O Desafio do Primeiro Passo

A manhã seguinte foi mais um teste para Luana. Embora ela já estivesse começando a entender as dificuldades que Caio enfrentava, a realidade era implacável. A casa, embora imensa e luxuosa, não escondia a atmosfera de tristeza que pairava no ar. A mansão não era mais apenas um lugar de conforto, mas uma prisão dourada, onde Caio se via limitado por seus próprios pensamentos e pela paralisia que o impedia de fazer o que mais amava: controlar sua própria vida.

Luana entrou no quarto, onde ele já estava esperando, como sempre, em silêncio. A frieza com que ele a encarava ainda a incomodava, mas ela sabia que precisava ser paciente. Ele ainda estava muito preso ao luto por sua antiga vida e se recusava a aceitar a ajuda de qualquer pessoa. Ela queria, acima de tudo, que ele entendesse que a dor que sentia não seria removida, mas poderia ser suavizada com o tempo.

“Hoje é o dia, Caio”, disse Luana, sorrindo suavemente enquanto se aproximava dele, segurando um tablet em mãos. “Eu encontrei uma terapia nova, que pode ajudar a relaxar seus músculos. É uma técnica que estimula os nervos. Quem sabe…”

Ele a interrompeu antes que pudesse terminar. “Terapias. Mais uma, não é? Você realmente acha que essas besteiras vão me curar? Nada vai me devolver o que eu perdi. E você... você está apenas aqui para me fazer sentir que há algo para se salvar, mas no fundo, sabemos que não há.”

Luana sentiu uma pontada de frustração. Ela não sabia como alcançar Caio, como penetrar aquela muralha de raiva e desespero. Ele estava certo sobre uma coisa: nada, nem terapia nem palavras, poderia devolver a ele a vida que ele tinha antes. Mas ela acreditava que havia algo que poderia fazer por ele, mesmo que não fosse uma cura.

“Eu não estou tentando te curar, Caio. Eu só estou tentando fazer com que você sinta que, ao menos, vale a pena tentar um pouco mais a cada dia”, ela respondeu com serenidade, mais do que uma tentativa de convencê-lo, era um compromisso que ela estava fazendo com ela mesma.

Ele a encarou com um olhar vazio, quase como se fosse capaz de ver além das palavras. “E você realmente acredita nisso?”

Luana não sabia o que responder, mas a determinação no seu coração era mais forte do que qualquer dúvida. Ela sabia que, no fundo, ele precisava mais de alguém que o ouvisse do que de um terapeuta ou uma cura milagrosa. Ele precisava de uma chance de acreditar novamente que sua vida tinha algum valor.

O Primeiro Ato de Confiança

Os dias passaram e, lentamente, Luana começou a perceber pequenas mudanças na maneira como Caio interagia com ela. Não eram grandes avanços, mas eram passos, e para alguém tão fechado e em dor, isso já era uma vitória. A resistência dele ainda estava presente, mas não era mais tão forte quanto antes. Ele começava a falar um pouco mais, talvez por necessidade de companhia, ou talvez por sentir que, de alguma forma, Luana era a única pessoa disposta a enfrentar a sua amargura sem julgá-lo.

Em uma tarde quente de sexta-feira, Luana se aproximou de Caio com a ideia de tentar algo novo. “Hoje vamos fazer algo diferente. Vou te levar para o jardim. O sol lá fora está perfeito, e você precisa de ar fresco. Eu sei que é difícil, mas vamos tentar um passo de cada vez.”

Caio a olhou, visivelmente relutante. "Você realmente acha que me tirar dessa cama vai mudar alguma coisa?"

“Não muda nada se você não tentar”, Luana respondeu, com um sorriso tranquilo. “Mas pode ser o começo de algo. O que custa tentar?”

Ele não respondeu imediatamente. Na verdade, parecia que ele estava ponderando se valia a pena se esforçar para algo tão simples. Porém, depois de um longo silêncio, ele falou. “Eu não sei se posso, Luana. E se não for o que eu espero? E se... eu me sentir pior?”

Luana se agachou ao lado dele, de modo que seus olhares se encontrassem diretamente. “Eu não posso garantir que isso será fácil, Caio. Nem posso prometer que você vai se sentir melhor imediatamente. Mas o que eu posso prometer é que, se você não tentar, nada vai mudar. Às vezes, é preciso dar o primeiro passo, mesmo sem saber aonde ele vai nos levar.”

Caio suspirou, mas, surpreendentemente, aceitou. Ele deu seu primeiro passo fora da cama, com a ajuda de Luana, que o orientou com cuidado. O jardim era grande e acolhedor, com flores vibrantes que pareciam dançar com a brisa suave. A sensação de liberdade que ele sentiu foi breve, mas significativa. Ali, em meio à imensidão do espaço, ele experimentou algo que não sentia há meses: um leve alívio. Não era uma cura, mas era um sinal de que talvez houvesse algo mais a explorar além do sofrimento.

Enquanto o empurrava lentamente pela cadeira de rodas, Luana olhou para ele, sorrindo com ternura. “Viu? Não foi tão difícil assim, foi?”

Ele a olhou de volta, com um sorriso tímido nos lábios. “Talvez você tenha razão... Mas não espere que eu vá me tornar um otimista de uma hora para outra.”

Luana riu suavemente. “Eu não espero nada, Caio. Só espero que você saiba que, qualquer que seja o seu caminho, eu estarei aqui para caminhar com você.”

Nesse momento, algo nas palavras dela alcançou o fundo de seu coração. Ele não sabia ainda como lidar com os sentimentos que estavam surgindo, mas, pela primeira vez em muito tempo, ele sentiu uma pequena faísca de esperança.

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