Capítulo 4

Clara

Dizem que a bebida nos faz esquecer os problemas, e olha eu aqui virando um copo atrás do outro, nesse casamento. — Até a minha sobrinha, com apenas 18 anos, está casada com filhos e eu? Sou uma fracassada, é isso que eu sou — desabafo com o garçom! Virando mais um copo. — E ainda por cima, depois de anos sem conseguir transar, agora um bonitão estava comigo no escurinho, e o que eu fiz? Espantei ele, porque eu sou definitivamente uma fracassada, que nunca vai recomeçar porque não consegue esquecer o que eu passei! — choro no balcão do bar do casamento, de cabeça baixa. — Já chega! — essa é a Nina, que tira o copo de bebida das minhas mãos. — Não, eu consigo beber mais! — retruco, enquanto ela tira os cabelos da minha cara, que estão grudados nas lágrimas que escorrem. — Nada disso! Minha irmã, eu vi o traste acompanhado; a Charlotte disse que não convidou ele. — Ele disse que casou com aquela gostosa, Nina, e que eles estão grávidos, enquanto eu! Nem consigo transar com um cara no escurinho. Estou com 35 anos e solitária. — Não diz isso, Clara; vem, vamos para dentro de casa, já chega dessa festa para você. — Ela me ajuda a levantar, pois eu estou de quatro pés. — Você é a pessoa mais alegre que eu conheço, a tia Clara mais legal que existe. — tenta a Nina me animar. — Não, eu não sou nada disso, Nina. Eu minto sobre tudo, e é sobre tudo mesmo. Eu não superei o meu passado! Eu não superei a morte da nossa mãe, e nem a do meu bebê. Eu vivo naquele apartamento com um gato, sozinha, comendo comida congelada. E outra, eu não transei desde os meus 19 anos! Porque eu olho para os homens e vejo a imagem da minha humilhação causada pelo traste. Eu não sou alegre, Nina! — choro, e logo vômito, e a Nina segura meu cabelo. — Coloca tudo para fora, vai! — Eu queria uma vida como a sua, com um marido bom, filhos, netos, até uma sogra boa! Mas eu sei que nunca vou ter isso. Me desculpa por ter inveja de você! — digo à Nina, que me dá aquele olhar dela de ternura. — Você só não sabe ainda, Clara, mas um dia você vai ter tudo isso e muito mais. Porque você! E outra, você é uma mulher linda, a baixinha mais gente boa que alguém pode conhecer. E esse seu lado engraçado de falar besteiras vai sim conquistar alguém que vai lutar para ter você! Porque você merece alguém que lute por você. Agora vamos tomar um banho e dormir; amanhã eu te falo isso tudo de novo, caso você não lembre.

(...)

E eu acordo com uma dor de cabeça tremenda. — Jesus, apaga a luz e tira essa ressaca de mim. — digo, tentando me equilibrar de pé, pois nunca mais eu bebo como ontem!

Hoje é um domingo fantástico, depois do casamento da Charlotte, que foi para a lua de mel. A família se prepara para voltar à realidade. Depois de tomar um banho, me arrumo, desço e estão todos na mesa do café, de óculos escuros, com caras de mortos. Jesus, acende a luz desse povo! — Bom dia, família! — todos me respondem, mas a Nina nem me deixa sentar direito e me dá uma xícara cheia de café, me puxando para longe de toda a família. — Agora que está sóbria, vai me dizer o que realmente está acontecendo! — fala ela, bem séria, e eu sei que já chega de me esconder; está na hora da Nina saber que a minha vida é deprimente, que eu preciso de remédio para dormir, que eu falo com um gato sobre meus problemas, e que a única alegria que eu tenho é quando estou dando aula para as crianças. — Por que não me disse isso antes, Clara! — fala ela, decepcionada comigo. — Na verdade, nem eu sei, Nina; eu só não queria que você me olhasse com essa cara de pena. Mais está tudo bem, eu prometo que vou procurar ajuda. Eu quero me apaixonar novamente, mas enquanto eu não conseguir me curar do trauma, isso nunca vai acontecer. — Ela segura minhas mãos. — A mamãe não está mais aqui, só que eu estou. Então nunca mais esconda seus problemas, e outra, viva, minha irmã, porque a vida é bela. Você já está dando o primeiro passo, que é reconhecendo que precisa de ajuda. — Nós abraçamos, e a Nina tem razão!

Por isso cheguei em casa depois de uma boa viagem de barco de volta à realidade, e preciso procurar ajuda. Pesquiso sobre os melhores psicólogos da Flórida e marco uma consulta. Eu preciso me libertar do traste, e quanto antes, melhor! — Pronto, Filó, a mamãe já marcou uma consulta. Agora vou para a escola ser uma boa professora para aquelas crianças. E hoje é dia de pais na escola; eu amo esse dia, pois as famílias são importantes no aprendizado das crianças... — digo à Filó, que está toda folgada no meu sofá... — Miau! — diz Filó, me desejando boa sorte!

(...)

E aqui estou eu ouvindo cada pai compartilhar sua profissão, mas na verdade eu estou perdida no mundo da lua, só observando o tal riquinho da chupada no escuro das árvores. Pois é, ele está aqui, é irmão dos meus alunos, os trigêmeos que me dão mais trabalho, pois eles chegam aqui e me dizem cada coisa sobre o irmão. E olha só, o irmão deles é o rei da chupada! Jesus, apaga a luz e minha vergonha junto, porque o homem também não para de me encarar. — Ótimo, agora é a vez do último, o senhor Fagundes, que é o responsável pelos alunos: João, Katarina e Vigário. — digo, e ele se levanta e vem à frente, e apesar do que os meninos dizem do irmão, eles estão com os olhinhos brilhando, ouvindo o irmão falar.

— Então, ser um CEO é muito importante. Sem mim, a empresa não funcionaria, pois eu que organizo cada projeto! Eu que digo o que é bom ou ruim, eu que tenho que estar nas reuniões chatas. Eu que tenho que brigar para conseguir recursos para a empresa. Mas, além de tudo, é bom ser um CEO. — diz ele... — Ótimo, obrigado, senhor Fagundes, por compartilhar a sua profissão. Quem quer fazer uma pergunta ao senhor Fagundes? — pergunto, e um dos meus alunos levanta a mão, o Tiago. — Ótimo, Tiago, o que você quer perguntar? — É verdade que o CEO sempre fica bêbado e sai com loiras peitudas! — não sei onde enfiar a minha cara! E todos os pais ficam sem graça, mas a mãe do Tiago fica ainda mais. — Não sei de onde você tirou isso, menino, mas por um lado é verdade, sempre eu bebo e saio com umas gostosas. — Eu tomo a frente, pois que cara sem noção! São crianças. — Ótimo, pais, acabamos por hoje e até a próxima. — digo a todos, que começam a se retirar, mas o Tiago fica de pé, revoltado. — Não briga comigo, mamãe, pois foi o papai que disse que ele bebe e sai com as loiras peitudas! — O menino fez todos sentir um ar de espanto, e a senhora Oliveira saiu arrasada e sem graça. — Desculpa, mas são só crianças! — vou me desculpando com os pais, que saem, e eu quero pegar o rei da chupada, pois sempre mando recado para ele desde que a babá, a senhora Leonor, morreu, e ele nunca veio conversar, mas hoje ele não escapa! Procuro ele entre os pais até que vejo ele indo à frente. E a raiva que me dá ser baixinha, pois não posso deixar ele escapar, vai ser melhor gritar! — Rei da chupada, pode parar aí que eu preciso falar contigo! — Ufa, até que enfim ele ouviu, mas eu olho em volta e não foi só ele, e sim todos os pais que estão nesse pátio e até a diretora, que Jesus apaga a luz e me tira de fininho, porque eu disse o rei da chupada?

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Comments

Amanda

Amanda

Clara kkkkkkkk eu não posso rir que dói mas é impossível não rir, essa foi demais

2025-04-11

2

Flavia Oliveira

Flavia Oliveira

KKKKKK mulher sério isso, tú tá na escola e chama ele de rei da chupada KKKKKK jesus apaga a luz

2025-04-11

2

Marlene Almeida

Marlene Almeida

kkkkkkkkkk rei da chupada/Sob//Sob//Sob//Sob//Sob//Sob//Sob//Sob/

2025-04-10

3

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