Capítulo 3

O dia tinha começado como um verdadeiro caos. Meu corpo me cobrava a conta por ter ficado a noite toda no hospital e, pior ainda, por ter me encharcado na chuva. Um resfriado tinha me pegado, deixando-me com o nariz congestionado, a cabeça pesada e um cansaço que se agarrava aos meus ossos.

Assim que cheguei em casa, troquei de roupa, mas não tive tempo de descansar. Tomei uns comprimidos para o resfriado, esperando que fizessem efeito antes de voltar ao hospital.

Michiru, meu gato, foi o único que me deu as boas-vindas, esfregando-se em minhas pernas com seu ronronar suave.

— Olá, pequeno… sentiu minha falta ou só quer ração? — perguntei com voz rouca enquanto me abaixava para acariciá-lo.

Ele miou em resposta e correu para seu prato vazio, confirmando minhas suspeitas. Sorri, apesar de quão mal me sentia. Amava aquele gato com todo o meu coração. Tinha-o encontrado há anos, abandonado num saco, e desde então tinha sido meu fiel companheiro. Às vezes pensava em quão cruel as pessoas podiam ser com os animais, mas eu nunca conseguiria fazer mal nem a uma mosca.

Preparei um café rápido enquanto meus pensamentos voltavam àquele homem sem memória. O que eu faria com ele? Não sabia quem era, nem de onde vinha. E se eu publicasse sua foto nas redes sociais para que sua família o encontrasse? Talvez alguém o estivesse procurando.

Mas… e se ele estivesse em perigo? E se alguém tentasse matá-lo?

Sacudi a cabeça, sentindo-me boba por pensar em teorias da conspiração. Talvez fosse apenas um homem comum que tinha sofrido um acidente, mas até que ele se lembrasse de sua identidade, a incerteza me corroía.

Suspirei, terminei meu café e saí de casa com a ideia de que tinha que ir ao hospital para vê-lo.

Quando cheguei, fui diretamente ao seu quarto. Empurrei a porta suavemente e o encontrei sentado na cama, observando o chão com a testa franzida.

— Bom dia — disse, aproximando-me com um sorriso amigável. — Como você se sente?

Ele levantou o olhar e soltou uma risada seca.

— Ah, me sinto ótimo por estar aqui — disse com ironia. — Note-se o sarcasmo. Como você acha que me sinto? Não sei quem sou, nem o que me aconteceu.

Não pude evitar sorrir diante de sua atitude.

— Sim, suponho que não é o melhor dia da sua vida.

— Definitivamente não.

Cruzei os braços e o olhei pensativa.

— Enquanto não soubermos seu verdadeiro nome, você se chamará Alexander Thompson — disse. — Vou te dar meu sobrenome até que você se lembre do seu.

Ele arqueou uma sobrancelha.

— Alexander Thompson?

— Sim, soa bem. Além disso, acho que combina com você.

Ele bufou e negou com a cabeça.

— Como quiser. Não tenho como protestar.

Dei de ombros.

— Bem, Alexander… logo lhe darão alta. E como você não tem para onde ir, o que acha de vir morar comigo?

Ele me olhou como se eu tivesse acabado de dizer a coisa mais absurda do mundo.

— Você está me dizendo que um completo desconhecido pode ir morar com você só porque não tem memória?

— Exato — respondi sem hesitar.

Alexander piscou várias vezes.

— Você não tem medo que eu seja um assassino, um psicopata ou algo pior?

Eu ri.

— Se você fosse um assassino, duvido muito. Um cara perigoso não terminaria inconsciente no meio da estrada.

Alexander apoiou os cotovelos nos joelhos e suspirou.

— Não sei se você é confiante demais ou apenas louca.

— Um pouco de ambos, suponho — disse com um sorriso. — Mas, falando sério, você não tem muitas opções agora.

Ele me olhou em silêncio, claramente debatendo-se internamente. Finalmente, soltou um longo suspiro e assentiu.

— Está bem. Aceito sua oferta… por enquanto.

— Perfeito — disse, satisfeita. — Nos vemos mais tarde, tenho que ir trabalhar.

Me despedi e saí do quarto, deixando Alexander imerso em seus pensamentos.

Ele passou as mãos pelo cabelo e olhou para o teto.

— Em que diabos me meti?

Tentou se lembrar de novo, mas tudo em sua mente era um vazio assustador. Não se lembrava de seu nome, sua casa, sua vida… nada. Só sabia que aquela garota, Melisa, tinha salvado sua vida e, por alguma razão, confiava nele sem hesitar.

Ela era estranha. Quem em sã consciência levaria um desconhecido para sua casa? E se ele realmente fosse um criminoso? Nem ele mesmo sabia.

Mas por agora, essa ajuda lhe convinha mais do que nunca.

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