naquele mês as duas haviam sido escolhidas para cantar uma música juntas.

— E se eu errar a letra? — sussurrou Isabella, segurando a mão de Pietra com força, já nos bastidores.

— Eu te dou um apertãozinho com o dedo. Igual ensaiamos. Aí você lembra. Vai dar tudo certo.

Isabella confiava nela. Sempre confiava. Então respirou fundo e assentiu.

A professora fez sinal, e elas subiram ao palco. A música era simples, falava de amizade e de coragem. E, mesmo com a plateia cheia de pais e celulares gravando, Isabella cantou direitinho. No fim, Pietra puxou sua mão para o alto, como se dissessem juntas: “A gente venceu.”

Aplausos. Fotos. Risadas.

Mais tarde, no pátio, enquanto comiam bolo com as outras crianças, uma colega da turma se aproximou.

— Você e a Pietra cantaram bem. Mas ela canta melhor — disse, apontando para Isabella com um certo desdém.

Isabella ficou sem graça. Mas Pietra, sem pensar duas vezes, respondeu:

— A gente canta melhor juntas. Sozinha eu nem queria.

A menina deu de ombros e foi embora. Isabella mordeu o lábio, tímida.

— Você só falou isso pra me defender?

Pietra pensou por um segundo.

— Não. Falei porque é verdade.

Isabella ficou em silêncio. Depois olhou para a amiga com um brilho novo nos olhos.

— Se um dia eu ficar com medo de novo, você canta comigo?

— Sempre.

Isabella então estendeu o mindinho.

— Promete?

— Prometo.

Algumas semanas depois

A primavera chegou com cheiro de flor e terra molhada. E junto com ela, uma ideia maluca da mãe de Pietra: construir uma casa na árvore no quintal. Não era enorme, mas tinha um charme especial — uma escada de corda, um tapetinho colorido e uma janelinha por onde o vento entrava sem pedir licença. Era, acima de tudo, só delas.

— Aqui vai ser o nosso clube secreto — anunciou Pietra, puxando Isabella pela mão para dentro da casinha. — Só entra quem prometer nunca contar nossos segredos.

— E se a gente brigar?

Pietra fez uma careta.

— A gente não vai brigar. Mas… se brigar, a gente jura que vem aqui e faz as pazes.

Isabella sorriu, convencida. Estavam sentadas lado a lado, olhando pelas ripas da janelinha, quando Pietra perguntou, do nada:

— Você acha que vai se mudar um dia?

— Mudar de quê?

— De cidade. De casa. De mim.

Isabella franziu o cenho, sem entender direito. Depois respondeu, com a certeza simples que só as crianças têm:

— Não. Você é minha melhor amiga. Por que eu mudaria de você?

O silêncio caiu por alguns segundos. Um silêncio quente, confortável. Pietra sentiu um negócio estranho no peito — uma coisa boa, apertadinha.

Elas foram dar um beijo na bochecha uma da outra e erraram. Deram um selinho sem querer, rindo. As duas riram, e Isabella encostou o ombro no de Pietra, e ficaram ali por muito tempo, sem falar nada, apenas ouvindo os passarinhos e o mundo girando devagar.

Na escola, a amizade das duas já era conhecida. Sentavam juntas, jogavam amarelinha juntas, desenhavam corações e gatinhos no caderno uma da outra. Mas quanto mais cresciam, mais Pietra notava o olhar curioso das outras crianças.

— Você e a Isabella são namoradinhas?

Ela ouviu isso no recreio e não soube o que responder. Sentiu o rosto quente, não de raiva, mas de alguma coisa que ela não conseguia explicar. À noite, no banho, ficou pensando naquilo. Não gostava quando os meninos falavam com Isabella. E sentia falta dela até nos finais de semana. Será que era isso que chamavam de “gostar”?

No sábado seguinte, estavam deitadas dentro da casa da árvore, ouvindo música no celular antigo da mãe de Isabella.

— Você acredita em alma gêmea? — perguntou Pietra de repente.

Isabella rolou os olhos, rindo.

— Minha mãe fala isso quando assiste novela. Diz que é coisa de adulto bobo.

— E se for verdade?

— Você acha que a gente tem uma?

— Eu acho que... talvez seja você — disse Pietra, baixinho, olhando para o teto de madeira.

Isabella ficou quieta. Não respondeu. Apenas entrelaçou seus dedos nos de Pietra e ficou assim até o sol baixar.

Naquela noite, Pietra sonhou com Isabella. Estavam grandes, com vestidos longos, dançando em um lugar que ela não conhecia. Quando acordou, ficou olhando pro teto, sem entender direito o que aquele sonho queria dizer.

Mas uma certeza nascia, lenta e firme, dentro dela: se existia um lugar no mundo onde ela se sentia inteira, era ao lado de Isabella.

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