A Temida Ordo Arcanum

O sol nasceu tingindo os telhados de âmbar.

O cheiro de pão fresco e ovos fritos dominava a casa enquanto o restaurante da família Enari voltava à vida. A cozinha zumbia de calor, vapor e comandos curtos — como todos os dias.

Neko, com o avental amarrado no corpo magro e os cabelos bagunçados, picava cebola com olhos cansados e dedos ágeis. Parecia comum. Como sempre.

Mas por dentro, tudo nele gritava.

"Você despertou algo... você não é mais só isso."

E, mesmo assim... ali estava ele.

No mesmo lugar. No mesmo papel.

Servindo mesas, limpando chão, evitando as conversas com os clientes que perguntavam quando ele tentaria virar um Break como os irmãos.

Lá fora, Jorin treinava técnicas de cristalização no quintal lateral.

Nayel testava suas manipulações de vento girando facas no ar.

Lysa fazia cubos de água dançarem entre os dedos enquanto levava sucos às mesas.

Neko?

Ninguém olhava duas vezes para ele.

Até que algo inesperado aconteceu.

Era perto do meio-dia. O mercado estava movimentado, como sempre. Neko havia saído para buscar mais tempero de raiz-verde.

Foi quando o alarme soou.

— RAID NÍVEL E DETECTADA! MONSTRO ESCAPANDO DE CONTENÇÃO!

— TODOS AFASTEM-SE!

Um pequeno monstro, parecido com um rato de três metros coberto por espinhos de cristal, havia rompido uma cápsula mágica de transporte. Ele se debatia pela rua, derrubando bancas, rosnando como um demônio esfomeado.

As pessoas corriam, gritavam. Algumas tentavam ativar escudos.

E Neko... congelou.

Suas mãos tremiam. O coração acelerou. O sangue fervia.

Uma luz quase se acendeu em sua retina.

"Se eu quisesse... eu poderia tentar."

Por um instante, o chão ao redor dele brilhou — um traço dourado no ar.

Mas ele recuou.

Tarde demais.

Dois aprendizes Breaks dominaram a criatura em segundos.

Ninguém notou Neko.

Exceto um velho encapuzado, do outro lado da rua.

Observando.

À noite, após o jantar em família, Neko lavava pratos com a cabeça cheia.

Foi quando os pais o chamaram à sala.

O pai, Micael , ex-Break aposentado. A mãe, Keelya, conhecida pelos encantos curativos no passado.

Micael — Neko... queremos conversar — disse o pai, cruzando os braços.

Neko — Sobre...?

Micael — Você vai se inscrever na Ordo Arcanum.

O prato escorregou da mão de Neko e caiu na pia com um estrondo.

Neko — O quê?

A mãe respirou fundo.

Keelya — A maior Academia Mágica do continente. Todos os anos, 1500 jovens se candidatam. Apenas 100 passam.

E só 10 se formam como verdadeiros Breaks.

Neko — Mas... eu... eu nem tenho poder!

Micael — Por isso mesmo. — Micael se aproximou. — A direção da escola abriu, este ano, uma única vaga especial: para alguém sem dons. Um experimento.

E você vai tentar.

Neko — Eu? Por quê?

Micael — Porque você é nosso filho. E ninguém foge do próprio destino.

Neko queria gritar. Dizer não.

Mas algo dentro dele... sorria.

Algo novo. Algo que queria mais.

[ NOVA MISSÃO ATIVADA: Ingresso na Ordo Arcanum ]

[ Status: Em Preparação.]

No outro dia

O sol mal havia se espreguiçado sobre o vilarejo, e Neko já estava pronto para partir. Uma mochila simples nas costas, o coração um caos, e o olhar tentando fingir tranquilidade. Era o início de uma nova fase, um salto no escuro.

Na porta da casa, seus irmãos o aguardavam.

Lysa foi a primeira a correr até ele.

Lysa — Irmão… boa sorte. — disse ela com um sorriso doce, o mesmo de sempre.

Neko a abraçou forte, com um aperto protetor. Mas...

Em um piscar de olhos, algo mudou.

O rosto dela, por um milésimo de segundo, tremeu. Os olhos viraram escuros, as feições se distorceram — a versão macabra da Lysa que o atacara no mundo invertido.

Seus olhos arregalaram. O ar lhe faltou por um segundo.

Mas...

No instante seguinte, era apenas Lysa de novo.

Normal. Doce. Assustada com o olhar de Neko.

Lysa — Neko...? O que foi?

Neko — N-Nada... desculpa. — Ele forçou um sorriso e soltou o abraço.

Jorin veio em seguida, todo orgulhoso.

Jorin — Vai lá e mostra que você também pode ser alguém! Mesmo sem poder... ou sei lá, com um poder oculto tipo nos livros. — Ele ria, com sua energia vibrante.

Nayel, o mais novo, estendeu a mão, sério.

Nayel — Vai. Mas volta. Ou eu vou te buscar.

Aquela frase carregava mais peso do que ele poderia imaginar.

Neko se ajoelhou, bagunçou o cabelo dos dois e ficou de pé novamente.

Neko — Eu volto. De um jeito ou de outro... eu volto.

Enquanto caminhava pela estrada de terra que levava à estação de teleportes intermunicipais, ele olhou para trás.

A casa ainda estava ali.

A fumaça da chaminé subindo.

O cheiro do café e pão assando ainda presente na memória.

Mas o peito doía.

"Aquela Lysa... foi só minha mente? Ou ainda tem algo dentro de mim preso naquele mundo branco?"

[ SISTEMA: ATENÇÃO ]

[Flutuação emocional detectada. Traços residuais de distorção permanecem ativos.]

[HABILIDADE: RESILIÊNCIA ANÔMALA – ESTABILIZANDO MEMÓRIA TRAUMÁTICA...]

[...Estabilização 72% concluída.]

Neko respirou fundo. Seguiu.

Ele estava indo para a Ordo Arcanum.

A maior escola mágica do continente.

A fortaleza do impossível.

Onde 1500 candidatos lutavam por 100 vagas.

E onde, em média, apenas 10 sobreviviam ao currículo brutal e se tornavam verdadeiros Breaks.

E ele seria o primeiro sem magia a tentar.

Depois de uma longa caminhada ele entrava no trem, alguns minutos se passam e o trem saia.

O trem balançava levemente, quase imperceptível, enquanto cortava os vales com a velocidade de uma estrela cadente. Não era um trem comum — era um DracoExpresso, um modelo mágico híbrido que combinava tecnologia rúnica e propulsão elemental. Seu corpo serpenteava pelos trilhos encantados como se voasse rente ao solo.

Dentro, as poltronas de couro negro e os vidros panorâmicos mostravam um mundo que Neko nunca vira de verdade.

Ele estava sentado sozinho na janela, encostado no canto com a cabeça apoiada na mão, enquanto as imagens do exterior passavam em velocidade surreal. Sua cidade natal, pequena e amarelada, havia sumido há horas.

Agora, o mundo parecia maior.

Lá fora, pradarias encantadas se estendiam até onde os olhos alcançavam. Árvores com copas prateadas se curvavam ao vento. Criaturas mágicas pastavam como cavalos — mas com chifres, escamas e asas translúcidas.

Em um dos céus distantes, um Leviatã Nubial voava com preguiça, envolto por nuvens. Era um animal raro, um símbolo de sorte. Todos no vagão comentavam.

Menos Neko.

Ele apenas observava em silêncio.

“Nunca pensei que o mundo fosse tão bonito fora da cidade…”

Cidades flutuantes apareciam no horizonte, conectadas por pontes mágicas que piscavam como constelações. Torres de guildas, castelos ancestrais, montanhas com veios de luz pura — tudo parecia saído de um sonho.

Mas tudo isso... era real.

Na cabine, outros candidatos cochichavam e riam. Alguns treinavam pequenas magias com pedras rúnicas. Havia nervosismo, claro. Mas também empolgação.

Neko não se sentia parte daquilo.

Ainda era o estranho no meio da festa.

“Eles vão descobrir. Vão saber que eu não deveria estar ali.”

Mas então...

[ SISTEMA  ATIVO ]

[Observação Ambiental: Em progresso.]

[Status Mental: Estável]

[Habilidade Passiva: Resiliência Anômala - Amortecendo Flutuações Emocionais.]

Ele inspirou fundo. Olhou de novo para fora.

Horas depois, o trem entrou em uma floresta densa, onde o céu era oculto pelas folhas. As runas ao redor da locomotiva começaram a brilhar. Neko ouviu vozes murmurando, como se o próprio ambiente estivesse julgando quem passava por ali.

E então, uma voz no sistema mágico anunciou:

— Atenção, candidatos. Em cinco minutos, chegaremos à plataforma de acesso da Ordo Arcanum. Por favor, permaneçam em seus lugares.

Um frio percorreu sua espinha.

Quando o trem desacelerou e saiu da floresta, o mundo se abriu mais uma vez.

E Neko viu.

No topo de uma cadeia de montanhas gigantes, cercada por um anel flutuante de energia viva, estava a Ordo Arcanum.

Uma fortaleza colossal, feita de cristal negro e pedra encantada. Torres tão altas que desapareciam nas nuvens. Escadarias vivas. Brasões que se mexiam. E no centro, uma chama azul eterna queimando no alto da torre principal — símbolo da prova final.

Era mais do que uma escola.

Era um trono forjado para desafiar os próprios limites da alma.

Enquanto o trem parava na plataforma mágica e os candidatos desciam com olhares cheios de brilho, Neko foi o último a sair.

Ele desceu devagar. Pisou no chão sagrado da escola.

E sentiu uma vibração subir por sua coluna.

[ SISTEMA: ÁREA ENCONTRADA – ZONA DE DESAFIO ABSOLUTO ]

[AVISO: Este território é hostil para sistemas incompletos ou instáveis.]

[Estado atual: Aceito sob cláusula especial. Monitoramento iniciado.]

Ele olhou para o céu, onde os dragões patrulhavam como sentinelas vivos.

E pela primeira vez em muito tempo… ele sorriu.

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Comments

Felix

Felix

Não aguento mais esperar, por favor atualize!

2025-04-25

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