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Capítulo 3
A campainha soou como um estrondo, seco e cortante. Luna congelou. O som ecoou dentro do apartamento como um trovão que anuncia a chegada de algo inevitável. Ela sabia quem era. Sentia no corpo, na pele, no sangue. Era ela.
Dante se virou lentamente, os olhos sombrios pousando sobre o dela.
— Fique atrás de mim — disse, com a voz baixa, mas afiada como navalha. — E não diga nada se não quiser. Eu cuido disso.
Luna sentiu o coração bater no pescoço. Estava tonta. Como se uma sombra do passado tivesse entrado pela porta antes mesmo que ela fosse aberta. Como se a infância inteira voltasse a gritar dentro dela.
Dante caminhou até a porta e, por um breve instante, hesitou. Então girou a maçaneta.
O corredor parecia mais escuro do que deveria. E no meio dele, como um presságio de tragédia, estava a mulher que atormentava os pesadelos de Luna. Elegante demais para uma mãe carinhosa. Fria demais para qualquer afeto. O batom vermelho contrastava com a expressão dura e os olhos faiscantes. A raiva exalava de cada gesto contido.
— Onde está a porra da minha filha? — rosnou, sem cerimônia.
— Aqui dentro. E bem longe da sua loucura — respondeu Dante, o tom calmo, mas perigoso.
— Vai sair da minha frente ou eu mesma arrombo essa porta! — ela ameaçou, avançando um passo.
— Só passa se eu deixar.
Ela empurrou. Dante não se mexeu. Era como uma muralha entre os dois mundos. E então, por trás dele, Luna deu um passo à frente. O rosto pálido, os olhos marejados, o corpo inteiro tremendo.
— Mãe...
A mulher arregalou os olhos.
— Sua desgraçada! Como você tem coragem?! Desaparece por uma noite inteira, não atende, não responde, e agora aparece nesse muquifo com esse marginal? — apontou para Dante, com nojo.
Luna recuou um passo, mas Dante segurou sua mão discretamente.
— Eu só queria um pouco de paz — ela sussurrou.
— Paz? Você sempre foi uma ingrata! Eu te alimentei, te vesti, cuidei de você sozinha, e é assim que me paga? Se esfregando com o primeiro homem que te dá atenção?
— Eu... eu não sou uma criança. Eu só...
A mãe dela avançou de repente, com a mão erguida.
— Cala essa boca! Não fale comigo como se fosse adulta, sua imprestável! Sempre me deu trabalho! Desde bebê, você era um fardo!
Dante agarrou o braço da mulher antes que a mão a atingisse.
— Encosta nela de novo e eu juro que te faço se arrepender de ter nascido — disse ele, em tom baixo, mas com tanta fúria contida que o silêncio caiu como chumbo.
— Me solta, seu delinquente! — ela se debateu, mas ele a empurrou com força contra a parede, sem machucar, mas deixando claro que ela não mandava ali.
— Vai embora — disse. — Agora.
Mas a mulher não recuou. Olhou diretamente para Luna e começou a cuspir veneno.
— Você é uma vergonha! Vive se fazendo de vítima, chorando pelos cantos, se cortando pra chamar atenção! Você acha que alguém vai querer uma coisa quebrada como você? Só esse tipo de lixo aí! — apontou de novo para Dante. — Ele vai usar você e jogar fora como todo mundo.
Luna sentiu os joelhos cederem. Mas Dante a segurou, firme.
— Continue — ele disse à mulher, os olhos brilhando de raiva — e eu faço questão de que cada palavra sua seja cuspida com sangue da próxima vez.
— Vai me bater, bandido? Vai resolver tudo como os canalhas que se envolvem com drogadas como essa?
Foi aí que Luna explodiu.
— EU NÃO SOU DROGADA! — gritou, com a voz rasgada. — Eu só queria respirar, mãe. Uma noite. Uma noite sem você! Sem você me chamando de lixo, de peso morto, de fracasso. Sem você me dizendo que teria sido melhor se eu nem tivesse nascido!
O silêncio foi imediato. A mãe apenas a encarou, o rosto duro como pedra.
— E teria sido — ela disse, fria. — Você destruiu minha vida. Sempre destruiu. Desde o dia em que nasceu.
Luna cambaleou para trás, e Dante a puxou contra o peito.
— Você está morta pra mim — sussurrou ela, com a voz quebrada.
Mas a mulher não parou.
— Você quer se jogar nos braços de um vagabundo? Vai! Quando ele te largar — e vai largar — não volte chorando. Porque nem minha filha eu te considero mais.
— Ótimo — Dante respondeu, com a fúria fria de quem está pronto para matar. — Porque ela nunca foi sua.
E então, finalmente, a mulher saiu. Sem dizer mais nada. Bateu a porta com tanta força que o som pareceu um disparo. Luna desabou no chão. Chorava em silêncio, os ombros tremendo, o corpo pequeno em ruínas.
Dante se ajoelhou ao lado dela e a envolveu com os braços.
— Eu tô aqui. Eu não vou sair.
Ela apertou os punhos contra o peito dele, como se tentasse segurar os próprios pedaços.
— Ela me odeia. Sempre me odiou. Desde criança. Me culpava por tudo. Até quando ele... quando aquele homem me machucava. Ela fingia que não via. Eu dizia que ele entrava no meu quarto... e ela dizia que eu provocava.
Dante fechou os olhos, controlando a raiva que queimava por dentro.
— Você nunca mais vai passar por isso. Nunca mais.
— Eu não sei como ser amada, Dante — confessou ela, com a voz falha. — Eu só sei fugir.
Ele levantou o rosto dela com delicadeza e a encarou.
— Então vamos reaprender. Juntos. Você não tá mais sozinha.
Luna o abraçou com força, desesperada. E ali, no chão daquele apartamento sombrio, entre lágrimas e dor, nasceu algo novo: não amor ainda, mas algo talvez mais precioso — confiança.
Ou o começo dela.
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Atualizado até capítulo 25
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