05

Taviano não recuou, mas Paul também não. Eles tinham quase a mesma altura, embora Paul fosse mais esguio. Seus grandes olhos azuis tinham manchas verdes e douradas ao redor da íris. Tão perto, sua essência inebriante fez a boca de Taviano salivar.

A resposta o deixou imensamente perplexo. Não era fome pelo sangue de Paul; isso estava claro pela apatia do seu demônio. Então, o que Taviano queria fazer com aquele cheiro maravilhoso?

Passo os dedos pelos cabelos de Paul para ver se é de lá que vem. Ouço o som que os fios sedosos fazem ao caírem em uma bagunça gloriosa.

Ah, não, isso era ridículo. Ele não tocava em um homem por nenhum motivo além de se alimentar havia décadas. Estava simplesmente cativado pela novidade de conversar com um jovem simpático na véspera de Natal. Acabaria com uma hora perdida para Paul e uma lembrança agradável para si mesmo. Abriu a boca para anunciar que era hora de esquecer tudo, mas o que saiu foi: "Seus olhos são lindos".

Paul piscou e um rubor subiu por suas bochechas enquanto ele sorria timidamente. "Hum, obrigado." Ele olhou novamente para o ombro, imaculado sob os vestígios de sangue seco, e ofegou: "Cara! Que porra é essa?" Taviano abriu a boca para responder, mas Paul gesticulou freneticamente. "Não, espera, não me diga. É esse o acordo, certo? Não pergunte, não mate."

"E se eu prometer que você vai esquecer tudo isso logo, para que eu não tenha problema em explicar?" A frase saiu antes que Taviano pensasse em se censurar. Antes daquela noite, ele nem sequer havia reconhecido o quanto sentia falta de simplesmente conversar com alguém. A tentação de revelar o que estava fazendo o assustou profundamente. Internamente, ele repetiu as palavras grosseiras de Paul. Que porra é essa que eu estou fazendo?

Parecendo alheio ao pânico de Taviano, Paul perguntou: "Foi isso que você disse para o babaca? Achei que ouvi você dizendo para ele esquecer, mas não ouvi tudo."

"Sim. Os três terão pesadelos, mas nenhuma lembrança." Ele temeu que isso assustasse Paul, então se apressou em acrescentar: "Nada de pesadelos para você, eu prometo. Nenhuma lembrança." Ele acrescentou um sorriso para tranquilizá-lo, grande o suficiente para soar estranho em seu rosto.

"Ah." O olhar brilhante se apagou um pouco. "Posso ser sincero? Estou um pouco chateado com isso."

Taviano franziu a testa. "Sério? Eu pensei que você ia querer deixar tudo isso para trás o mais rápido possível."

"Não me entenda mal. Estou morrendo de medo. Mas nunca estive perto de um ninja antes e isso está me deixando louco."

“Um ninja?”

“Bom, as roupas pretas. O jeito incrível como você se move. Você é todo musculoso e tudo mais. Eu só pensei…”

Desta vez, o sorriso largo de Taviano soou totalmente natural. "Você conseguiu, Paul. Sou um ninja em uma missão especial para a CIA."

"Sério? Um ninja italiano. Como isso funciona?", perguntou Paul, animado. "Você foi, tipo, sequestrado para o Japão quando criança e criado em um templo secreto?"

Taviano jogou a cabeça para trás e riu. Fazia sessenta e sete anos e nove meses que não ria daquele jeito. "Ah, Paul. Você é encantador. Sim, fui levado ainda bebê para um mosteiro no topo do Monte Fuji. Tive que lutar pelo respeito dos monges."

"Ah, você estragou tudo, cara." Paul parecia abatido e seus olhos expressivos se moviam ao redor enquanto seu rosto ficava vermelho. "Agora dá para ver que você está tirando sarro de mim."

Ah, isso não seria aceitável. Taviano não tinha a intenção de magoá-lo ou fazê-lo se sentir mal. Maldita seja sua inépcia. Suavemente, ele disse: "Não estou zombando de você. Estou brincando com você. Há uma diferença."

Paul ainda não olhava para ele, então Taviano, audaciosa e inesperadamente, estendeu a mão para acariciar sua bochecha. A barba por fazer arranhou-lhe o rosto quando ele enrolou o dedo sob o queixo de Paul e puxou até que seus olhos se encontrassem. "Sério, 'cara'", disse ele, esforçando-se para falar na linguagem moderna de Paul. "Eu acho você, uh, incrível."

Paul sorriu incerto enquanto avaliava se Taviano estava falando sério. O que viu deve tê-lo convencido, pois seu rosto se iluminou novamente. Ele balançou a cabeça alegremente. "Tá bom, tá bom. Estamos bem."

Estar tão perto e tocá-lo trouxe à tona prazeres há muito esquecidos da vida humana de Taviano. Um simples abraço. Um beijo. Como Paul se sentiria, envolto em seus braços? Estaria aquecido? Sua mão de bronze, ainda no queixo de Paul, tremia levemente. Seus olhos se encontraram e os lábios de Paul se afrouxaram. Ele inclinou a cabeça para a frente, um instante. Um convite, e tudo o que Taviano precisava fazer era se inclinar...

Uma sirene rugiu na Rua Hanover, rompendo o silêncio. Balançando a cabeça, Taviano abaixou a mão e deu um passo para trás. Ele buscou qualquer assunto que pudesse encobrir seu quase erro, mas que mantivesse a conversa fluindo. Com uma voz trêmula aos seus próprios ouvidos, ele desabafou: "Conte-me sobre os presentes."

"Ah! Certo." Paul tentou ajeitar as calças discretamente. Não conseguiu. Viu que tinha falhado e corou, depois gaguejou: "É, então tem um abrigo para crianças LGBTQ+ a alguns quarteirões daqui. Sou voluntário lá há alguns meses. A maioria deles são adolescentes incríveis que tiveram uma péssima experiência. Estão nas listas de todos aqueles programas de presentes de Natal, sabe? Mas, por algum motivo, as crianças queer não foram escolhidas quando Joe e Brenda Suburb fizeram aquela coisa de se sentirem culpados."

Taviano tentou reproduzir os trechos de palestras e programas que ouvira ao longo dos anos. Franziu a testa. "Acho que entendi cada palavra."

Paul revirou os olhos. "Acho que o monastério ninja não tinha TV. Enfim, esses moleques iam ser enganados na manhã de Natal, tipo, pelo maior babaca sem lubrificante."

“Isso é… dolorosamente descritivo”, Taviano riu.

"Tanto faz. Puritano", murmurou Paul com um sorriso enquanto tentava juntar suas sacolas de presentes. Diante da dificuldade, Taviano se aproximou e pegou as três maiores sacolas sem esforço, enquanto Paul içou a última. Começou a caminhar de volta na direção de onde viera e, após uma pausa, Taviano o seguiu pela rua. Só mais um pouquinho...

"De qualquer forma", continuou Paul, "criei um fundo no restaurante onde trabalho. Coloquei placas no balcão e coloquei potes. Fiz de tudo para cada filho da puta que entrava pela porta até conseguir pelo menos um dólar deles. Depois, comecei a vasculhar a lista de moradores do abrigo. Não consegui tudo o que eles queriam — até crianças em situação de rua podem ser gananciosas, sabe? —, mas garanti que cada criança tivesse pelo menos um presente legal para abrir na manhã de Natal."

"Isso é notável", disse Taviano, admirado. Dado o estado de suas roupas, parecia provável que Paul possuísse pouca coisa. Apesar disso, ele tinha a generosidade de se preocupar com crianças com ainda menos. Décadas tirando sangue dos espécimes mais sombrios da humanidade haviam obscurecido as percepções de Taviano. Ele quase se esquecera de que também havia pessoas boas no mundo. Pessoas como Paul.

“Demorou muito para reunir os fundos?”

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